02 Março 2017
“Quanto sei, não há um motivo específico que levou Marie Collins à demissão. Trata-se de um conjunto de múltiplas desilusões, a frustração pelo trabalho que anda demasiadamente devagar”.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 02-03-2017. A tradução é de IHU On-Line.
Hans Zollner, jesuíta, preside o Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana, diretor do Centro para a proteção da infância da mesma universidade e membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, instituída pelo papa Francisco, e trabalhou durante três anos em estreito contato com Marie Collins, a vítima de abusos sexuais cometidos por um padre, que se demitiu da Comissão instituída pelo papa para o combate aos abusos sexuais contra crianças.
Eis a entrevista.
Padre Zollner, as acusações de Collins são muito pesadas. O que o senhor pensa?
Creio que o problema principal seja uma certa lentidão do trabalho vaticano no que diz respeito às expectativas de Collins. Por isso decidiu pela demissão. Para ela era intolerável que os tempos fossem tão longos, que a certas perguntas não se davam respostas. Mas nas declarações que fez se compreende como o seu “não” não é um ato que renega o Vaticano.
Em que sentido?
A própria Collins acredita neste trabalho, no trabalho da Comissão. Tanto é que se dispôs a girar o mundo, e até mesmo os dicastérios romanos, para falar da sua experiência. Continuará a colaborar conosco. Ela mesma o deseja. E este é um dado importante.
Quando ela decidiu se demitir?
Ela comunicou a decisão ao presidente da Comissão, o cardeal Sean O’Malley, no último dia 13 de fevereiro, anunciando que as demissões seriam tornadas públicas no dia 1º de março. Ontem mesmo, O’Malley publicou uma declaração na qual, em nome de todos os membros da Comissão instituída pelo papa Bergoglio para reforçar a tutela dos menores em relação aos abusos, exprime “o agradecimento sincero pelo extraordinário serviço dado como membro fundadora da Comissão”. O’Malley também disse que certamente ouviremos atentamente tudo o que Marie desejar compartilhar conosco a respeito das suas preocupações e nos fará muita falta a sua contribuição como membro da Comissão”.
Collins fala de um amplo documento que deixou na Comissão. A que ela se refere?
Penso que ela se refira às linhas-guia gerais que elaboramos conjuntamente e que gostaríamos que valessem para todas as conferências episcopais. Este documento está ainda em estudos e provavelmente ela se refira a isso.
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A Igreja e o caso pedofilia. Zollner: “Mary se desiludiu com a lentidão da comissão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU