27 Julho 2023
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Leituras do dia
Primeira Leitura: 1Rs 3,5. 7-12
Salmo: Sl 119,57+72. 76-77. 127-128. 129-130 (R.97a)
Segunda Leitura: Rm 8,28-30
Evangelho: Mt 13,44-52
A comunidade refugiada e o horizonte do Reino
Antes de comentar o texto é bom lembrar que deve ser feito sob a ótica de uma comunidade de pessoas refugiadas que sobrevivem ao massacre, e destruição do Templo do ano 70 d.C. O gênero das parábolas é comum aos Evangelhos Sinóticos e foi usado como método pedagógico-sapiencial usado por Jesus para ensinar sobre o “Evangelho do Reino”. As parábolas que estão em 13,24-30.44-50 lhe são exclusivas desta comunidade. Assim, partindo da audição da tradição de Jesus em Marcos, faz sua própria reflexão.
O lugar da pedagogia parabólica neste Evangelho
Mt 13,44-52, segundo Kümmel, está dentro da “Proclamação do Reino de Deus na Galileia” (4,17-16,20; cf. Introdução ao Novo Testamento, p.123). As parábolas focam ali o sentido político-existencial do Reino num conjunto, não casual, de sete parábolas; inspiradas na Parábola do Semeador; 13,1-9, comum aos três Evangelhos sinóticos. Fazem o resgate de Mc 4 (incluindo a parábola do Grão de Mostarda e excluindo as parábolas da Lâmpada e da Semente; cf. Mt 13,10-23.31-32.34-35 e Mc 4.10-20.30-32.33-34) e acrescentam o material próprio nas parábolas do joio (13.31-32), do fermento (13,33, depois citada em Lucas) e nas três parábolas de Mt 13,44-50. Desta forma apresentam a perspectiva da comunidade, mostrando que a brutalidade da repressão não é compatível com a estratégica política do Reino (o corte antecipado do joio sempre cobra o preço de vidas inocentes), e a necessidade de paciência histórica da fermentação e transformação da realidade.
O Reino como opção político-existencial
G. Hendriksen, diz que à respeito da parábola do tesouro que “o quadro corresponde à vida (...) devido às guerras e incursões inimigas (...) às vezes se recorria ao método de sepultar suas posses mais valiosas (...)” (El Evangelio según San Mateo, p. 602). O projeto do Reino e tudo o que “sobrou” para a comunidade que busca condições de sobreviver à repressão e migração forçada. À experiência masculina se soma a sabedoria feminina! Uma marca inclusiva desta comunidade. A parábola da pérola, que segundo Hendriksen, pode se referir à esposa do Imperador Calígula, Lolia Paulina (famosa pelo seu uso), reforça a opção político-existencial de desprezar os “bens” do império em favor dos “valores” do Reino. A parábola da rede, segundo este mesmo autor, é uma adaptação da parábola do joio, no contexto da pesca na Galileia. Reforça a experiência histórica de que mesmo num mundo dominado pelo império, através do critério político-existencial do Reino, é possível discernir o horizonte final – dos anjos – onde a justiça alcança sua plenitude.
Nos últimos versículos (13,51-52), a expressão “entendeste/suneimi”, etimologicamente composta de “com/sun” e “enviar/heimi”, pergunta: “seguiremos juntas/os?”. A resposta, a partir dos elementos sapienciais-político-existenciais apresentados, é um rotundo: “Sim!”. Agora como família, reunida no espaço seguro do Pai, é possível discernir o novo e o velho (cf. Mt 9,16-17).
Relacionando com os outros textos
A oração de Salomão (1 Rs 3,7-12) que logo adiante ele não a seguiu (1 Rs 10,14-11,13), reforça a ideia da falsidade (fetiche) das riquezas dos impérios, que prometem o bem-estar de todas as pessoas; mas acabam beneficiando poucas, empobrecendo muitas e destruindo tudo. Descoberta que a comunidade de Mateus faz ao ver a morte e destruição provada pela repressão romana em 70 d.C. Romanos 8,28-30 apresenta a “mal interpretada” doutrina da “predestinação”, fazendo crer que pessoas nascessem para ser boas ou ruins. Para a comunidade de Mateus “predestinação” é a capacidade de se reconhecer como participante de um projeto divino de vida e transformação.
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