15 Setembro 2011
Morreu nesta manhã (dia 14), em Munique, o jornalista Giancarlo Zizola, especialista em questões vaticanas e atualmente colunista e vaticanista do jornal italiano La Repubblica.
A reportagem é de Luca Rolandi, publicada no sítio Vatican Insider, 14-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Jornalista e fiel, dotado de vasta cultura e profunda capacidade de análise, Zizola gostava de expressar "um sentimento de gratidão diante de tantos dons recebidos em vida, desde que acompanhou o Vaticano II em diante".
Escritor prolífico, mas elegante e de densidade, cavalheiro de outros tempos e colunista com o entusiasmo de um jovem, Giancarlo Zizola faleceu aos 75 anos, enquanto se preparava para regressar para Roma.
Zizola, que havia participado na cidade bávara do encontro das religiões mundiais organizado pela Comunidade de Santo Egídio, havia sido o protagonista de um painel sobre "Religiões e comunicações na era das redes sociais".
Ontem à noite, esteve na Marienplatz para a cerimônia de encerramento do encontro inter-religioso. Enquanto se preparava para a viagem até a Itália, sentiu-se mal no hotel. Transportado para o hospital, já chegou ali sem vida, provavelmente por causa de um ataque cardíaco.
Zizola era um dos vaticanistas italianos de mais extensa e vasta experiência. No passado, havia trabalhado por muito tempo no jornal Il Giorno, na revista semanal Panorama e depois no jornal Il Sole 24 Ore.
Foi escritor durante décadas da revista Rocca, da revista Pro Civitate Christiana, da qual era fiel amigo. Entre as suas pesquisas mais apaixonadas estão certamente as biografias sobre João XXIII, o Pe. Giovanni Rossi, fundador da Cidadela de Assis, e o Concílio Vaticano II.
A lista de seus livros é ampla, e abrange desde o pontificado de João XXIII ao de Bento XVI. Entre os títulos mais recentes, encontra-se um de 2009, Santità e potere. Dal Concilio a Benedetto XVI: il Vaticano visto dall’interno, enquanto, nos anos 1990, o seu Il conclave fez escola.
Giancarlo Zizola era de origem vêneta, nascido no dia 13 abril de 1936, em Montebelluna, na província de Treviso, mas era romano por adoção, na sua longa e bem sucedida carreira, que começou com o Concílio. O jornalista assinou para grandes jornais e revistas na Itália e colaborou, até com pseudônimos, com muitas outras publicações. Apreciado conferencista, era considerado uma personalidade da informação vaticana e religiosa também em nível internacional.
Gostava de Roncalli e leu o Concílio Vaticano II como uma revolução na história da Igreja: nisso, discordava de Bento XVI, assim como havia discordado do cardeal Ratzinger, considerando-o um conservador. Também foi muitas vezes crítico de João Paulo II, reivindicando uma maior colegialidade na Igreja, com uma valorização do papel dos bispos e das conferências episcopais com relação ao papa e à Cúria, seja por simpatia de um modelo "democrático" de Igreja, seja pelas implicações ecumênicas dessa perspectiva de comunhão intraeclesial mais ampla.
Citando o Código de Direito Canônico, Giancarlo Zizola gostava de lembrar que "os fiéis têm direito, e às vezes também o dever, de manifestar a sua opinião sobre as coisas que se referem ao bem da Igreja, aos sagrados Pastores e para torná-la conhecida aos outros fiéis, salvando a integridade da fé e dos costumes, e a reverência para com os Pastores, dando atenção à utilidade comum e à dignidade das pessoas".
Muitos colegas e amigos se lembram Zizola, de Gianfranco Svidercoschi a Gianni Gennari, que afirma: "Mesmo a muitos anos de distância, ele permaneceu substancialmente fiel ao espírito e à letra do Concílio, criticando tanto aqueles que viram na renovação conciliar uma espécie de revolução progressista da Igreja, quanto aqueles que defenderam, como as correntes mais tradicionalistas, que, com o Vaticano II, foi traída, de fato, a autenticidade e a história da fé católica".
"Giancarlo Zizola era um daqueles jornalistas que, quando escreviam, não faziam referência a fofocas, mas refletiam sobre fenômenos históricos e analisam seus percursos". É a recordação, nas páginas do Sir, de Andrea Melodia, presidente nacional da UCSI (União Católica de Imprensa Italiana), da qual Zizola era conselheiro.
"Ele não era só o decano dos vaticanistas – continua Melodia –, era um estudioso da vida da Igreja. A sua bibliografia e atividade universitária em Pádua são a manifestação evidente disso. Para Giancarlo, os aspectos fundamentais da sua ação e do seu pensamento eram, além do valor intelectual, do rigor e da paixão com que abordava as relações entre a sua pesquisa e o seu juízo moral, a sua resposta humana, a sua fé religiosa".
"O encontro de uma personalidade como a de Giancarlo com as instâncias vaticanas poderia ter sido complicado se não lhe fosse natural reconhecer-lhes a seriedade, a competência, o domínio da história e da teologia. Também por isso, Zizola, no Vaticano, tinha tantos amigos, e acredito que a sua morte também é um luto para a Igreja".
Confira abaixo alguns dos últimos textos de Zizola traduzidos e publicados pelo IHU.
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Morreu Giancarlo Zizola, observador do mundo religioso pós-conciliar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU