01 Setembro 2017
O Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM) pediu nova investigação sobre a possível chacina de pelo menos nove indígenas que vivem isolados na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
A reportagem é de Izabela Sanchez e publicada por De Olho nos Ruralistas, 31-08-2017.
(Foto: Racismo Ambiental)
É uma resposta à denúncia de indígenas da etnia Kanamari, que aponta o massacre de 9 a 18 membros da etnia Warikama Djapar. A comunidade afirma que o massacre ocorreu em fevereiro, na porção sul da TI e teria sido articulado por um fazendeiro conhecido na região como Louro. A notícia da investigação foi dada pelo Amazônia Real. O site afirma que o caso já era investigado pela delegacia da Polícia Federal de Cruzeiro do Sul (AC). Ao portal, o delegado Fabrício Santos da Silva disse que já há um procedimento aberto, solicitado pelo MPF do município de Tabatinga e pela Coordenação Técnica Local da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de Eirunepé, na divisa com o Acre.
Segundo o portal, o despacho com a solicitação de uma nova investigação foi enviado à Polícia Federal na terça-feira (29). O MPF pede que a apuração seja conduzida pela unidade da PF de Manaus.
De Olho nos Ruralistas revelou essa história em julho: “Índios Kanamari apontam massacre na segunda maior Terra Indígena do Brasil“. Um dos líderes das aldeias inseridas na TI, Adelson Kanamari, relatou o ocorrido:
– Pegando a parte já quase oeste da TI, também tem entrada de fazendeiro, pela parte do município de Eirunepé. A fazenda, a caçada, a entrada de madeira, já passou da linha de demarcação da Terra Indígena. A gente tem informação que os índios isolados, Warikama Djapar (localizados na cabeça do rio Jutaí, São José e Juruazinho), que na nossa língua nós chamamos de índios capivara, estão sempre nessa área, na cabeça de um igarapé do Rio Jutaí. A fazenda está chegando dentro da Terra Indígena e a gente sabe que os parentes neste ano foram atacados por essas pessoas, segundo os Kanamari que habitam lá.
O proprietário conhecido na região como Louro ameaça as comunidades indígenas há algum tempo, segundo Adelson. Além de invadir a TI com a propriedade, ele entra para extrair madeira, caçar e pescar. O local onde a chacina teria ocorrido fica próximo de Eirunepé. O indígena conta que foi um dos colegas do proprietário que relatou o massacre. A Funai está à procura da pessoa, que teria fugido da região.
Ainda de acordo com o Amazônia Real, há investigações na região do Rio Jandiatuba, afluente do rio Solimões, onde a base da Funai está desativada por falta de recursos. A Funai declarou ao site que a área do Jandiatuba também tem registro de outro grupo de índios isolados, ameaçado pelo garimpo ilegal.Outros dois procedimentos, conforme o portal, já haviam sido instaurados pelo MPF. Um deles para investigar o agravamento da situação de vulnerabilidade dos povos indígenas em razão de extinção de cargos da Funai. O outro acompanha medidas de assistência ao povos de recente contato, como os Tyohom Djapar, que vivem com os Kanamari da aldeia Jarinal, também na Terra Indígena Vale do Javari.
A TI Vale do Javari tem 8,5 milhões de hectares – quase o tamanho de Portugal – e abrange, segundo lideranças Kanamari, cerca de cinco etnias: Kanamari, Kulina, Matis, Marubo e Mayuruna. Esses povos estão distribuídos no território pelo estado do Amazonas, na fronteira com o Acre, com o Peru e a Colômbia. A segunda maior Terra Indígena do Brasil detém, segundo pesquisadores, a maior concentração de índios isolados do mundo.
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MPF pede nova investigação de chacina de índios isolados na Terra Indígena Vale do Javari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU