15 Novembro 2018
«Nesses dias, depois da tribulação, o sol vai ficar escuro, a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu, e os poderes do espaço ficarão abalados. Então, eles verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos dos quatro cantos da terra, e reunirá as pessoas que Deus escolheu, do extremo da terra ao extremo do céu.» «Aprendam, portanto, a parábola da figueira: quando seus ramos ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto. Vocês também, quando virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que ele está perto, já está às portas. Eu garanto a vocês: tudo isso vai acontecer antes que morra esta geração que agora vive. O céu e a terra desaparecerão, mas as minhas palavras não desaparecerão.»
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos no céu, nem o Filho. Somente o Pai é quem sabe.
Leitura do Evangelho de Marcos 13,24-32. (Correspondente ao 33º Domingo Comum, do ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Os textos da liturgia deste domingo são um convite à esperança, após ter havido momentos e situações de dificuldade, de escuridão e de desassossego. É um chamado a não se deixar abater pela morte ou por inquietações. Pelo contrário, é um apelo a abrir-se mais confiadamente ao Filho do Homem que virá cheio de poder e glória e vai mudar a noite do mundo numa aurora de vida que não terá fim.
O capítulo 13 do evangelho de Marcos foi denominado como “discurso escatológico”. A cena situa-se em Jerusalém, onde estão Jesus e seus seguidores. Ele continua ensinando e oferece-lhes o ensino que ficou conhecido como discurso escatológico.
Lembre-se de que o Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho escrito e é fundamental não somente para conhecer mais quem é Jesus, mas também porque motiva e gera confiança nele como Filho de Deus que vem para trazer a verdadeira vida e liberdade. Uma justiça largamente esperada. No momento que o texto é redigido, as comunidades sofriam perseguições, muitos discípulos e discípulas foram martirizados. Era preciso fortalecer a fé e a esperança das comunidades cristãs e convidá-las a colocar seu olhar para além do imediato. A pergunta que subjaz é: o que vai acontecer depois da morte? Tudo acaba?
No trecho do evangelho que lemos hoje, percebe-se uma linguagem profético-apocalíptica, com imagens e referências simbólicas e até enigmáticas. Jesus utiliza essa linguagem para falar do período que vai desde a morte de Jesus até o final da história humana. A palavra apocalipse significa revelação. É o desvelamento de uma realidade que está oculta, como um segredo escondido. No Antigo Testamento, usa-se para falar do fim de uma realidade geralmente de opressão e do início de uma nova situação que vai acontecer.
A pergunta que está subjacente é: quando acontecerá isso, quais são os sinais que aparecerão para saber que acontecerá? Jesus responde não somente para a comunidade de Marcos, mas para todos os cristãos de todos os tempos.
Junto com o grupo dos que estão perto de Jesus, nos colocamos também cada um e cada uma de nós para escutar suas palavras. Num primeiro momento descreve aquilo que vai morrer, desaparecer, cair, não existir mais... Mas não é esse o fim! Pelo contrário, é o começo de uma nova realidade que será visível e que virá sobre “as nuvens com grande poder e glória”. É a vinda do Filho do Homem que “enviará os anjos dos quatro cantos da terra e reunirá as pessoas que Deus escolheu”.
Nas palavras de Jesus, percebemos que Deus intervém na história de uma forma definitiva! Não sinala o fim, como algo que acaba, senão marca o começo de uma nova realidade. É uma mensagem destinada às comunidades de todos os tempos e no seu discurso Jesus oferece as indicações necessárias para viver seguindo seu caminho.
Como reconhecer a vinda do Filho do Homem que virá instaurar o novo céu e a nova terra?
Jesus usa a imagem da figueira para explicar sua mensagem: “Aprendam, portanto, a parábola da figueira: quando seus ramos ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto”.
Num primeiro momento é preciso estar numa atitude de aprendiz, é a atitude da pessoa que não conhece, mas sabe que deve ser instruída e formada. Somente assim as palavras de Jesus têm sentido não somente para a comunidade do primeiro século do cristianismo, mas também para cada uma das nossas comunidades. Jesus convida-nos a ter uma atitude atenta, vigilante para descobrir assim sua presença no meio de nós.
Jesus convida-nos à vigilância, a ter coragem para não nos deixar desanimar pelas diferentes dificuldades que podem acontecer. É necessário ficar atentos, estar ligados para redescobrir nos acontecimentos do dia a dia os apelos de Deus presente no meio de nós.
Quais são hoje os sinais que nos rodeiam e que escondem o convite e o chamado a descobrir a vinda do Filho do Homem? Acreditamos que ele está atuando neste mundo, neste momento histórico? Acreditar que o Senhor está presente na história é um apelo a caminhar sem baixar os braços, com a confiança posta no Senhor, que leva adiante seu projeto. Ninguém sabe o dia nem a hora, mas ele está presente e é preciso distinguir e discernir os sinais da sua presença no mundo, na Igreja, nos acontecimentos do dia a dia.
Continuamente os jornais nos informam sobre mortes, assassinatos, catástrofes, quase como um convite a viver na desesperança! Mas neste domingo somos chamados/as a ter um olhar atento, vigilante, e não desanimar, mas pelo contrário, descobrir os ramos verdes e as folhas que começam a brotar, e acrescentar nossa esperança para contribuir com nossa vida na construção do Reino, que brota como as folhas da figueira quando se aproxima o verão.
Quais são os sinais de vida que hoje estão presentes na nossa Igreja apesar das dores e dificuldades em razão das infidelidades, das atrocidades dentro da mesma instituição?
Anne Marie Pelettier, referindo-se à Carta do Papa Francisco ao povo de Deus , pede que repensemos radicalmente nossa visão da instituição. “Precisamos imaginar uma Igreja com várias vozes que evidentemente incluirá as vozes das mulheres. Elas têm um relacionamento diferente com o poder do que os homens, o que poderia inspirar de forma útil a igreja institucional”. (Texto completo: Repensando a Igreja com múltiplas vozes. Artigo de Anne-Marie Pelletier)
É verdade que a obstinação do papa Francisco desde a sua eleição em invocar e comunicar “a alegria do Evangelho” pode parecer totalmente irreal no presente. Mas é isso que nos permite mergulhar fundo o suficiente no Evangelho, exatamente para enfrentar a situação atual.
Peçamos ao Espírito luz e sabedoria para descobrir sua presença no meio de nós e que as dificuldades não apaguem a vida que brota silenciosamente em tantas pessoas.
Guiados/as pela sua Palavra que saibamos reconhecer sua vida que sempre está presente, latejando até nos lugares mais inóspitos!
Muito maior que a morte é a vida.
Um poeta sem orgulho é um homem de dores,
muito mais é de alegrias.
A seu cripto modo anuncia,
às vezes, quase inaudível
em delicado código:
‘Cuidado, entre as gretas do muro
está nascendo a erva...’
Que a fonte da vida é Deus
há infinitas maneiras de entender.
Adélia Prado
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