14 Julho 2017
Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Numerosas multidões se reuniram em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé na praia.
E Jesus falou para eles muita coisa com parábolas: «O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os passarinhos foram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Porém, o sol saiu, queimou as plantas, e elas secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e renderam cem, sessenta e trinta frutos por um. Quem tem ouvidos, ouça!»
Os discípulos aproximaram-se, e perguntaram a Jesus: «Por que usas parábolas para falar com eles?» Jesus respondeu: «Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Pois, a quem tem, será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem. É por isso que eu uso parábolas para falar com eles: assim eles olham e não veem, ouvem e não escutam nem compreendem. Desse modo se cumpre para eles a profecia de Isaías: "É certo que vocês ouvirão, porém nada compreenderão. É certo que vocês enxergarão, porém nada verão. Porque o coração desse povo se tornou insensível. Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos, para não ver com os olhos, e não ouvir com os ouvidos, não compreender com o coração e não se converter. Assim eles não podem ser curados’. Vocês, porém, são felizes, porque seus olhos veem e seus ouvidos ouvem. Eu garanto a vocês: muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, e não puderam ver; desejaram ouvir o que vocês estão ouvindo, e não puderam ouvir.»
«Ouçam, portanto, o que a parábola do semeador quer dizer: Todo aquele que ouve a Palavra do Reino e não a compreende, é como a semente que caiu à beira do caminho: vem o Maligno e rouba o que foi semeado no coração dele. A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a Palavra, e logo a recebe com alegria. Mas ele não tem raiz em si mesmo, é inconstante: quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, ele desiste logo. A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a Palavra, mas a preocupação do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a Palavra, e ela fica sem dar fruto. A semente que caiu em terra boa é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse com certeza produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta por um.»
Leitura do Evangelho segundo Mateus 13,1-23 (Correspondente ao 15º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O evangelho de Mateus utiliza várias parábolas para dar a conhecer a mensagem de Jesus. Parábola é uma tradução do hebraico masal e significa comparação, narrativa exemplar, fábula. Há algumas que trazem uma explicação do seu significado, mas em geral a interpretação é aberta, ficando na experiência cotidiana de cada grupo ou pessoa.
O evangelho de Mateus foi redigido nos anos 80, quando os que desejam seguir Jesus vivem situações difíceis pelas persecuções que sofrem. São rejeitados, desprezados e até mortos pelos judeus, que deveriam ser os primeiros a aceitar o Messias - Libertador esperado.
Nos discípulos surgem dúvidas sobre a vida escolhida e possivelmente perguntas que Mateus procura responder através das parábolas. Por que a fé não é aceita por todos, por que há diferenças entre os que a aceitam? Vale a pena seguir Jesus apesar de serem somente pequenas comunidades aparentemente sem nenhuma influência?
As parábolas são formas de falar que, a partir de situações reais do dia a dia, Jesus usa para comunicar a seus ouvintes a mensagem sobre o Reino e como viver a Vida Nova que ele traz. Cada parábola traz uma mensagem para as comunidades, para cada uma das pessoas. Mas esse ensinamento é uma mensagem aberta que, como a semente, contém no seu interior uma riqueza inesgotável.
A semente tem o protagonismo na narrativa de hoje. Em torno a ela acontecem as diferentes situações que Jesus descreve. São situações variadas tendo em conta os diferentes terrenos, os campos onde são espargidas e disseminadas as sementes.
“Algumas sementes caíram à beira do caminho”, “outras sementes caíram em terreno pedregoso”, “outras sementes caíram no meio dos espinhos”, “outras sementes caíram em terra boa”.
Todos os camponeses e todo semeador sabe a dificuldade de encontrar uma terra boa e cuidar dela para que a semente produza muito fruto. Tantas vezes lemos notícias sobre as grandes fazendas com terras desaproveitadas e que são ocupadas por todos aqueles que precisam de uma pequena parcela de terra para semear e ter assim um alimento para viver.
Como disse João Pedro Stédile: “A concentração da propriedade da terra acontece porque o capital financeiro e multinacional tomou a iniciativa de disputar a terra, a água, as sementes, e isso gerou uma hegemonia do agronegócio”. (Disponível em: "Está em curso, no Brasil, uma concentração da propriedade da terra").
Na conclusão do 3° Fórum dos Povos Indígenas, Francisco declarou que a “humanidade peca gravemente, deixando de cuidar da terra”, e instou os líderes indígenas a resistirem às novas tecnologias e que “não permitais aquelas que destroem a terra, que destroem a ecologia, o equilíbrio ecológico e que acabam por destruir a sabedoria dos povos”. (Disponível em: Papa diz que povos indígenas devem ter a palavra final sobre suas terras)
Podemos considerar também que a variedade de categorias de ouvintes da Palavra e sua respectiva compreensão não é referida a diferentes classes sociais. Não são os discípulos aqueles que compreendem a Palavra, e a grande multidão, o grupo daqueles que não compreendem.
Hoje somos nós e nossas comunidades as terras onde o Senhor não se cansa de semear sua bondade, seu amor, sua ternura, sua Palavra. É um ensino que contribui para todos e todas aqueles que, como ele mesmo esclarece, são seus discípulos.
Com o exemplo das diferentes terras, somos convidados/as a questionar-nos: qual é a nossa disposição hoje para acolhê-las? Como está nossa terra, nossa preparação para receber e essencialmente colaborar no seu crescimento, para que produza abundante fruto?
Podemos também perguntar-nos qual é a semente que sai de nós e fica semeada ao nosso redor, na vida das pessoas que estão ao nosso lado, daqueles que partilham o dia a dia conosco. Nossas palavras refletem a Palavra de Deus, somos semente na nossa forma de agir, nas atitudes, no comportamento? Pode-se dizer que somos sementes por excelência?
Semente do Reino
Como se arriscará
o camponês a semear
sem ver já todo o trigal
no punho apertado
cheio de sementes?
Como olhar a terra
com olhos de esperança
sem ver já o bosque
nas sementes aladas
de carvalho levadas
pelo vento?
Como sonhará
o jovem casal
sem sentir
já no embrião
todos os risos
e as brincadeiras
dos filhos?
Como entregar-se
pelo pequeno,
sem ver com olhos novos
a utopia do Reino
no brotar germinal
que apenas rompe
a casca do medo?
Benjamin Gonzalez Buelta
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A generosidade do semeador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU