03 Dezembro 2018
Ativistas estudantis obtiveram uma grande vitória quando o presidente da Universidade de Seattle, Stephen V. Sundborg, S.J., anunciou que a instituição iria se desfazer de seus investimentos relacionados a empresas detentoras de fundos de combustíveis fósseis, se tornando a primeira universidade jesuíta do país a fazer isso. Segundo a declaração, o processo começará em 2018 e terminará em 2023. Outras faculdades e universidades jesuítas seguirão o exemplo?
A reportagem é de Brandon Sanchez, publicada por America, 28-11-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O anúncio da Universidade de Seattle, divulgado em 19 de setembro, mostra a importância moral que o movimento implica. "Como uma universidade jesuíta e católica, temos a obrigação de lidar com a crise da mudança climática", disse o padre Sundborg. “Em sua encíclica Laudato Si', sobre o Cuidado de nosso Lar Comum, o Papa Francisco nos convoca a considerar isso como uma questão social e ecológica urgente que está conectada a todos os que nos rodeiam e que tem consequências devastadoras para sociedades vulneráveis", continuou.
Deanna Howes Spiro, diretora de comunicações da Associação de Faculdades e Universidades Jesuítas, em Washington, DC, disse que a A.J.C.U. (sigla em inglês) incluiu o anúncio da Universidade de Seattle em seu boletim informativo. "Felicitamos a Universidade de Seattle em encontrar meios para fazer isso", disse ela, acrescentando que a A.J.C.U. não tomaria uma posição sobre a política.
O movimento para o fim de investimentos em combustíveis fósseis, que começou nos anos 2000, se tornou um dos pilares do ativismo nos campus universitários. Muitos grupos liderados por estudantes patrocinam petições on-line e se reúnem com funcionários da administração, incentivando alguns líderes a mudarem de rumo.
Enquanto a Universidade de Seattle é a primeira das 28 faculdades e universidades jesuítas a se comprometer com o total desinvestimento de fundos de combustíveis fósseis, outras instituições modificaram suas práticas de investimento.
Em junho de 2015, a Georgetown University cortou relações com empresas de carvão, mas não de todos os combustíveis fósseis. A organização estudantil G.U. Fossil Free [Universidade de Georgetown livre de combustíveis Fósseis, em tradução livre] continuou a pressionar por ações mais ousadas. Em junho de 2018, o conselho de diretores da Georgetown votou pelo desinvestimento de empresas associadas à extração de petróleo por areias betuminosas após a G.U. Fossil Free divulgar uma proposta, em novembro de 2017, induzindo a Universidade a avançar sobre essa questão.
Matt Hill, gerente de relações com a mídia da Georgetown, se recusou a comentar se a Universidade iria reconsiderar ou não sua política de desinvestimento diante do anúncio da Universidade de Seattle.
Na Universidade de Santa Clara, membros do Programa de Ação Comunitária de Santa Clara vêm defendendo o desinvestimento de combustíveis fósseis há anos. Kimy Grandi Soriano, a atual coordenadora do ramo de capacitação da South Central Community Action Programs (S.C.C.A.P.), disse à revista America que ficou desapontada com a falta de diálogo entre os estudantes e a administração.
“Eles sustentam que a razão pela qual são capazes de dar tanto apoio financeiro a estudantes está diretamente relacionado a seus investimentos, criando basicamente uma narrativa de 'escolha uma ou outra: desinvestimento fóssil ou bolsas de estudo para pessoas mais humildes”, disse Soriano.
“Os alunos mais tarde entenderam que o desinvestimento era impossível porque o dinheiro é investido em fundos mistos”, acrescentou.
Os fundos mistos - rios de dinheiro compartilhados por múltiplas instituições - constituem “investimento indireto”. Tais investimentos foram citados por outras universidades cujas participações são em grande parte ou totalmente indireta como um obstáculo para o desinvestimento fóssil.
Um porta-voz da Universidade de Santa Clara disse que a instituição não está considerando o desinvestimento neste momento.
Mesmo que alguns estudantes tenham ficado desencorajados pela falta de interesse administrativo, os ex-alunos se envolveram mais no ativismo pela justiça climática, disse Grandi Soriano. “Acho que os alunos desistiram da questão do desinvestimento após perceberem que não há absolutamente nenhuma disposição de mudar ou mesmo dialogar com a administração sobre isso depois de anos de tentativas”, continuou a coordenadora.
Alunos do Boston College tiveram desafios semelhantes. "Temos que implorar e forçar a Universidade a falar conosco", disse Kyle Rosenthal, membro da Climate Justice Boston College (C.J.B.C.) e da Catholic Divestment Network (C.D.N.), uma coalizão de grupos de estudantes em universidades jesuítas e católicas por todo o país.
“No passado, algumas reuniões com os administradores foram concedidas, embora fossem contestadas, e não parecia que estavam dispostos a considerar o que tínhamos a dizer. Atualmente, eles se mantêm firmes de que não nos ouvirão, retratando o desinvestimento como uma causa perdida”, acrescentou Rosenthal.
Como parte dos estudantes ativistas que compõem o S.C.C.A.P., os membros do C.J.B.C. organizaram debates, eventos de conscientização e distribuíram uma petição que, até o momento, foi assinada por 3 mil pessoas - estudantes de graduação, de pós-graduação, professores e ex-alunos. De acordo com Rosenthal, “Centenas de ex-alunos, alunos e pais também começaram a prometer interromperem doações ao Boston College até que ele deixe de investir em combustíveis fósseis.
“Assim como os estudantes de outras universidades jesuítas, essa gama de estudantes do Boston College está muito preocupada com a falta de transparência de nosso conselho de administração, especialmente quando comparada à Universidade de Seattle, que publica breves atas de suas reuniões”, disse Rosenthal. (Matt Malone, SJ, presidente e editor-chefe da revista America, faz parte do conselho do Boston College.)
Jack Dunn, vice-presidente associado do Escritório de Comunicações da Universidade no Boston College, ressaltou a oposição da instituição ao desinvestimento de combustíveis fósseis. "O Boston College continua a ser contra o desinvestimento de empresas de combustíveis fósseis, alegando que não é uma solução viável para a importante questão da mudança climática", disse ele à revista America por e-mail. “A posição da universidade é que a maneira mais eficaz de limitar as mudanças climáticas seria se o Boston College junto a corporações, organizações e indivíduos, tomasse medidas ativas para reduzir o consumo de energia e melhorar as medidas de sustentabilidade”, acrescentou.
Rosenthal e os outros membros da C.D.N. permanecem otimistas em relação às perspectivas de longo prazo para o desinvestimento em combustíveis fósseis. “Também estamos em contato com a Associação de Faculdades e Universidades Jesuítas para divulgar informações sobre o desinvestimento e a obrigação dos jesuítas de tomarem uma atitude. Se uma instituição atua - e muitas universidades, dioceses e províncias - com base em princípios morais, então todos nós devemos”, ressaltou Rosenthal.
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Universidade de Seattle planeja desinvestimento em combustíveis fósseis: Outras instituições jesuítas seguirão o exemplo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU