01 Abril 2022
A leitura que a Igreja propõe para este domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 8, 1-11, que corresponde ao 4° Domingo da Quaresma, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Em todas as sociedades há modelos de conduta que, explícita ou implicitamente, moldam o comportamento das pessoas. São modelos que determinam em grande parte a nossa forma de pensar, atuar e viver.
Pensemos na ordem jurídica da nossa sociedade. A convivência social está regulada por uma estrutura legal que depende de uma determinada concepção do ser humano. Por isso, ainda que a lei seja justa, a sua aplicação pode ser injusta se não se considerar a cada homem e mulher na sua situação pessoal única e irrepetível.
Mesmo na nossa sociedade pluralista é necessário chegar a um consenso que torne possível a convivência. Por isso configurou-se um ideal jurídico de cidadão, portador de direitos e sujeito a obrigações. E é este ideal jurídico que se vai impondo com a força de lei na sociedade.
Mas esta ordem jurídica, sem dúvida necessária para a convivência social, não pode chegar a compreender de forma adequada a vida concreta de cada pessoa em toda a sua complexidade, a sua fragilidade e o seu mistério.
A lei tratará de medir com justiça cada pessoa, mas dificilmente pode tratá-la em cada situação como um ser concreto que vive e padece a sua própria existência de uma forma única e original.
Que cômodo é julgar as pessoas a partir de critérios seguros. Que fácil e que injusto apelar ao peso da lei para condenar tantas pessoas marginalizadas, incapacitadas para viver integradas na nossa sociedade, de acordo com a «lei do cidadão ideal»: filhos sem verdadeiro lar, jovens delinquentes, vagabundos analfabetos, toxicodependentes sem remédio, ladrões sem possibilidade de trabalho, prostitutas sem amor algum, maridos fracassados no seu amor conjugal...
Frente a tantas condenações fáceis, Jesus convida-nos a não condenar friamente os outros desde a pura objetividade de uma lei, mas sim a compreendê-los a partir da nossa própria conduta pessoal. Antes de atirar pedras contra alguém, temos de saber julgar o nosso próprio pecado. Talvez descubramos então que o que muitas pessoas precisam não é a condenação da lei, mas sim que alguém as ajude e lhes ofereça uma possibilidade de reabilitação. O que a mulher adúltera necessitava não eram pedras, mas uma mão amiga que a ajudasse a levantar. Jesus entendeu-o.
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Não lançar pedras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU