09 Abril 2022
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Is 50,4-7
Salmo: 21,8-9.17-18a.19-20.23-24
Segunda Leitura: Fl 2,6-11
Evangelho: Lc 19,28-40/ Lc 22,14 -23,56
O Domingo de Ramos, ao mesmo tempo que encerra a Quaresma, inicia a Semana Santa. A entrada de Jesus em Jerusalém conclui a grande “viagem” de Jesus a Jerusalém (Lc 9,51–19,27), que é o centro do evangelho de Lucas. Trata-se do “caminho de Jesus”. A narração da entrada de Jesus em Jerusalém está presente em todos os evangelhos canônicos (Mt 21,1-9; Mc 11,1-10 e Jo 12,12-19).
O trecho de hoje inicia-se com a afirmação de que Jesus “aproximou-se de Betfagé e Betânia, junto ao monte chamado das Oliveiras” (v. 29. cf. Zc 14,4). Deste ponto intermediário entre as duas localidades citadas, Jesus “enviou dois discípulos” (v. 29). Lucas usa o verbo apostellō, que no Terceiro Evangelho é frequentemente utilizado para “enviar em missão”: 4,18.43; 7,20,27; 9,2.48.52; etc. Os discípulos enviados aqui não são nomeados. O fato de serem dois liga-se à determinação de Dt 19,15, que expõe as condições para que o testemunho de alguém seja válido. Assim também em Lc 9,30; 24,4; At 1,10.
Enquanto a multidão chega a pé em Jerusalém para festa da Páscoa, Jesus entra montado num jumento. Tal atitude evoca novamente o profeta Zacarias: “Ele é justo e vitorioso, humilde, montado em um jumento, num jumentinho, filho de jumenta” (Zc 9,9). O cuidado em descrever o animal sobre o qual Jesus monta em sua entrada na cidade não é um detalhe secundário. Um rei guerreiro e conquistador entraria montado em um cavalo ou uma égua que, no mundo antigo, eram animais de guerra. Neste caso, Jesus teria se apresentado como um imperador ou um governante militar, que exerce o poder como um ditador e busca a guerra. Diferentemente, Jesus opta por entrar na cidade montando um jumento. O passeio por Jerusalém sobre este animal fazia parte do ritual de entronização de um monarca (cf. 1Rs 1,38-40), para simbolizar que se trata de um rei que vem trazer a paz, um rei que caminha com o povo sobre o qual passa a governar. Em outras palavras, toda a narração do evangelho evoca a esperança salvífica messiânica.
O evangelista enfatiza o papel desempenhado pelos apóstolos na manifestação: eles não apenas pegam o jumentinho, mas estendem sobre ele suas capas e fazem Jesus sentar-se.
Não deixa de estranhar o fato de que eles (quem: os discípulos? as pessoas da multidão?) “estendiam suas vestes no caminho” (v. 36). Que significa tal gesto? Em 2Rs 9,13, temos um paralelo exato, no relato da proclamação de Jeú como rei do Israel do Norte. Novamente, portanto, temos um gesto que equivale a anunciar e reconhecer que Jesus é rei. O povo parece compreender logo o significado. O evangelista, porém, acrescenta outro elemento: “Toda a multidão dos discípulos começou, cheia de alegria, a louvar a Deus em alta voz por todos os milagres que tinham visto” (v. 37). Das pessoas ao redor, surge um louvor a Deus; todavia, a motivação está nos milagres realizados por Jesus durante a sua atividade anterior na Galileia e a caminho de Jerusalém.
Lucas omite a aclamação em hebraico: “Hosana!” e a referência ao reino de Davi (cf. Mc 11,10), e transforma a aclamação final em uma referência à paz e à glória, repetindo as palavras utilizadas antes, no relato do nascimento de Jesus, em 2,14: o que anteriormente era proclamado pelos anjos, agora é cantado pelo povo, mas com uma mudança explícita: “paz no céu [não mais na terra] e glória nas alturas” (v. 38). Tal mudança acentua ainda mais o que já fora afirmado em 2,14: a verdadeira paz não é a Pax Romana, e sim a que Jesus traz; a verdadeira glória não pertence ao imperador, mas a Deus.
Por outro lado, antecipa também o lamento de Jesus por Jerusalém, em Lc 19,42-44: a cidade ignora a proposta de paz e a consequência é a guerra.
Proclamar Jesus rei é extremamente perigoso e trará uma violenta reação dos romanos. Sabedores disso, os fariseus, que anteriormente aconselharam Jesus a agir com prudência (13,31), agora pedem que ele repreenda seus discípulos (v. 39). Jesus responde com um provérbio: “se estes se calarem, as pedras gritarão” (v. 40; retomando Hab 2,11). Trata-se de uma ameaça velada, pois não se manda o profeta, a discípula e o discípulo calarem a boca (Am 2,12b; 7,12-13).
Cabe, por fim, perguntar: O que esses versículos devem provocar nos leitores de Lucas?
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Domingo de Ramos – Ano C – Subsídio exegético - Instituto Humanitas Unisinos - IHU