19 Julho 2017
Elas estão bloqueando com uma capela construída com suas próprias mãos, quatro bancos e um altar feito de pranchas de madeira, a construção de um gasoduto de gás natural na Pensilvânia, desafiando uma importante empresa norte-americana. Uma batalha corajosa para proteger a Criação justamente como pede a ordem à qual pertencem e a encíclica do Papa Francisco Laudato si'.
A reportagem é de Silvia Guzzetti, publicada por Avvenire, 17-07- 2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um grupo de irmãs religiosas americanas "Adoradoras do Sangue de Cristo", desafiaram a empresa que quer construir o gasoduto, a "Atlantic Sunrise Pipeline", que opera no leste dos Estados Unidos e a empresa de gasoduto, Williams Partners, que tem tentado negociar com as religiosas sem sucesso. No dia de hoje, a batalha acaba no tribunal, enquanto as irmãs estão se preparando para a vigília de até 24 horas em 24 na capela usada como barricada, caso seja necessário.
"O gasoduto vai contra tudo em que acreditamos", declarou Linda Fisher, 74 anos, uma das irmãs empenhadas na batalha. A ordem a que pertencem as freiras, que conta com 2.000 irmãs no mundo todo, foi criada pela italiana Santa Maria De Mattias, em Acuto, na província de Frosinone (Itália), e já entrou em campo no Brasil contra a construção de uma central hidrelétrica e na Guatemala contra uma mineradora de ouro. Agora é a vez da pequena comunidade de Lancaster County que coloca em prática "a ética da terra", que é o fundamento da sua congregação. Na Missa dominical, reuniram-se mais de 300 fiéis e defensores nos espaços abertos da minúscula capela, circundada por campos de milho.
O trecho de Atlantic Sunrise Pipeline que está na mira do grupo tem 10.200 milhas de comprimento, e vai do Texas para Nova York, envolvendo também estados fronteiriços. Na realidade é o projeto de ampliação de um gasoduto que já existe, a TransCon Natural Gas, uma construção gigantesca de mais de US $ 3 bilhões. Quando for concluída irá fornecer gás natural para 7 milhões de habitações e trará crescimento econômico, empregos e diminuirá os custos de energia, diz a empresa construtora. "É um projeto importante," defende um porta-voz da Williams, Christopher Stockton.
"Desde o advento do gás de xisto, a Pensilvânia produz a maior quantidade de gás natural nos EUA, depois de Texas. Mas não há nenhuma infra-estrutura para unir essas áreas com os mercados. Agora terão acesso ao gás natural na Pensilvânia". A Williams não vai comprar a terra dos proprietários, apenas paga para escavar o terreno agrícola, colocar as tubulações e, depois devolve a terra. No papel, pela proposta da Stockton, a empresa vai compensar os agricultores pelas culturas perdidas e irá verificar se a produção, após a instalação dos equipamentos, voltará ao normal.
As irmãs, no entanto, têm ressaltado que o gasoduto vai transportar combustíveis muito perigosos para o ambiente e não sustentáveis para aqueles que realmente acreditam na preservação da Criação. "Nós queremos uma energia sustentável", declararam as "Adoradoras do Sangue de Cristo", "e esses combustíveis fósseis prejudicam seriamente o ecossistema a que pertencemos".
Apenas aparentemente a empresa estaria dando a elas uma escolha, de acordo as freiras, sem, na realidade, mudar minimamente os seus projetos. As irmãs, que também administram uma casa de repouso, próxima ao terreno, são parte de um grupo de cerca de trinta proprietários que não assinaram o acordo com a empresa. E foi justamente durante um jantar na residência das religiosas, que o grupo de ativistas "Lancaster Against Pipelines" teve a ideia de construir uma capela como baluarte. Na denúncia, apresentada no tribunal, as irmãs afirmam que a autorização federal ao gasoduto viola sua liberdade religiosa. Se a Williams vencer e obtiver de imediato os direitos sobre a terra, os ativistas da “Lancaster Against Pipelines" estão prontos para começar uma vigília ininterrupta no local para impedir a destruição da capela. Agora, a palavra vai para os juízes. A sentença é aguardada para as próximas horas.
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Estados Unidos. Religiosas na Pensilvânia bloqueiam a construção do gasoduto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU