Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Primeira Leitura: Ml 3,19-20a
Segunda Leitura: 2Ts 3,7-12
Salmo: 97,5-9
Evangelho: Lc 21,5-19
A liturgia deste domingo, mais do que assustar, quer mostrar que Deus tem a última palavra sobre a história. Tudo vai passar... os que praticam a injustiça, as grandes estruturas, tudo. Deus, porém, não passa. Ele é o Senhor da história. Cuida até dos cabelos de nossas cabeças.
Lc 21,5-19: No ano 70 d.C. o exército Romano arrasou Jerusalém e o templo construído por Salomão entre 971-931 a.C. (cfr. 1Rs 6). Esta é a segunda destruição, pois em 596-589 a.C. a cidade e o templo haviam sido destruídos pelos babilônios (cf. 2Rs 24-25). Este templo foi reconstruído logo depois do Exílio (Esd 3). A destruição do primeiro templo tinha sido profetizada por diversos profetas (Mq 3,12; Jr 7,1ss, etc.). Agora, Jesus, como os profetas de outrora, profetiza o fim do segundo templo, pois Israel não aceitou o salvador enviado por Deus.
A destruição do templo (70 d.C.), que no tempo de Lucas (80 d.C.) já tinha acontecido, é, para muitos, presságio de guerras, terremotos, pestes. Pensavam eles que o fim chegara, pois a cidade e o templo eram considerados o lugar mais santo do mundo e a morada do Altíssimo. Se Deus permitiu que as tropas romanas entrassem na cidade e arrasassem tudo, só podia ser um aviso: o fim chegou. Mas, uma leitura atenta do texto, mostra justamente que este não é o caso.
Em linguagem apocalíptica se mostra que o sistema religioso vigente nos tempos do NT não é absoluto e que os cristãos não devem dar ouvidos a falsos anunciadores. Devem saber que ainda resta muita história: “Antes disso tudo, porém, sereis presos e perseguidos” (v.12). Em outras palavras, o que acontece, a começar pela destruição do templo, é um sinal de que aquele sistema não era absoluto. Tudo cai e a história continua. Por isto, os discípulos devem resistir, não temer os tribunais. Se nos anos 70 da era cristã, diante da ocupação romana em Israel, diante da destruição da cidade e do templo, algumas pessoas julgavam que o fim estivesse próximo, o evangelho que lembra ainda não é o fim da história. Os discípulos devem permanecer firmes, sem medo.
Sempre, através da história, houve falsos profetas que queriam marcar uma data para o fim do mundo. Já nos tempos de Paulo (1-2Ts) havia tal crença e mais tarde, os milenaristas fixaram datas do fim do mundo em diversas ocasiões. No nosso tempo, em diversas denominações religiosas, há tentativas de prever o fim. Mas isto é perda de tempo. Só Deus sabe (Mc 13,32). Todos estes fatos apenas mostram que tudo passa, até os maiores sistemas políticos e religiosos. Ao longo da história do cristianismo houve muitas guerras, perseguições, fenômenos da natureza, pestes. O fim ainda não veio, apesar das muitas previsões.
O texto de hoje quer incutir ânimo no povo, apesar das dificuldades: “É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim” (v.9). Em outras palavras: perseguições, guerras, pestes, fenômenos naturais, tudo isto aflige, mas não quer dizer que o fim está próximo. Se assim fosse, o mundo já teria acabado há muito, pois basta abrir um livro de história e perceber que sempre teve guerras, perseguições, pestes e fenômenos cruéis da natureza.
Ml 3,19-20a: o profeta Malaquias é do período pós-exílico (séc. V a.C.). O povo que sofreu as agruras do Exílio pensava que, uma vez de volta à pátria, teria só paz e harmonia. Mas não foi assim. As injustiças continuaram a ser praticadas, agora pelos próprios irmãos, em seu país. Pior, parece que as profecias de novo céu e nova terra não se cumpriram. Os maus prosperavam, os justos sofriam e Deus não estava vendo. Malaquias quer animar a comunidade. A última palavra é de Deus. O bem vencerá.
2Ts 3,7-12: pensavam alguns tessalonicenses que o fim estivesse próximo, por isto mesmo não valeria mais trabalhar. Com a vinda do Filho do Homem tudo seria transformado. Paulo condena esta fantasia. Todos devem trabalhar e comer o pão, fruto do seu trabalho. A história continua. Por isto é preciso avançar com confiança.