14 Janeiro 2017
Com uma carta aberta sobre o estado da Igreja e sobre a função sacerdotal na Alemanha, 11 padres ordenados em 1967 dirigiram-se ao clero e à opinião pública expressando propostas de reforma.
A carta foi publicada no sítio Domradio.de, 10-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No período rico de esperanças do Concílio Vaticano II, a partir de 1961 começamos os estudos de teologia. Desde que saímos do seminário em 1967, encontramo-nos normalmente uma vez por mês, fizemos Exercícios juntos, cursos de formação e viagens. No dia 27 de janeiro de 2017, exatamente 50 anos depois que a maioria de nós foi ordenado presbítero pelo cardeal Josef Frings na catedral de Colônia, queremos celebrar a nossa missa de ação de graças na Maxkirche de Düsseldorf, onde fomos ordenados diáconos.
- Quando decidimos estudar teologia, o Papa João XXIII, surpreendendo a todos, havia escancarado as janelas da Igreja. O mundo estava surpreso, e nós nos sentíamos parte de uma vanguarda de uma cristandade em renovação. Infelizmente, mais tarde, pouco a pouco, aumentaram os medos nos homens da Igreja, tanto em Roma quanto também na diocese de Colônia. Uma espécie de “mentalidade de bunker” deveria salvaguardar a fé. E quem, então, gritou: não tenham medo?
- Apesar disso, a nossa Igreja teve uma evolução. Através de uma “obediência preventiva” nas paróquias, hoje, tornou-se óbvio ou tolerado ou até mesmo reconhecido pela Igreja oficial aquilo que nós, na época, defendemos e promovemos com todas as nossas forças. Com o tempo, porém, ficou evidente que as reformas litúrgicas não prosseguiam no mesmo ritmo que uma análise nova e aprofundada da Bíblia. Tivemos que aprender a fazer o nosso caminho, mesmo com algumas decepções. Em tais situações, muitas vezes, foram as comunidades que nos deram a força para não perder a coragem.
- Deprime-nos o fato de que a questão-Deus não tem mais nenhuma importância para muitas pessoas no nosso país. Além disso, constatamos que os resultados dos estudos mais recentes sobre a Bíblia e sobre a historicidade da nossa Igreja não se tornaram um bem comum na fé dos cristãos. O novo entusiasmo pelo Evangelho que o Papa Francisco quer despertar novamente com a palavra-chave “misericórdia” parece ser atraente apenas para poucos até agora. Isso pode nos tornar resignados e cansados.
- O que particularmente nos deixa mal é que, fora do “período da primeira comunhão”, não há mais crianças ou famílias jovens participando da missa. E muitos adolescentes e adultos, se alguma vez participaram da vida das nossas comunidades, fazem-no apenas em momentos específicos, depois que nós, durante décadas, nos comprometemos justamente pelas famílias jovens.
- Na nossa sociedade, na cultura, na política e na economia, notamos muito pouco – e, como cristãos e como Igreja, deixamos transparecer muito pouco – a força que poderia vir de Jesus Cristo. Muitos cristãos se calam em vez de se pronunciar de modo forte e claro pela sua fé.
- Diante do crescente número de muçulmanos na Alemanha, devemos mostrar o nosso rosto cristão e nos fortalecer para o diálogo. Acima de tudo, é necessário o diálogo espiritual, para que o espírito da Bíblia encontre o espírito do Alcorão e encontre palavras e réplicas por esclarecimento e aproximação. Mas a atual crise na vida de fé também esconde também oportunidades! Sem nos deixar separar da esperança que o Evangelho nos dá (cf. Cl 1, 23), pensamos concretamente em sete orientações para o futuro.
1. Precisamos de uma linguagem que, hoje, no anúncio da mensagem bíblica, seja novamente compreensível. A linguagem da Bíblia deve ser relacionada de forma mais clara com as nossas experiências e as nossas imagens linguísticas. Trata-se de entrar em diálogo com ela e com as suas imagens de maneira nova e atual.
2. Consideramos importante encorajar as hierarquias da Igreja a valorizar os dons do espírito dos homens e das mulheres, e não selá-los com leis canônicas. Os homens e as mulheres devem ser encorajados a frutificar os seus talentos.
3. Precisamos urgentemente de tentativas corajosas na questão da admissão à ordenação. Em nossa opinião, não tem nenhum sentido continuar rezando ao Espírito Santo para que envie vocações presbiterais e, ao mesmo tempo, excluir todas as mulheres desses cargos.
4. Precisamos de coragem e de confiança no fato de que o Senhor está muito acima das nossas controvérsias confessionais. A participação na Eucaristia e na Ceia do Senhor só pode ser confiada à responsabilidade dos cristãos batizados.
5. Precisamos de uma mudança de orientação no planejamento pastoral. As hierarquias da Igreja deixaram o sistema existente entrar em colapso diante dos nossos olhos. As paróquias muito extensas, de todos os pontos de vista, são algo intolerável: os fenômenos de crescente anonimato e isolamento presentes na sociedade, desse modo, são ainda mais aumentados na Igreja, em vez de serem combatidos. É necessário que a Igreja esteja presente e fale localmente. A direção da paróquia não deve estar em uma central distante, mas “lá onde está o campanário, e onde os sinos tocam”. É útil que existam redes de relações que vão além da comunidade individual, como a Cáritas, comunidades jovens ou grupos de música sacra.
6. São necessários lugares grandes e pequenos para as comunidades que fazem experiência de fé, isto é, a Igreja com o centro da paróquia. A morte da paróquia não está absolutamente pré-programada se os fiéis in loco existem e vivem ali. Podemos aprender com as reflexões e os projetos implementados, por exemplo, na Áustria e na França.
7. Por fim, queremos falar da experiência da solidão. Envelhecendo como solteiros, a solidão, então imposta por motivos de “trabalho”, agora, depois de 50 anos de missão, é sentida por nós às vezes muito claramente. O celibato, em uma vida comunitária de convento, pode liberar grandes forças; em vez disso, o “modelo do homem sozinho” leva esse homem repetidamente a um isolamento estéril e/ou a um inútil excesso de trabalho. Raramente, libera uma fonte espiritual na pastoral. Não é por acaso que muitos de nós assumiram, mas não escolheram, essa forma de vida clerical apenas para poderem ser padres. Até mesmo na Bíblia não há palavras de apoio a uma lei da Igreja a esse respeito. O motivo de reflexão pode ser uma citação da Escritura, estímulo para uma revisão em favor da vida e da comunidade: “É preciso, porém, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma única mulher...” (1Tm 3, 2).
Os signatários:
Wolfgang Bretschneider
Hans Otto Bussalb
Gerhard Dane
Franz Decker
Günter Fessler
Willi Hoffsümmer
Winfried Jansen
Fritz Reinery
Josef Ring
Josef Rottländer
Heinz Schmidt
Klaus Kümhoff
Erhard März
Horst Pehl
Josef Rosche
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Sete orientações para o futuro dos padres e a reforma do sacerdócio. Carta aberta de padres alemães ordenados em 1967 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU