33º Domingo do Tempo Comum - Ano B - A esperança de uma nova vida

Foto: Wikimedia Commons

12 Novembro 2021

 

É importante salientar que a fé em Jesus Cristo, transmitida pelos sábios e profetas, realiza-se numa dinâmica toda escatológica, do já e ainda não. Isso significa que o que se manifestou do Reino na pregação e atuação de Jesus alcançará sua plenitude quando seja do conhecimento de Deus e do desconhecimento do povo. Por isso, a parábola do Evangelho de Marcos (Mc 13,24-32), que evoca o aspecto da temporalidade e natureza da figueira, cumpre sua função de indicar a proximidade do Reino de Deus que pode ser experimentada numa escuta atenta da realidade, num sábio discernimento dos acontecimentos do presente e no protagonismo corajoso de construção de uma nova terra sem males e mortes.

 

A reflexão é de Tânia da Silva Mayer, leiga. Ela possui graduação em Teologia (2012) e é mestra em Teologia Sistemática (2015) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE/BH. É editora de textos da Comissão de Publicações do Vicariato Episcopal para a Ação Pastoral, da Arquidiocese de Belo Horizonte e articulista no Portal Dom Total. Assessora paróquias, comunidades e grupos, com formação teológica e litúrgica, em Belo Horizonte e demais cidades.

 

 


Leituras do Dia

 

1ª Leitura - Dn 12,1-3
Salmo - Sl 15,5.8.9-10.11 (R.1a)
2ª Leitura - Hb 10,11-14.18
Evangelho - Mc 13,24-32

 

Estamos avançando para a conclusão de mais um ano litúrgico. Ao longo desses mais de trinta domingos temos caminhado com Jesus, aprendendo com ele o amor que nos converte para Deus e para os irmãos e irmãs. Nesta reta final do Ano B, a liturgia do 33° Domingo do Tempo Comum ajuda a comunidade de fé a transitar pedagógica e, sobretudo, mistagogicamente do tempo comum para o tempo do advento, que inicia o Ciclo do Natal. Conforme veremos, por trás de primoroso elenco de textos do Antigo e Novo Testamentos, somos convidados mais diretamente a meditar e a viver à maneira de Jesus no aqui e agora de nossas existências, vislumbrando e preparando o futuro no qual encontraremos a felicidade verdadeira no serviço oferecido a Deus quando do novo céu e terra.

 

Evidentemente, o pano de fundo dessa liturgia é a participação dos cristãos e cristãs no Reino de Deus. As leituras dos textos bíblicos deste domingo indicam, cada uma a seu modo, como esse movimento de pertença ocorre numa dimensão escatológica, isto é, ao modo dos acontecimentos últimos, de uma última realidade. No entanto, isso não indica que o seguimento de Jesus se realizará de maneira alienada do mundo e do tempo presente, como propõe alguns grupos e igrejas cristãs. A participação no Reino é para agora.

 

Está clara a dicotomia entre quem está fechado ao Reino e aqueles que pertencem ao Senhor. A perspectiva de que o povo de Deus encontrará a salvação em tempo oportuno e ainda mesmo após a morte dá o tom das leituras bíblicas tomadas do Antigo Testamento (Dn 12,1-3) para este domingo. A fé inabalável na superação da angústia e da dor e da participação na glória dão a tônica da profecia de Daniel, que reafirma, inclusive, uma fé na ressurreição dos mortos, na esteira do segundo livro dos Macabeus. Fé semelhante reconheceremos na sabedoria sálmica do povo de Deus (Sl 15,5.8.9-10.11) meditada neste domingo. A lógica da fé não poderia ser outra: se Deus nos salvou em vida - nos livrou dos inimigos - Ele há de nos salvar da morte - último inimigo.

 

Nesse sentido, a esperança de uma nova vida será, em Jesus, ressignificada e potencializada. Podem passar céu e terra, mas a palavra de Jesus permanece anunciando e realizando o tempo novo, o Reino que suplantará todas as relações e instituições que impedem a vida de florescer. O anúncio profético de Jesus em tom apocalíptico pode enganar pelo imaginário futurista de um povo que vive à espera de um messias bélico e apoteótico. O anúncio é antes uma leitura daquilo que já está acontecendo por meio das obras e palavras de Jesus e que se consumou na sua entrega definitiva na morte de cruz e na sua ressurreição. É nesse sentido que o trecho do texto de Hebreus (Hb 10,11-14.18) salienta a figura de Jesus Cristo, partícipe na glória de Deus, como aquele que realizou de uma vez por todas a reconciliação - definitiva - daqueles que por ele são santificados.

 

É importante salientar que a fé em Jesus Cristo, transmitida pelos sábios e profetas, realiza-se numa dinâmica toda escatológica, do já e ainda não. Isso significa que o que se manifestou do Reino na pregação e atuação de Jesus alcançará sua plenitude quando seja do conhecimento de Deus e do desconhecimento do povo. Por isso, a parábola do Evangelho de Marcos (Mc 13,24-32), que evoca o aspecto da temporalidade e natureza da figueira, cumpre sua função de indicar a proximidade do Reino de Deus que pode ser experimentada numa escuta atenta da realidade, num sábio discernimento dos acontecimentos do presente e no protagonismo corajoso de construção de uma nova terra sem males e mortes.

 

Hoje, os cristãos e cristãs convivem com o negacionismo genocida que já provocou mais de seiscentos mil mortes pela Covid-19. A política antipovo do governo federal provoca não apenas o maior índice de inflação dos últimos anos, mas uma multidão de famintos e assolados pela miséria. A violência policial e a civil fomentam o clima de medo e a insegurança social. A usurpação de direitos e os casos de racismo, lgbtfobia e feminicídio pululam nos noticiários. O que fazer?

 

Sem dúvidas, devemos alimentar a esperança pelo Reino. Não qualquer reino ou sistema político, mas o Reino governado por Deus. Devemos acreditar na força que a salvação de Jesus Cristo provoca em nossas vidas. Mas nada disso pode ocorrer se não buscarmos pertencer ao grupo das mulheres e homens que desejam estar na companhia de Jesus como discípulas e discípulos. Para isso, não há escolha relativa ao meio termo - morno: é imprescindível tomar partido aqui e agora na luta pela vida digna para todas as pessoas, sem distinções, pelos direitos dos menores e minorias, pelo pão em todas as mesas, sinais da justiça social e antecipação da vida plena e abundante que iremos gozar - na esperança - no Reino preparado para os eleitos desde a fundação do mundo.

 

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