20 Janeiro 2016
Autor do livro O Brasil entre o Presente e o Futuro (Mauad, 2015), o sociólogo José Maurício Domingues, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ e pesquisador associado do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz analisa o contexto político.
A entrevista foi publicada por Zero Hora, 17-01-2016.
Eis a entrevista.
Depois de uma inclinação à esquerda, o Brasil e a América Latina assistem a um fortalecimento da direita. Como o senhor lê esse movimento?
Os projetos da esquerda não só enfrentaram resistência dos conservadores como têm dificuldades para avançar além do ponto para onde nos levaram. Houve um enfrentamento da pobreza, a questão social veio para o centro da discussão. Mas não avançamos além do social-liberalismo. A esquerda ficou refém do seu próprio pensamento limitado. E as pessoas têm reivindicações maiores em relação às políticas sociais. A esquerda tem que voltar a pensar o que oferece aos jovens. Não é tanto que haja um cansaço com a esquerda, acho que é mais um horizonte curto que esse giro à esquerda levava consigo: ele era portador de modificações relevantes na área social, mas não conseguiu oferecer uma perspectiva civilizatória distinta.
No Brasil também tivemos muitas denúncias de corrupção...
O PT teve – e tem – um papel fundamental na história brasileira, mas houve evidentemente equívocos. E uma certa reificação do Estado como portador da mudança social sem apostar na população como um elemento mobilizador, sem oferecer um horizonte mais forte de transformação. O projeto do lulismo efetivamente se esgotou. Está na hora de criar uma nova agenda, novas coalizões.
E quais são as perspectivas?
A esquerda sofreu uma derrota enorme no final do século 20, mas particularmente na América Latina os avanços são inegáveis. Agora chegamos a um impasse: a esquerda pode ser totalmente derrotada, se não souber se renovar, mas também pode se reinventar e avançar de novo. Isso significa deixar de ser arrogante, ouvir a sociedade, os intelectuais, e estabelecer um novo tipo de diálogo, porque a esquerda às vezes vai se fechando e tem dificuldade de escutar, se fecha nos seus aparelhos de poder, que foi o que aconteceu nos últimos anos na América Latina. E vai perdendo o rumo, achando que já sabe tudo. E a culpa é sempre dos outros, sem ser capaz de olhar para si mesma.
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“A esquerda ficou refém do seu próprio pensamento” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU