10 Novembro 2016
Donald Trump não só venceu as eleições e se tornará presidente dos Estados Unidos em janeiro como o seu partido terá maioria no Congresso abrindo caminho para que uma série de propostas se torne realidade.
A reportagem é publicada por BBC Brasil, 09-11-2016.
É impossível prever que elementos da retórica de campanha continuarão sendo defendidos e o que, de fato, seria aprovado pelo Congresso.
Mas, com base no que foi dito durante a campanha, confira 8 áreas que podem mudar com Trump na Casa Branca:
1 – Imigração dificultada e muro na fronteira com o México
Tanto Barack Obama quanto Hillary Clinton apoiavam reformas no sistema de imigração americano, que dariam cidadania a imigrantes ilegais que hoje vivem nos Estados Unidos.
Já Trump declarou que pretende deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e barrar totalmente a entrada de imigrantes muçulmanos nos Estados Unidos.
Sua promessa de construir um muro na fronteira com o México gerou revolta entre parte da comunidade hispânica no país.
Ao final da campanha, Trump não mudou o tom prometendo, por exemplo, "veto extremo" à imigração. Não deu detalhes, entretanto, sobre quais políticas iria realmente adotar. No entanto, é praticamente certo que as medidas prometidas pelos democratas não sejam implementadas.
2 – Suprema Corte mais conservadora
No momento, a Suprema Corte americana está dividida. Quatro juízes são considerados conservadores e outros quatro são considerados liberais. Falta nomeação do nono integrante.
Com a vitória, Trump poderá indicar mais um juiz conservador para a vaga criada pela morte de Antonin Scalia, em fevereiro.
Com o Senado nas mãos dos Republicanos, não deverá ser difícil para o novo presidente preencher os lugares ocupados por alguns juízes liberais prestes a se aposentar com juízes conservadores. Um supremo menos liberal e mais simpático às causas conservadoras, facilitaria a relação com o Executivo americano.
3 – Mais protecionismo econômico
Trump se manifestou contrário às políticas de comércio da China e prometeu proteger a indústria americana. Sua ameaça de impor tarifas punitivas pode gerar uma guerra tarifária.
Trump já se declarou contrário ao acordo de livre comércio entre os países do Pacífico, a Parceria Trans-Pacífica, que seria firmado entre Estados Unidos, Japão e outros dez países com costa no oceano Pacífico.
O Nafta, acordo entre Estados Unidos, México e Canadá também pode vir a sofrer revisões.
A relação comercial com o Brasil não foi tema de campanha, mas, em 2015, Trump citou o país em uma fala sobre relações comerciais injustas com os Estados Unidos. O discurso protecionista do candidato, portanto, pode entrar em colisão com expectativas do Brasil de exportar mais e amenizar o déficit que acumula com os Estados Unidos.
4 – Revisão da política de combate à mudança climática
Barack Obama é considerado o presidente americano mais ativo em relação às políticas de mudança climática. Trump deve liderar uma guinada nessa área.
Além de abandonar as medidas de Obama, o próximo presidente dos Estados Unidos afirmou durante a campanha que cancelaria os acordos de Paris de combate à mudança climática.
Trump também disse que cancelaria o financiamento americano aos programas de combate ao aquecimento global da ONU.
O posicionamento de Trump na área é claro: mais incentivo aos combustíveis fósseis, menos regulação para a indústria petrolífera e a aprovação do duto de petróleo que passará do Canadá para os Estados Unidos.
5 – Política nuclear e revisão do acordo com o Irã
É notório que Trump mantém nenhum apreço pelo acordo firmado entre os Estados Unidos e o Irã, que impediria o país de produzir armamentos nucleares.
O acordo, firmado após intensas negociações lideradas por Obama e pelo seu secretário de Estado, John Kerry, poderá vir a ser revisado pelo próximo presidente.
Trump também não se mostrou contrário à aquisição de arsenais nucleares por Japão e Coreia do Sul, gerando forte tensão com a China. A posição contrasta, por exemplo, com o comprometimento de Obama com um mundo com menos armas nucleares.
6 – Fim do Obamacare
Aprovado sob duras penas no primeiro mandato de Barack Obama, o Obamacare – principal política doméstica do atual presidente que dá acesso ao seguro de saúde a pessoas que não podiam financiar um plano privado – deve ser substituído.
Trump prometeu implementar um sistema que seguirá os "princípios do livre mercado".
Sua proposta provavelmente não encontrará obstrução no Congresso, de maioria republicana.
7 – Temor na Otan e mudança das relações com a Rússia
A Organização do Tratado Atlântico Norte, a maior aliança militar do mundo, encabeçada pelos Estados Unidos, não recebeu garantias do próximo comandante-em-chefe das forças armadas do país.
Pelo contrário, Trump classificou a OTAN de obsoleta e prometeu revisar o funcionamento da organização.
O principal comprometimento entre os países membros da OTAN é uma cláusula no acordo determinando que um ataque a qualquer membro da organização é considerado pelos demais membros como sendo um ataque ao próprio país.
De forma geral, a política internacional de Trump, que pode ser baseada em uma relação mais próxima com a Rússia, pode afetar questões como a guerra civil da Síria e os impasses na Ucrânia.
No entanto, uma eventual revisão do compromisso fundamental com a OTAN representararia uma guinada imprevisível na geopolítica internacional, afetando diretamente a Europa. Na União Europeia, as declarações contrárias a OTAN estão sendo vistas como um segundo baque após a votação dos britânicos pela saída do bloco, conhecida como Brexit.
8 – Menos impostos para negócios americanos
O republicano prometeu cortar impostos como nenhum presidente desde Ronald Reagan. A promessa é reduzir impostos de maneira generalizada, mas beneficiando, principalmente, segundo a campanha de Trump, famílias com renda média.
Um dos itens dessa reforma prevê que nenhuma empresa americana pague ao governo mais do que 15% de seus lucros. Atualmente, esse percentual máximo pode chegar a 35%.
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Oito políticas de Donald Trump que podem mudar os EUA (e o mundo) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU