E o papel dos leigos no combate à pedofilia? A resposta dos movimentos e dos leigos franceses foi muito fraca até hoje

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13 Setembro 2018

E os leigos? Desde o chamado do Papa Francisco na Carta ao Povo de Deus ao combate coletivo ao abuso sexual na Igreja por meio da reforma do que ele caracterizou como “clericalismo”, nada mais se falou sobre o assunto - ou quase isso.

A reportagem é de Isabelle de Gaulmyn, publicada por La Croix International, 12-09-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Com exceção da Conferência Católica dos Batizados, aguardamos em vão para ouvir algo dos vários movimentos franceses da Igreja envolvidos nos campos da caridade, da educação, da família e das profissões, entre outras. Por vezes, houve algumas poucas declarações individuais.

Mas nada coletivo. Pior ainda, um dos movimentos que se pronunciou sobre a questão simplesmente respondeu com tranquilidade que a pedofilia na Igreja não era um problema seu, pois estava “preocupado com o econômico e o social, e não com a Igreja”.

O que é pior é que era um movimento de cristãos envolvidos num meio profissional específico. Mas onde está a Igreja? O que é a Igreja?

Cabe apenas aos bispos falar?

Como disse o Papa Francisco na carta, “a dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse fato de maneira global e comunitária”.

No entanto, o que encontramos? Alguns bispos deram declarações excelentes, como os arcebispos de Estrasburgo e de Paris.
Mas é algo só da competência dos bispos? Os leigos estão buscando respostas e às vezes aplaudem as que vêm mas não se envolvem.

A visão desses leigos é clara: cabe aos bispos resolve o problema. É como se esses cristãos não pertencessem aos movimentos e associações nem tivessem filhos, nem fossem à missa ou conhecessem padre algum.

Isso é ignorar o que a Igreja é de verdade: o conjunto do povo de Deus. Ou seja, bispos, padres e também eu e você.

Quando uma parte da Igreja está doente, toda a Igreja sofre. É assim que funciona, em particular - parafraseando Georges Clemenceau, primeiro-ministro da França na época da Primeira Guerra Mundial -, porque a luta contra o clericalismo é muito importante para ser relegado apenas aos padres.

Combater o clericalismo significa desafiar um certo posicionamento dos padres a respeito dos leigos. Resumindo: é uma questão de poder.

Como disse o arcebispo de Estrasburgo, Luc Ravel, “o clericalismo inverte a relação de pertencimento e faz com que pareça que a ovelha pertence ao padre”.

As terríveis palavras de Caim

No entanto, muitos leigos têm experiência em exercer autoridade em empresas, na família e na comunidade. Suas reflexões e conhecimento nessa área seriam muito bem-vindos.

Por fim, a honestidade nos obriga a reconhecer que a resposta dos leigos aos casos de abuso sexual foi muito fraca.

Houve um verdadeiro silêncio por parte dos bispos e dos irmãos padres sobre questões de pedofilia na Igreja. E também dos pais, párocos e todos nós.

Não podemos deixar para os padres e bispos apenas resolver um problema que atingiu uma escala como esta.

E se deixarmos, não estaríamos adotando as terríveis palavras de Caim: “sou eu o responsável por meu irmão?”.

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