Vitória de Trump, mais uma fonte de incerteza para a economia brasileira

Imagem: reprodução Twitter

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Novembro 2016

A inesperada vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos trouxe à tona novas incertezas sobre o futuro da política externa da maior potência do mundo com o resto do globo. No caso do Brasil, especialistas ouvidos pelo EL PAÍS apostam que a relação dos dois países não deve sofrer grandes alterações, mas ressaltam que a economia brasileira, que já enfrenta uma recessão histórica, sentirá alguns efeitos indiretos com a chegada do republicano à Casa Branca.

A reportagem é de Heloísa Mendonça, publicada por El País, 10-11-2016.

A forte política protecionista defendida por Trump durante sua campanha deve ser a que mais afetará o comércio mundial e, consequentemente, o Brasil. "Trump quer criar milhões de empregos no país e reduzir o déficit americano nas transações com o resto do mundo, o que inclui o Brasil. Nesse caso, ou teríamos que importar mais deles ou exportar menos. Ainda há risco de alguma política de restrição para o exportador", vislumbra José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Hoje, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e recebem 20% das exportações brasileiras, atrás da China, que é o principal destino de produtos brasileiros. Para Augusto Castro, como Trump vem defendendo uma guerra comercial contra a "concorrência desleal da China", toda a dinâmica do comércio mundial deve ser alterada com reflexos na América Latina e no Brasil.

Não há clareza ainda de quais serão as reais ações de Trump e sua equipe econômica - ainda não revelada-, mas acordos e negociações com outros países têm grande probabilidade de serem inviabilizados, já que serão revistos pelo republicano. "A chegada de Trump reduz, por exemplo, a possibilidade do Mercosul aprovar um acordo de comércio com os EUA", explica Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP. A decisão afetaria fortemente a agenda de retomada de crescimento da economia brasileira do presidente Michel Temer, que aposta na aber tura do comércio para impulsionar a atividade econômica.

A grande dúvida agora é qual comportamento o republicano adotará em seu mandato no próximo ano: o agressivo e de tom protecionista da campanha ou o da linha conciliadora adotada no discurso da vitória. "Não é incomum pessoas que fazem uma campanha prometendo algo e depois fazer outra coisa. Mas é inevitável que, em uma nova dinâmica comercial, vamos ter que nos tornar mais competitivo e reduzir o chamado custo Brasil, o que pode ser visto como positivo", explica João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que o Brasil poderá "ter problemas" no setor de exportações caso o presidente eleito adote de fato uma postura "protecionista". O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, também admitiu nesta quarta-feira que o discurso de Trump "é uma preocupação". Segundo Pereira, passada a eleição norte-americana, é hora de "aguardar observando", as medidas e o tom do novo mandatário.

O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, também está de acordo com a necessidade de entender quem exatamente é o novo presidente e quais as suas verdadeiras intenções. Para o ele, provavelmente o banco central americano, FED, deverá postergar ainda mais um alta de juro, evitando criar mais ruído e volatilidade no mercado financeiro.

A maior percepção de risco das futuras políticas de Trump também podem impulsionar uma tendência de alta do dólar frente à moeda brasileira, como ocorreu nesta quarta-feira. A vitória do republicano fez o dólar abrir o dia em alta de mais de 2% frente ao real e chegou a ser vendida a 3,25 reais. "Essa desvalorização do real pode fazer com que a taxa de juros caia mais lentamente ou nem caia também. Podemos ter também uma inflação maior do que a esperada", explica Augusto Castro. Ainda segundo o presidente da AEB, a instabilidade gerada pelo mandato de Trump pode influenciar também na queda dos preços das commodities, o que ainda afetaria negativamente a economia brasileira. "O alcance e a duração das reações dos mercados dependerão da atitude de Trump quando tenha o poder nas mãos", disse Harm Bandholz, economista-chefe do UniCredit nos EUA.

Em tom mais ponderado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, procurou passar tranquilidades aos mercados ao afirmar que a economia brasileira tem força para driblar as oscilações derivadas à vitória de Trump. "O Brasil está preparado para lidar com qualquer volatilidade dos mercados resultante das eleições presidenciais nos Estados Unidos", afirmou o ministro por meio de nota.

Leia mais