Por: André | 14 Abril 2016
O cardeal Burke, o capitão da dissidência ao Papa, escreveu um artigo sobre a Amoris laetitia para a página católica estadunidense National Catholic Register. Ele está muito preocupado com uma recepção clara e fiel da exortação apostólica.
A reportagem é de José Luis Ferrando e publicada por Religión Digital, 13-04-2016. A tradução é de André Langer.
Em um tom familiar nos recorda o que viveu em sua infância sobre um casamento de vizinhos, que iam à missa, mas nunca comungavam, porque não estavam casados pela Igreja. Também nos relata a sua experiência como sacerdote e bispo nas questões relativas ao matrimônio e à família. Tudo para adornar a afirmação de que a exortação apostólica Amoris laetitia não é magistério papal.
Para fundamentar sua afirmação, faz uma leitura parcial e tendenciosa do número 3 da Amoris laetitia: “Recordando que o tempo é superior ao espaço, quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e de práxis, mas isto não impede que subsistam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Isto acontecerá até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), ou seja, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e possamos ver tudo com seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais, porque ‘as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral [...], se quiser ser observado, precisa ser inculturado’”. O Papa não está dizendo que são reflexões pessoais suas, senão não teria escrito uma exortação apostólica.
As palavras do próprio Burke o desqualificam. “Enquanto o Romano Pontífice tem reflexões pessoais que são interessantes e podem ser fonte de inspiração, a Igreja deve estar sempre atenta a assinalar que sua publicação é um ato pessoal e não um exercício do magistério papal”. Para isso teria escolhido uma entrevista.
Seu afã de protagonismo, revestido de boa vontade, leva-o à ignorância supina e irresponsável, já que induz intencionalmente à confusão, a partir do seu cardenalato, já que assina o artigo como cardeal. Eminência: o que é uma exortação apostólica? Neste caso, as dos outros papas também não são magistério? São apenas reflexões pessoais? Deveria rever sua teologia fundamental. Provavelmente, o Direito Canônico o confundiu.
Seu ministério eclesial teria que estar acima de sua dissidência ou resistência pessoal. Espero que tenha avaliado sua liberdade de expressão e o dano que possa provocar a muita gente. Permito-me recordar-lhe, Eminência, estas palavras do Papa Francisco aos meios de comunicação: “Faço um apelo sobretudo a quantos têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre atentos ao modo de se expressar quando se referem a quem pensa ou age de forma diferente ou a quem cometeu erros. É fácil ceder à tentação de aproveitar estas situações e alimentar desse modo as chamas da desconfiança, do medo e do ódio”.
Evidentemente, penso de maneira diferente de você, e tento claramente recordar-lhe sua responsabilidade de pastor a serviço da Igreja. E suas palavras não prestam nenhum serviço à Igreja, muito pelo contrário. A exortação apostólica Amoris laetitia é um documento oficial do magistério papal. Você sabe muito bem qual é a qualificação deste tipo de documento pontifício. Não fira a nossa inteligência, recordando a polêmica a propósito das conversas entre Paulo VI e Jean Guitton em 1967. Aí, como nas entrevistas, está claro que são reflexões pessoais do Papa, muitas vezes improvisadas. Mas não um documento, fruto de dois Sínodos.
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Burke! Burke! O capitão da dissidência ao Papa, contra a Amoris laetitia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU