11 Agosto 2017
A afirmação é de Marciano Vidal, no livro publicado pela editora Dehoniane, Un teologo di fronteira: la fede, la morale e il processo romano [Um teólogo de fronteira: a fé, a moral e o processo romano]: “Eu tinha lido no ‘Diário’ de Yves Congar que esse benemérito dominicano, grandíssimo teólogo, perseguido nos tempos do Santo Ofício, cardeal no fim da sua vida, tinha protestado urinando no muro da Santa Inquisição romana. Eu jurei a mim mesmo que um redentorista não podia ser superado por um dominicano. Custei a encontrar o momento certo. Fui lá em várias ocasiões, até que consegui fazer xixi. Posso assegurar que, embora sendo mais jovem do que agora, o fluxo não pôs em perigo os muros da Inquisição”.
A reportagem é de Francesco Strazzari, publicada por Settimana News, 08-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Agora, o renomado teólogo espanhol, um dos maiores expoentes da renovação da moral, professor emérito da Universidade Pontifícia Comillas, de Madri, professor convidado da Academia Alfonsiana, de Roma, aluno de Bernhard Häring, que também acabou nas garras da instituição vaticana, vem à tona agora com uma série de propostas de reforma do Tribunal do Santo Ofício, nome dado pelo Papa Pio X em 1908, que Paulo VI tentou reanimar em 1965, mudando-o para Congregação para a Doutrina da Fé.
Agora que o cardeal Gerhard Müller foi dispensado do cargo de prefeito e sucedido pelo espanhol Luis Francisco Ladaria, que se caracteriza pela sua prudência e por um estilo que o aproxima do Papa Francisco, Marciano Vidal enviou à revista espanhola Vida Nueva (8- 14 de julho) algumas pistas de reflexão para dar um novo rosto à Congregação.
Vidal escreve: “É preciso privar a Congregação para a Doutrina da Fé do grau ‘especial’ de competência magisterial que lhe foi atribuído”. Em outras palavras, Vidal não vê por que a Congregação deve ter o “plus” de competência no campo do magistério.
Decorre daí que a Congregação deveria diminuir o seu peso até chegar a suprimir as intervenções, às quais recorre com “instruções”, “declarações” ou outras formas dirigidas a toda a Igreja. Vidal se refere principalmente ao seu campo específico de teólogo moral.
Ele se congratula que os textos do Papa Francisco, por exemplo, a Evangelii gaudium, a Laudato Si’ e a Amoris laetitia, fazem referência mais às intervenções das Conferências Episcopais do que aos textos da Congregação romana.
Em terceiro lugar: retirar da competência da Congregação o exame de doutrinas dentro da Igreja, causa de não poucas dificuldades, muitas vezes em contraste com o respeito dos direitos humanos. Ele cita quatro deles: o direito de saber quem acusa; o direito à ampla defesa por parte do acusado; o direito a juízes competentes; o direito de que a causa seja tornada pública. É preferível que o exame de doutrinas seja realizado por instâncias jurídicas, concretamente processuais, da Santa Sé.
Por fim, a Congregação deveria promover a fé no mundo atual, dedicando-se a orientar os fiéis sobre questões delicadas, como é o caso dos abusos sexuais na Igreja.
Questionado por nós sobre a figura do novo prefeito, Ladaria, Marciano Vidal não se pronunciou. Gabino Uribarri Bilbao, da Universidade Pontifícia Comillas e membro da Comissão Teológica Internacional, fala de “discrição e continuidade”, de um homem que será um “colaborador leal e franco”, que “não fere, muito menos insulta”.
Gaspar Hernández, da Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia de Salamanca, define-o “não só como um professor competente e rigoroso, mas também como um verdadeiro mestre, um teólogo afiado”, voltado a explicar a relação recíproca entre o mistério de Deus e o mistério do homem, que têm em Cristo o eixo que permite uma adequada articulação.
Antropologia e teologia se iluminam a partir da cristologia em um sentido muito preciso. Ladaria é um “bom filho” de Santo Inácio, para quem “o estudo do mistério de Deus deve nos levar à adoração, à ação de graças e ao louvor”.
Gaspar Hernández Peludo não tem dúvidas: “Com um pastor, teólogo e mestre assim, podemos ter confiança de que a promoção e a tutela da fé da Igreja estão em boas mãos”.
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Doutrina da Fé: “Essa Congregação deve ser reformada”. Depoimento de Marciano Vidal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU