Ernesto Cardenal na oração inter-religiosa desta semana

Retrato de Solentiname produzido pela população local| Imagem: @guillaumebur / Twitter

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

07 Outubro 2016

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Eu tive uma coisa com ele


Reprodução de Solentiname (Foto: Pinterest)

No centro de nosso ser
não somos nós,
mas outro.
Se o ferro do meu sangue
é o mesmo dos trilhos,
meu cálcio o dos alcantilados
onde está Deus meu
este eu meu que te ama?
Parte de tua ternura, eu sinto,
são estas partículas que eu tenho.
Doçura de saber que me fizeste.
Deus dos números absurdos,
do dementemente grande
e do dementemente pequeno.
Se é infinito
também será infinita loucura
espontaneidade infinita.
Que um dia tu e eu nos acariciemos
como o fazem com olhos cerrados
gemendo os amantes,
num lugar infinito
e numa data eterna
mas tão real como dizer
esta noite às 8.

Fonte: Ernesto Cardenal. Cântico Cósmico. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 389.


Ernesto Cardenal (Foto: Jorge Mejía Peralta | Flickr)

Ernesto Cardenal(Granada, Nicarágua, 1925). É escritor, sacerdote trapista, político nicaraguense e ícone da Revolução Sandinista. Poeta revolucionário, reflexo de seu radicalismo pessoal, denunciando o sofrimento e a exploração do seu país, é conhecido pela sua obra "El corno emplumado". Viveu politicamente comprometido com os conflitos sociais de seu país, onde desde 1954 participou nas lutas contra o ditador Somoza, sendo depois ordenado sacerdote. Residiu de 1957 a 1959 nos Estados Unidos, onde teve como orientador de monastério Thomas Merton, que, prematuramente, em 1966, escreveu que Cardenal era “um mestre espiritual", esculpido com o “sinal da sabedoria e a humildade do amor”. No seu retorno fundou a comunidade na ilha de Solentiname.

Também foi teólogo da libertação, ideias que aparecem nos seus textos de 1964 e 1965. Com a chegada dos sandinistas ao poder, integrou a Junta de Governo como Ministro da Cultura. Seis anos depois, em 1985, foi suspenso "a divinis" pelo Vaticano, que considerou incompatível a sua missão sacerdotal com o seu novo cargo político.

Considerado um dos mais importantes poetas latino-americanos vivos,  teve suas obras publicadas em 20 idiomas e em mais de 200 edições. Entre elas, destacamos A cidade desabitada, Hora Zero, Getsemany KY, Salmos, Oração por Marilyn Monroe e outros poemas, O estreito duvidoso, Vida no amor, Homenagem aos índios americanos, Cristianismo e Revolução, A santidade na revolução e Em Cuba.

Cardenal foi candidato ao Prêmio Nobel de Literatura e, entre outras distinções, recebeu o Prêmio Rubén Darío (1965), o mais importante das letras nicaraguenses, a Ordem cubana "Haydeé Santamaría" (1990), o Prêmio da Paz dos livreiros alemães (1980), o Prêmio Legião de Honra (2013), na França, e o prêmio Theodor-Wanner (2014), na Alemanha. 

Leia mais...