21 Janeiro 2017
Donald Trump toma posse nesta sexta-feira com planos que, em alguns casos, alteram por completo o rumo seguido pelo Presidente que cessa funções, Barack Obama, e pelos seus antecessores republicanos. Alguns têm o potencial de reabrir velhos conflitos armados — caso do israelo-palestiniano. Outros arriscam problemas novos em zonas estratégicas para o equilíbrio mundial — o Pacífico. Estes são alguns dos mais polêmicos.
A reportagem é de Clara Barata, Rita Siza, João Ruela Ribeiro e Maria João Guimarães, publicada por Público, 19-01-2017.
Donald Trump prometeu mudar a embaixada americana em Israel de Telavive para Jerusalém — algo que seria “um ataque contra todos os muçulmanos do mundo, e não apenas contra os palestinianos”, afirmou o grande mufti da mesquita de Al-Aqsa, na cidade santa das três religiões monoteístas. A mudança equivaleria a reconhecer a reivindicação de Israel, que considera Jerusalém como capital indivisível. David Friedman, que Trump nomeou embaixador, defende a expansão dos colonatos e opõe-se à solução dos dois Estados. É provável que vá trabalhar para Jerusalém — a partir de um hotel ou do consulado, declarando-o a nova embaixada. Construir um edifício de raiz pode levar até quatro anos, diz o Washington Post.
Mas a Administração Trump teria de lançar, ao mesmo tempo, negociações de paz entre israelitas e palestinianos com redobrado vigor, nota o ex-embaixador em Telavive Martin Indyk no New York Times. Se não, “incitaria uma explosão de fúria entre os palestinianos. Embaixadas e cidadãos americanos em países muçulmanos tornar-se-iam alvos de violência”, alerta.
Foi com o dedo no Twitter que Donald Trump compôs a política económica, fiscal e de emprego da sua Administração.
Usou-o para fazer anúncios de revisão dos tratados comerciais; ameaças de retaliação contra empresas americanas e estrangeiras que não invistam nos EUA; prometer novas barreiras alfandegárias e outras medidas protecionistas; jurar baixas de impostos ou do fim do quadro regulatório que diz constranger a atividade económica.
Tudo iniciativas que, assegura, vão tornar a indústria americana “grandiosa outra vez”, promover o emprego e aumentar a riqueza. Algumas destas medidas competem à Casa Branca, outras ao Congresso — o que Trump não disse é que a ação directa do Presidente na condução da economia é limitada. Mas antes de tomar posse, já se congratulou pelo seu sucesso: garantiu ontem no Twitter que empresas como a Ford, General Motors, Carrier, Lockheed ou Bayer se comprometeram a lançar investimentos nos EUA em vez de outros países depois de falarem com ele. “Voltaram todos por minha causa”, escreveu.
Donald Trump prometeu construir um muro para travar a imigração ilegal proveniente do México, e obrigar o México a pagar por ele, ou pelo menos a reembolsar os EUA pela construção, paga com o Orçamento federal. Uma parte dos 3200 km da fronteira dos EUA com o México já está protegida por barreiras, mas, ainda assim, os custos podem chegar a 25 mil milhões de dólares, diz o Washington Post. É uma fortuna, mas o Congresso, dominado pelos republicanos, está a procurar formas de incluir o financiamento da construção do muro de Trump no próximo Orçamento, que tem de estar aprovado até Abril. Se houver um bloqueio neste processo, todos os serviços do Governo encerram, porque deixa de haver dinheiro. Mas só 39% dos norte-americanos consideram a construção do muro na fronteira do México como um objetivo importante para o controlo da imigração ilegal. Um estudo do Instituto Pew diz que 58% dá maior prioridade ao aumento das deportações de pessoas a trabalhar sem visto nos EUA, outra bandeira da campanha de Trump.
Se há coisa em que Donald Trump e o Partido Republicano concordam é que é preciso acabar com o programa de saúde. E se há coisa em que Trump e a bancada conservadora não se conseguem entender é sobre como desmantelar o Obamacare.
