01 Setembro 2016
Por mais incrível que possa parecer em 1964 a base do golpe tinha mais apoio do que em 2016.
Em 1964 lembro-me perfeitamente de uma cena que me marcou e que demonstra a diferença daquela data e dos dias atuais.
O comentário é de Rogério Maestri, engenheiro, publicado por Jornal GGN, 01-0-2016.
Como estávamos em plena guerra fria, onde havia uma dualidade entre Estados Unidos e União Soviética, para muitos brasileiros o golpe civil-militar parecia no início uma forma de livrar o Brasil de se tornar uma nova Cuba onde a propaganda intensa da imprensa da época descrevia enormes barbaridades do regime Castro.
Pois bem, morava eu há menos de 100 metros das portas do palácio Piratini, a sede do governo do estado do Rio Grande do Sul, para ser mais exato, a minha residência era a residência particular mais próxima deste palácio, logo passar pela frente do mesmo era um imperativo normal que se fazia toda a vez que não se pegasse o Bonde linha Duque de Caxias para ir ao centro.
Poucos dias após o golpe e depois de retornarmos de nossa saída estratégica de casa para o interior, algo que era feito quando a situação política se agravava e naturalmente tornávamos alvo de possíveis bombardeios ao palácio Piratini (o que por pouco não havia ocorrido em 1961), presenciei uma cena que para os meus 11 anos da época gravou e que agora relato.
Estava saindo de casa (isto deve ter sido lá por maio ou junho de 1964) e nos dirigíamos numa direção que necessariamente passaríamos de fronte ao Palácio Piratini. Quase a frente da porta principal deste palácio, fomos retidos por uma meia dúzia de batedores da polícia militar do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar, que fechavam a passagem num cordão de isolamento frouxo e com um mínimo de segurança. Esperamos um pouco e logo a uma distância de menos de dez metros passou o governador do estado e o General Castelo Branco, que no momento já era presidente da república. Alguns populares que estavam na mesma situação que nós, parrados esperando a passagem dos dignitários pouco dignos, aplaudiram e os outros simplesmente esperaram eles passar para continuar a sua vida.
Vejam, isto ocorreu em Porto Alegre, cidade que se notabilizou muitas vezes pela resistência a movimentos golpistas, mas o que queria chamar a atenção que nos primórdios do golpe civil-militar de 1964, um presidente golpista saia pela porta da frente do palácio, sem uma grande escolta e a preocupação com sua segurança era mínima.
Posso também relatar que já em 1966 quando ocorria uma visita do governo federal, ministros, por exemplo, eles já saíam de automóvel e não de a pé (a formulação “de a pé” é característica do português do século XVIII) uma saída lateral que foi devidamente ajustada para saídas de rápidas e incógnitas de figuras lá não muito populares.
Vejam a diferença, em 1964, um presidente golpista, num estado que tinha características de forte oposição podia atravessar a calçada para entrar no automóvel. Já em 2016 o interino golpista não sai em público em lugar nenhum.
Agora projetando um pouco, se em 1966 a popularidade dos golpistas já havia se deteriorado ao ponto de ser mudado todo o esquema de segurança, que ocorrerá aos golpistas de 2016 em 2018?
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A leitura ingênua sobre o golpe
A sessão final do golpe com nome de impeachment no Senado – epílogo da Operação Café Filho
1964. Um golpe civil-militar. Impactos, (des)caminhos, processos. Revista IHU On-Line, Nº. 437
Brasil, a construção interrompida. Revista IHU On-Line, Nº. 439
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1964 tinha no início mais apoio do que 2016 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU