Colômbia. O uribismo diante da mudança

Foto: Pablo Andrés Rivero | Flickr

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20 Junho 2018

A política impõe seus limites em cada campanha eleitoral. E na Colômbia esses limites eram mais que óbvios. Iván Duque venceu com uma diferença significativa (12 pontos), apresentando-se como o representante máximo do uribismo aggiornado. A proposta de mudança encarnada em Gustavo Petro obteve um resultado histórico, com mais de 8 milhões de votos, mas, por enquanto, insuficiente para governar. No entanto, é um passo gigantesco na história deste país. Definitivamente, a Colômbia não será a mesma depois destas eleições presidenciais.

A reportagem é de Alfredo Serrano Mancilla e Gisela Brito, publicada por Página/12, 19-06-2018. A tradução é de André Langer.

Petro alcançou essa nova maioria sem se esconder atrás de qualquer disfarce. Expôs suas ideias claramente, sem a máquina e com poucos recursos econômicos. Ele conseguiu cativar o povo colombiano com um discurso progressista propositivo sobre questões sociais e ambientais; de grande importância histórica, reivindicando os valores liberais que lutaram contra as ditaduras e injustiças; questionando sem hesitação a corrupção e a Colômbia excludente das cinco gravatas; e, em sua última fase, também conseguiu forjar uma grande coalizão com uma grande soma de diversos atores.

O que atraiu os colombianos de Petro é o que o ex-prefeito de Bogotá encarna: a legítima aspiração de disputar o poder com uma elite entrincheirada que sempre governa de costas para os cidadãos. Faz isso a partir de uma profunda releitura da história colombiana que oferece um relato alternativo, traçando uma fronteira simbólica com um “eles” (a elite corrupta) que deriva na formação de um “nós” (os cidadãos livres comuns e honestos), uma explicação de como chegamos aqui e uma possível rota programática para o futuro (uma Colômbia humana).

Assim, a máquina, a fraude, a corrupção, a desigualdade e as injustiças sociais, a questão ambiental, entre outras demandas latentes da sociedade colombiana, são agora ressignificadas como problemas políticos diante dos quais a resignação deixa de ser a única resposta possível, criando assim, um novo marco de significado – um prisma –, a partir do qual se interpreta a realidade social e articula respostas políticas para proporcionar-lhes um canal institucional.

Petro conseguiu se conectar com um povo com vontade de mudança. A candidatura de Gustavo Petro e sua Colômbia Humana representa muito mais que um fenômeno eleitoral. Sem dúvida, na Colômbia, podemos dizer que ocorreu o nascimento de uma nova identidade política nesta etapa pós-conflito.

No entanto, apesar desse grande avanço das forças da mudança, o uribismo demonstrou mais uma vez que nunca deixou a arena. São 10 milhões de votos que ainda sintonizam com um campo de valores conservadores, mesmo que o próprio candidato tenha que piscar para a paz, as questões ambientais e a luta contra a corrupção.

Sem dúvida, o uribismo sai fortalecido com este apoio. E tudo indica que colocará em prática um conjunto de políticas que comprometerão o progresso alcançado no tema da paz. E, além disso, a vitória de Duque também constitui uma má notícia em uma chave regional, porque provavelmente sua política externa intensificará o conflito com países vizinhos.

O resultado do longo processo eleitoral deixa “duas Colômbias”: uma progressista e a outra reacionária; dois campos políticos rivais, muito distantes um do outro. O uribismo venceu, mas terá um enorme desafio: governar com uma grande oposição pela frente, completamente antagônica ao seu projeto de país. Algo inédito na história política colombiana.

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