Poderá ser este o primeiro grande confronto entre a Casa Branca e o Congresso: mal começou a legislatura, a nova maioria percebeu como vai ser complicado — sobretudo politicamente — cumprir o seu compromisso eleitoral: sem alternativa viável, a revogação da lei deixará mais de 20 milhões de pessoas de fora do sistema de saúde. Trump diz que tem uma proposta, “muito barata”, para alargar a cobertura médica a todos os americanos, com prémios de seguro “significativamente mais baixos”. Ainda não apresentou o seu plano mas já exigiu que seja adoptado pelos republicanos (para ser aprovado, precisa também do voto de democratas). “Vai ser aprovado, não vou dizer como, mas vai ser”, garantiu Trump ao Washington Post.
A perspectiva de um braço de ferro político com o Congresso parece bem real, já que Trump mostra que que não está disposto a ceder a iniciativa política.
Donald Trump acusou Pequim durante a campanha de desvalorizar de forma artificial a sua moeda — apesar de dados recentes mostrarem que é o contrário que se tem registado. Já depois de eleito, falou directamente com a Presidente de Taiwan, pondo em causa o princípio que norteou as relações diplomáticas entre os EUA e a China desde o final dos anos 1970. A composição da sua Administração — que inclui numa das pastas económicas um crítico da China de longa data — mostra que Trump está empenhado em continuar a linha de confronto, que pode materializar-se militarmente nas águas do Pacífico. A diplomacia chinesa tem mantido uma postura de contenção e espera para ver o que se segue. Mas não espera sentada. Os media estatais têm sido ferozes com Trump, que acusam de infantilidade. E convém lembrar que a China é a maior detentora de dívida pública norte-americana.
A reaproximação a Moscou parece ser uma pedra basilar da política externa de Donald Trump. Barack Obama também o tentou no início da sua presidência, embora com menos elogios a Vladimir Putin. O objetivo de Trump parece ser o de encontrar terreno comum em alguns temas, sobretudo a luta contra o terrorismo. O problema é tudo aquilo que Trump diz estar disposto a negociar para obter o que quer, e que passa por um potencial alívio das sanções económicas impostas por causa da anexação da Crimeia, ou a redução do apoio militar ao Leste da Europa, no quadro da NATO — organização “obsoleta”, de acordo com Trump. No prazo mais curto, o novo Presidente americano terá de indicar como pretende lidar com Moscou à luz das acusações dos serviços secretos, que a partir desta sexta-feira passa a controlar, de que o Governo russo orquestrou uma campanha de interferência nas eleições presidenciais nos EUA.
Como Barack Obama não conseguiu que o Congresso aprovasse leis para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) que aumentam o efeito de estufa, Obama usou a Agência de Proteção Ambiental (EPA) para estabelecer o valor máximo que as centrais eléctricas a carvão, por exemplo, podem emitir. Esta estratégia está a ser contestada nos tribunais, e o homem escolhido por Donald Trump para liderar a EPA, Scott Pruitt, apoiou estas ações, enquanto procurador-geral estadual do Oklahoma. Pruitt recebeu também apoio financeiro da indústria petrolífera. Apesar de 59% dos americanos desejarem leis de controlo ambiental mais duras, a maioria republicana prepara-se para banir os limites impostos a nível federal das emissões nas centrais térmicas. Passar o controlo aos estados deve ser a palavra de ordem, tanto nas alterações climáticas como noutros problemas ambientais. E resta a interrogação sobre se Trump sairá de facto do Acordo de Paris para limitar as alterações climáticas, que entrou em vigor no fim de 2016, como ameaçou.
O acordo nuclear que Teerã assinou com uma série de países não vai ser alvo de renegociação, disse esta semana o Presidente Hassan Rouhani. O Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, classificou este acordo como “horrível” e tem ameaçado acabar com ele ou renegociá-lo. Mas o Presidente iraniano acha que estas palavras de Trump são apenas “propaganda. O acordo foi assinado pelo Irão, EUA, União Europeia, China e Rússia e está consagrado numa resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo Obama, o acordo impede que Teerã chegue rapidamente a uma bomba — desde que entrou em vigor, o Irão já reduziu significativamente o seu stock de urânio, por exemplo. Quando se assinalou um ano do acordo em vigor, na segunda-feira, Obama deixou um aparente aviso a Trump: “O acordo com o Irão tem de ser visto tendo em conta as alternativas. Uma resolução diplomática que impeça o Irão de obter uma bomba nuclear é preferível a um programa nuclear sem controlo ou outra guerra no Médio Oriente.”
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As oito promessas de Trump que ameaçam mudar o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU