17º domingo do tempo comum – Ano C – Subsídio exegético

22 Julho 2022

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:



Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

 

Leituras do dia

Primeira Leitura: Gn 18,20-32
Segunda Leitura: Cl 2,12-14
Salmo: 137,1-3.6-8
Evangelho: Lc 11,1-13

 

O Evangelho

 

Quando o assunto é oração, nem sempre os cristãos e as cristãs têm clareza do que se trata. Para muitas pessoas oração é algo mágico que se faz para atrair as benesses divinas, ou para espantar os males que ameaçam a vida todos os dias. Assim, muitas pessoas só se lembram de rezar quando têm algum problema, quando necessitam de algo: acendem velas, fazem novenas, procissões etc. Em muitas comunidades se percebe que há mais afluência de fiéis nas novenas de quarta-feira do que nas missas de domingo. É que nas quartas-feiras se faz novenas para pedir graças especiais. Nos domingos se celebra a fé comprometida, o que, para muitas pessoas, não interessa.

 

Lucas 11,1 nos diz que antes de ensinar a rezar, o próprio Jesus rezou. Por que ele precisava rezar, se podia fazer milagres? A oração não é mágica. Ele rezava para estar em comunhão com o Pai e conhecer sua vontade. Aliás, os evangelhos atestam que Jesus rezou muitas vezes (Mt 14,23; 26,39; Lc 6,12 etc.).

 

Jesus ensina que o orante chame a Deus de Pai (Lc 11,2b), o que requer uma atitude de filho por parte do orante. Trata-se de um novo relacionamento com Deus, diferente daquele do AT, em que ele é visto apenas como amigo de Abraão e de outros personagens, outras vezes, até como o terrível Javé (Ex 19,12). Santificar o nome do Pai é assumir um compromisso: empenhar-se pela justiça e fraternidade. O reino vem quando os cristãos se abrem ao projeto de Jesus, isto é, vida para todos. Pedir o pão é mais do que esperar recebê-lo pronto de Deus, mas partilhá-lo (cfr. At 2,42ss; 4,32ss), para que haja pão para todos. O perdão, mais do que apenas ofensas, envolve o bolso, pois Lc 11,4 diz: “perdoa-nos nossos hamartias (pecados), pois nós também perdoamos a todo o que nos ofeilonti (deve). Não cair na tentação é não se desviar do projeto do Reino" (Lc 4,1-13). Como se vê, oração, mais do que pedir coisas, é comprometer-se com a proposta do reino.

 

A insistência na oração (vizinho impertinente) não é para mudar Deus, mas é para mudar o coração do orante. Se a oração não for constante, o discípulo não sintoniza com Deus, pois isto leva tempo e só acontece com quem se dirige a Deus com insistência e perseverança. Deus é melhor que todos os pais deste mundo, que dão coisas boas a seus filhos. Ele sempre dá o Espírito para sintonizar com Jesus e com o reino por ele instaurado.

 

Relacionando com as outras leituras

 

Gn 18,20-32: O texto quase parece uma anedota. Deus aqui é apresentado de forma humana: ele precisa descer para verificar a maldade dos moradores de Sodoma, como também na Torre de Babel (Gn 11,5). Além do mais, ele muda de opinião diante da insistência de Abraão, que é impertinente. Ele dialoga com Deus, mas de forma pouco comum entre amigos. Mas, note-se bem, é uma oração a favor de uma cidade. Não é uma oração decorada e repetida de maneira mecânica, mas é espontânea. Ele não pede nada para si, mas intercede pela comunidade. Está aqui uma imagem de oração persistente e a de um Deus que se deixa demover de seu intento, pela oração do patriarca.

 

Cl 2,12-14: Na cruz de Jesus aconteceu a superação da situação pecadora. Os batizados receberam vida nova nele. Ninguém foi justificado por méritos próprios, mas tão somente pelo sacrifício de Cristo. Logo, a oração deve nos manter sintonizados com esta vida nova oriunda de Cristo.

 

A mensagem que a liturgia de hoje nos deixa é que somos agraciados por Deus em Jesus Cristo não porque nós merecemos algo, mas porque Deus em seu infinito amor assim o fez por seu filho. A nós, cabe, agora, por meio da oração constante, sintonizar com esta graça. Assim, a oração, mais do que pedir benesses, ou nos livrar das dificuldades da vida, deve ser uma constante sintonia e compromisso com o Reino de Deus que Jesus trouxe na história para culminar na eternidade. Quem reza de verdade, experimenta a antessala do céu, ou seja, já saboreia aqui na terra, de forma limitada, o que se vive no céu. Por isto, toda oração deve ser um espaço de alegria e de gozo.

 

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