15 Fevereiro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 6,17.20-26 que corresponde ao 6° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Pode-se ler e ouvir cada vez mais notícias optimistas sobre a superação da crise e a recuperação progressiva da economia. Dizem-nos que já estamos assistindo a um crescimento económico, mas, crescimento de quê? Crescimento para quem? Dificilmente somos informados da verdade completa do que acontece.
A recuperação econômica em curso está consolidando e até perpetuando a chamada «sociedade dual». Um crescente abismo vai-se abrindo entre os que vão melhorar o seu nível de vida cada vez com maior segurança e aqueles que serão deixados para trás, sem trabalho nem futuro nesta vasta operação econômica.
De fato, ao mesmo tempo, aumenta o consumo ostentoso e provocativo dos que são cada vez mais ricos e a miséria e insegurança dos cada vez mais pobres.
A parábola do homem rico «que se vestia de púrpura e linho e que se banqueteava sumptuosamente todos os dias» e do pobre Lázaro que procurava sem conseguir, para saciar o seu estômago, o que deitavam fora da mesa do rico, é uma crua realidade da sociedade dual.
Entre nós existem esses «mecanismos econômicos, financeiros e sociais» denunciados por João Paulo II, «que, embora manejados pela vontade dos homens, trabalharam quase automaticamente, tornando mais rígidas as situações de riqueza de uns e as de pobreza de outros».
Mais uma vez estamos consolidando uma sociedade profundamente desigual e injusta. Nessa encíclica tão lúcida e evangélica que é Sollicitudo Rei Socialis, tão pouco ouvida, inclusive por aqueles que constantemente o vitoriam, João Paulo II descobriu na raiz desta situação algo que só tem um nome: o pecado.
Podemos dar todos os tipos de explicações técnicas, mas quando o resultado é o enriquecimento cada vez maior dos já ricos e o afundamento dos mais pobres, aí se está a consolidar a falta de solidariedade e a injustiça.
Nas Bem-aventuranças, Jesus adverte que um dia se inverterá o destino dos ricos e dos pobres. É fácil que também hoje sejam muitos os que seguindo Nietzsche, pensam que a atitude de Jesus é fruto do ressentimento e impotência de quem, não podendo obter mais justiça, pede a vingança de Deus.
No entanto, a mensagem de Jesus não nasce da impotência de um homem derrotado e ressentido, mas da sua visão intensa da justiça de Deus, que não pode permitir o triunfo final da injustiça.
Vinte séculos se passaram, mas a palavra de Jesus continua a ser decisiva para os ricos e para os pobres. Palavra de denúncia para alguns e promessa para outros, ainda está viva e interpela-nos a todos.
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