24 Março 2017
Governo tenta abafar operação que inclui fazenda de Daniel Dantas; JBS leva multa de R$ 25 milhões; Ministério da Agricultura diz não saber de nada.
A reportagem é publicada por De Olho nos Ruralistas, 23-03-2017.
Deflagrada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Operação Carne Fria já interditou 15 frigoríficos e 20 fazendas, desde segunda-feira, em três estados: Pará (11), Tocantins (3) e Bahia (1). Não há relação com a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. A Carne Fria tem foco no desmatamento, por causa da compra de gado oriundo de áreas embargadas pelo órgão.
Segundo o site O Eco, o governo federal tenta abafar ação de sua própria instituição: “Operação ‘Carne Fria’ do Ibama autua JBS, mas governo federal tenta abafar“. O portal informa que o Ibama estava pronto para divulgar o sucesso da operação, “a mais técnica que já realizou”, mas o governo federal, em Brasília, “começou uma operação para tentar abafar a divulgação em nível nacional”.
O Eco conta que a presidente do Ibama, Suely Araújo, ensaiou duas vezes convocar uma coletiva de imprensa. Uma delas ocorreria amanhã em Belém, junto com o Ministério Público Federal. “A reviravolta ocorreu porque nem mesmo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estava bem informado sobre a Carne Fria”, diz o site. O Ministério da Agricultura diz que não tem conhecimento da operação.
Diz ainda O Eco:
– Quando o Planalto tomou conhecimento do que estava acontecendo foi cobrar satisfações do Ibama pelo novo desastre de comunicação e tentar adiar a sua publicidade. Tarde demais. A tentativa de conter danos não funcionou porque o Ibama havia avisado sobre a ação a repórteres da Rede Globo e Repórter Brasil.
A Repórter Brasil traz mais detalhes sobre a operação e a rede de frigoríficos notificados. E conta que, entre as fazendas notificadas pelo Ibama, está a Café Paraíso da Santa Bárbara, do grupo ligado ao Opportunity do banqueiro Daniel Dantas.
A JBS, também investigada na Carne Fraca, levou multa de R$ 24,7 milhões por adquirir 49.468 cabeças de gado em áreas embargadas, a maior parte do total de 58,8 mil reses comercializadas pelos investigaados: “JBS compra gado de área desmatada ilegalmente e leva multa de R$ 24 milhões“.
De Olho nos Ruralistas revelou em outubro que a JBS admite incidência de 10% de terras de fornecedores em UCs e áreas indígenas. Justamente as que estão na fronteira agropecuária. A alegação é a de que há ” possíveis diferenças de escalas entre os mapas”. Confira aqui o texto: “JBS tolera 10% de terras de fornecedores em UCs e áreas indígenas“.
O Estado de Minas observa que os frigoríficos já haviam assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal, se comprometendo a não comprar animais de fazendas em situação irregular. O jornal conta que o Ibama aplicou, desde segunda-feira, 186 autos de infração, com multas que ultrapassam R$ 264 milhões.
Procurada por O Eco, a JBS negou ter comprado gado de fornecedores irregulares. E, sem mencionar a tolerância de 10% divulgada em relatório, afirmou que “não adquire animais de fazendas envolvidas com desmatamento de florestas nativas, invasões de terras indígenas ou de conservação ambiental e que estejam embargadas pelo Ibama”.
Em Feliz Natal (MT), em outra operação na terça-feira (21/03), o Ibama prendeu seis pessoas em um assentamento, por crime ambiental, e incendiou ferramentas e equipamentos utilizados pelo grupo. Entre os equipamentos, tratores. O site Olhar Direto informa que foram apreendidos quatro tratores, 250 m³ de toras de madeira, duas picapes e motosserras. Segundo a Polícia Federal, os presos disseram que a madeira ilegal abastecia madeireiras de Feliz Natal, a 511 quilômetros de Cuiabá.
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“Carne Fria”: Ibama interdita frigoríficos ligados a desmatamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU