Por: André | 30 Mai 2016
“Parece que a pedra de escândalo é que eu receba a senhora Bonafini. Sei bem quem ela é, mas minha obrigação de pastor é compreender com mansidão”, escreveu Francisco em um correio eletrônico a um amigo argentino com quem frequentemente troca mensagens e que preferiu conservador o anonimato.
A reportagem é publicada por Télam, 26-05-2016. A tradução é de André Langer.
“Esta senhora, da praça (de Maio), me insultou várias vezes com artilharia pesada, mas não fecho a porta a uma mulher a quem sequestraram os filhos e não sabe como e quanto tempo os torturaram, quando os mataram e onde os enterraram. O que vejo ali é a dor de uma mãe. Se ela me usa ou não, isso não é problema meu. Meu problema seria não tratá-la com a mansidão de pastor”, acrescentou Francisco, na mensagem, à qual Télam teve acesso.
Nos últimos dias, diante das críticas que surgiram, vindas de alguns setores que não veem com bons olhos o encontro de amanhã [sábado, dia 27 de maio], o Papa Francisco ocupou-se pessoalmente de esclarecer entre amigos e conhecidos qual é o verdadeiro sentido do encontro que acontecerá na residência de Santa Marta.
No mesmo sentido, o padre portenho Fabián Báez – que é pároco em Villa Urquiza e ganhou fama quando o Papa o convidou para subir no papamóvel em uma de suas passagens pela Praça São Pedro – contou a Télam uma conversa telefônica que teve nos últimos dias com Jorge Bergoglio.
“Perante uma mãe a quem mataram o filho, ponho-me de joelhos, não pergunto nada”, disse Francisco ao padre, que foi seminarista da catedral metropolitana no final dos anos 90 quando as Mães da Praça de Maio de Bonafini tomaram o templo durante a Semana Santa.
“Eu não tenho mais que misericórdia por Bonafini”, disse o Papa a outro amigo argentino, Luis Liberman, diretor da Cátedra do Diálogo e da Cultura do Encontro, em uma conversa por telefone.
A visita de Bonafini – de 87 anos – começou a ser preparada há mais de dois anos, quando a presidenta das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, esteve no Vaticano, segundo recordaram fontes próximas ao Papa.
No entanto, segundo confirmaram à Télam pessoas próximas a Bonafini, a presidenta da associação entregará ao Papa um lenço branco, símbolo da entidade, e depois participará de uma coletiva de imprensa.
Na semana passada, ao confirmar sua visita, Bonafini admitiu estar “pensando muito” no que vai dizer ao Pontífice, “porque é uma oportunidade única na vida e tenho que fazer algo que seja bom”.
“Escrevo, apago, corto, acrescento, me levanto à noite e continuo escrevendo ideias, porque acontecem tantas coisas na América Latina que um dia digo ‘isto é o mais importante’ e no dia seguinte há algo pior ou melhor”, explicou então a presidenta da organização de direitos humanos.
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“Se Hebe de Bonafini me usa ou não, isso não é problema meu”, diz Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU