14 Fevereiro 2017
A menos de uma semana das eleições presidenciais, o escândalo Odebrecht na América Latina é um dos temas da campanha eleitoral no Equador.
Desde que o Departamento de Justiça dos EUA anunciou que a empreiteira brasileira teria pagado US$ 33,5 milhões em propinas a autoridades equatorianas entre 2007 e 2016, governo e oposição disputam um modo de prejudicar um ao outro com acusações.
A reportagem é de Sylvia Colombo, publicada por Folha de S. Paulo, 14-02-2017.
Como o período da denúncia atinge em cheio o mandato do atual presidente, Rafael Correa, no poder desde 2007, a questão vem prejudicando, segundo analistas ouvidos pela Folha, seu candidato, Lenín Moreno, que foi seu vice no primeiro mandato e tem 35% das intenções de votos para o pleito, no próximo domingo (19).
Há meses, Moreno não consegue sair desse patamar — no Equador, é preciso ter ao menos 40% dos votos e dez pontos de distância do segundo colocado para ser eleito no primeiro turno.
O mau desempenho da economia e os escândalos de corrupção são apontados como razões do estancamento de Moreno. Segundo pesquisa do instituto Cedatos, a corrupção é a segunda maior preocupação dos equatorianos (18%), só atrás da crise e o desemprego (54%).
Enquanto isso, a oposição pressiona para que as investigações sobre o caso Odebrecht se acelerem.
Para o parlamentar Fernando Bustamante, dissidente do Alianza País, partido de Correa, "a impressão é que, em outros países, as coisas estão indo mais rápido". "Surpreende que a Procuradoria equatoriana se mostre tão lenta em buscar recolher informações."
Com ele concorda um dos candidatos oposicionistas à Presidência, Guillermo Lasso: "Na Colômbia, há investigação, interrupção de obras e funcionários presos. No Peru, três ex-presidentes foram convocados a depor. Já, aqui, Correa não permite que a Justiça atue. Este país precisa de um banho de verdade."
Já do lado do governo, Correa nega que tenha "permitido nenhuma obra que significasse prejuízo ao país". "Se houve comportamentos pessoais inapropriados somos os primeiros a querer identificar os responsáveis."
Enquanto isso, a Procuradoria afirma ter pedido auxílio da Justiça brasileira, dos Estados Unidos e das autoridades da Espanha.
Nesse país europeu, está preso Rodrigo Tecla Durán, acusado de operar "offshores" a serviço da empreiteira brasileira no Equador.
A Procuradoria espanhola aceitou o pedido e indagará Durán sobre suas ações no país. O procurador-geral, Galo Chiriboga, diz que obteve nos EUA "informação básica para começar a trabalhar", mas que esta ainda seria mantida em sigilo e que espera o surgimento de mais delações no Brasil.
"Tudo anda muito lento, e a imprensa tradicional, que foi destruída nos anos Correa, não pressiona. Tudo o que sai sobre o caso Odebrecht sai por meio de blogs e sites de jornalistas que saíram da grande imprensa. Correa não quer que se investigue nada antes da eleição", diz à Folha o jornalista Roberto Aguilar, do site político 4pelagatos.com, hoje o mais reconhecido do país.
No período apontado pelo Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht finalizou a construção da hidroelétrica San Francisco e participava de outras quatro obras estatais no Equador.
A oposição pede que a Justiça equatoriana investigue, também, o que ocorreu para que a Odebrecht, expulsa do país em 2008 por "irregularidades", segundo o governo, tenha retornado em 2010. A Procuradoria apura se houve pagamento de propinas para permitir essa volta.
No último fim de semana, um novo episódio esquentou a novela, colocando no caso o irmão de Correa, Fabricio, com quem o presidente mantém uma desavença pessoal e jurídica.
A partir de uma conta de origem desconhecida numa rede social cujo nome é OdebrechtLeaks, divulgou-se uma gravação em que Fabricio aparece dizendo que o irmão havia recebido propina da Odebrecht para sua campanha.
Informado do vazamento dessa gravação, horas antes, Correa também divulgou uma mensagem em vídeo pelas redes sociais, dizendo que a acusação do irmão era falsa e que "Fabricio era muito amigo da Odebrecht, mas eu nunca me meti nessas coisas".
"Nunca estive de acordo com o modo como ele fazia negócios, tratando mal seus empregados e não pagando impostos. Conheci os empresários da Odebrecht em 2005, quando era ministro de Economia, depois nunca mais os vi", declarou.
Correa acrescentou que a Odebrecht está no Equador desde os anos 1980, e que, portanto, é preciso investigar, também, os governos que o precederam. Ele afirma que focar só em sua gestão revela "intenção política de prejudicar o resultado eleitoral".
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Caso de propina da Odebrecht afeta eleições presidenciais no Equador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU