20 Setembro 2017
A indústria brasileira, um dos setores mais atingidos pela crise econômica, se encontra diante de um novo desafio: a chamada indústria 4.0, que integra tecnologias de robótica e inteligência artificial às linhas de montagem. Atento à chegada desse modelo de produção, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC promoveu nesta segunda-feira (18) um encontro entre dirigentes sindicais para debater a inovação tecnológica. O objetivo é entender a questão para poder participar das futuras decisões sobre política industrial.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 19-09-2017.
Para Mário Sérgio Salerno, professor da Escola Politécnica da USP, que mediou o debate, enquanto outros países investem em inovações tecnológicas, o Brasil vai na contramão desta realidade. Ele mostrou que a indústria brasileira está defasada para implementar o modelo – um novo processo de produção feito por robôs, impressoras 3d e outras máquinas computadorizadas de alta tecnologia e que se comunicam entre si.
“É muito difícil que a indústria (brasileira) invista muito para aumentar a capacidade produtiva, para novos processos, porque ela está tentando erguer a cabeça para fora da água e não se afogar. Portanto, não acredito que tenha grandes transformações no curto prazo, o que pode por outro lado ser um problema, porque o mundo está se transformando. Então, a gente pode não produzir aqui e comprar importado, o pior dos mundos", afirma o especialista, em entrevista à repórter Michelle Gomes, da TVT.
O problema para os trabalhadores com a chegada da indústria 4.0 na região, polo importante da indústria automobilística, será inevitável a adoção desse novo modelo de produção ao setor, que chega sobretudo por meio dos carros elétricos.
Países como Alemanha, França e China já anunciaram que querem acabar com a produção de carros a gasolina e diesel, para investir em veículos híbridos e elétricos – um sistema de produção altamente tecnológico e que requer profissionais especialistas, principalmente em eletrônica e engenharia da computação.
“Se você for comparar a produção de um carro elétrico ou um carro como os que a gente conhece hoje é muito diferente. Primeiro, o motor é completamente diferente. O motor elétrico tem muito menos peças do que o convencional. E são peças, em geral, mais simples. O projeto desses carros é feito fora do país, então os empregos de engenharia e desenvolvimento não estão aqui. Os testes não serão feitos aqui, os acordos com fornecedores não vão ser feitos aqui. Isso puxa emprego", explica Mário Sérgio.
O operador de produção de autopeças Marcelo Pereira se diz preocupado com os impactos que o carro elétrico pode trazer na região do ABC. "Na nossa unidade, a gente fabrica bronzina, pistão e válvula, e o carro elétrico não tem nada disso."
Os metalúrgicos reivindicam a participação na elaboração de políticas públicas industriais nos fóruns promovidos pelo governo federal. “Entrar nesses debates e entrar com propriedade, com conhecimento daquilo que está falando é muito importante até para influenciar no destino da política industrial do país, sobretudo, com essa nova visão baseada nos processos de indústria 4.0", enfatiza Wellington Messias Damasceno, diretor executivo do sindicato.
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De olho nas relações de trabalho do futuro, metalúrgicos debatem 'indústria 4.0' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU