06 Julho 2017
A Inteligência Artificial - IA irá substituir o trabalho do homem e dos embriologistas? É a pergunta que tentam responder os pesquisadores que acabam de apresentar um estudo no trigésimo terceiro congresso da ESHRE, a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, realizado em Genebra.
A reportagem é de Elvira Naselli, publicada por Repubblica, 04-07-2017.
Por que os embriões considerados morfologicamente de boa qualidade não são implantados no útero e, consequentemente, não levam a uma gravidez em grande parte dos casos, em taxas que variam de 30 a 60 por cento? É a pergunta que tentam responder os pesquisadores que acabam de apresentar um estudo no trigésimo terceiro congresso da ESHRE, a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, realizado em Genebra. A resposta não é única, é claro. Em primeiro lugar, as anomalias cromossômicas, principalmente devido à idade avançada da mulher, não podem ser vistas a olho nu. E, em seguida, entra em jogo o fator humano com grande variabilidade de um operador para outro e até mesmo no mesmo operador.
Dificuldades que, de acordo com José Celso Rocha, professor da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), podem ser resolvidas usando a inteligência artificial, ou seja, eliminando a variável humana no julgamento sobre a qualidade do embrião. Mais ainda, durante o acompanhamento daquele processo que é chamado de time-lapse e que permite aos embriologistas observar o desenvolvimento do embrião com fotos consecutivas em diferentes planos por cerca de cinco dias e a cada 5-10 minutos.
Confiar a análise dessas imagens a uma máquina permitiria - de acordo com Rocha - um controle uniforme, uma repetibilidade de resultados e uma precisão que o olho humano dificilmente seria capaz de garantir, pela multiplicidade de variáveis que entram em jogo, começando pela fadiga, a rotina e o stress, que a máquina obviamente não sofre. O computador, portanto, graças a um algoritmo matemático, seria capaz de classificar as imagens "aumentando o valor preditivo sobre o quanto um único embrião poderia ser funcional e, assim, prever melhores chances de gravidez".
Para demonstrar que a inteligência artificial é melhor que o olho humano foram analisados 482 embriões bovinos de sete dias, utilizados para "ensinar" à máquina o que procurar e como fazê-lo. Os resultados mostraram uma precisão de 76 por cento. As máquinas, então, poderão substituir os embriologistas?
"Absolutamente não - argumenta Laura Rienzi, presidente da Sierr, o instituto italiano de pesquisa, embriologia e reprodução, e diretora do laboratório dos centros Genebra, que também apresentou uma palestra justamente sobre automação - porque os embriologistas desempenham outras funções no laboratório. Mas a vantagem de trazer a inteligência artificial para o laboratório é a repetibilidade dos resultados, que não varia de acordo com os operadores e os diferentes laboratórios. Esta é uma garantia para o paciente. Reduzir o trabalho manual nos laboratórios de reprodução assistida só pode ser positivo”.
Para comprovar sua afirmação, Rienzi cita dados de alguns estudos randomizados. "Nos melhores centros do mundo - explica - a taxa de sobrevivência dos ovócitos vitrificados varia de 74 a 92 por cento, a dos embriões de 70 a 95. As diferenças são enormes e ligadas a vários fatores que podem variar de laboratório para laboratório e até mesmo nos diferentes horários dentro de um mesmo laboratório: a temperatura, o tempo de exposição do embrião ao agente crioprotetor e a viscosidade do próprio crioprotetor. E, claro, a variável humana. Se tudo isso for feito por uma máquina - já está no mercado o Gavi (produzido pela Merck) que vitrifica embriões e ovócitos semiautomaticamente – vamos supor que mesmo que tenha um sucesso de 80 por cento, será esta taxa de 80 por cento a qualquer hora, em qualquer lugar". E além desses equipamentos já estão disponíveis máquinas (mas não todas utilizadas nos laboratórios) para a avaliação dos espermatozoides, para a rastreabilidade das células ou para a ICSI robótica, a técnica em que um único esperma é injetado dentro de um óvulo.
Enquanto isso, Rocha, em colaboração com a Boston Clinic de Londres, está começando a testar o dispositivo em embriões humanos, a fim de "construir" as regras para a classificação do próprio embrião. Embora a morfologia também seja um fator-chave na avaliação da viabilidade do embrião e de seu estado de saúde, outras pesquisas ainda são necessárias, tais como o diagnóstico genético pré-implantação. Se tudo correr bem em cerca de um ano a inteligência artificial vai entrar nos laboratórios. Mesmo que subsista o problema dos custos, que provavelmente nem todos os laboratórios estarão em condições de comportar. "O futuro é a parte do laboratório que cabe em um chip - conclui Rienzi - possível de ser carregada para todo lugar, para garantir a mesma competência em qualquer lugar, seja na Europa como na África".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Procriação, a Inteligência Artificial à procura de uma gravidez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU