04 Junho 2012
O encontro entre o papa e o cardeal Carlo Maria Martini ocorreu no sábado à tarde, às 16h45, em uma salinha do Arcebispado de Milão. Durou cerca de sete minutos.
A reportagem é de Armando Torno, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois de ter saudado o cardeal Angelo Scola – eram cerca das 16h30 –, Martini esperou o Santo Padre, que foi ao seu encontro. O Vigário de Cristo lhe disse: "Eminência, eu também venho com uma bengala". O cardeal, que pede neste tempo para ser chamado simplesmente de "padre", saudou o papa em pé e depois se sentou na cadeira de rodas.
Estavam presentes, além dos dois principais interlocutores, Pe. Damiano Modena (atual assistente do purpurado) e Pe. Paolo Cortesi (ex-secretário durante o período em que ele governou a diocese).
O papa e Martini: é um encontro que nos convida a refletir. O Santo Padre o recebeu no Vaticano no ano passado, antes da escolha do novo arcebispo de Milão. Depois, recordou-lhe tendo recém-chegado à capital da Lombardia, no discurso em frente à catedral de Milão (e as pessoas o saudaram, por sua vez, com gritos, ao ouvir seu nome). Portanto, eles se reviram.
Não importa o tempo que passaram juntos. Ousaríamos até acrescentar que não importa nem o que eles se disseram. Martini tinha os seus amplificadores para fazer ouvir a sua flébil voz. O papa, o cansaço destes dias, que todos notaram. Dessa visita recíproca, resta a troca de olhares. Tudo o que se poderia descrever com palavras ou de outra forma é bem pouca coisa pensando nos seus olhos.
O cardeal Martini está contente e sereno, mas o papa também apreciou esse encontro. As pupilas de ambos, nos asseguraram, estavam luminosas, brilhantes. Uma frase, dentre outras, do purpurado, depois daqueles minutos com o Santo Padre: "Eu encorajei o papa a suportar a pesada cruz deste difícil período". Certamente, ela foi proferida em voz baixa, com a sua elegante cadência arruinada pelo amplificador, com um esforço notável.
E, a tais palavras, lhe pedimos que acrescentasse também algumas para nós. Martini foi essencial, mas ao mesmo tempo eloquente: "Estou contente por este encontro. Eu achei o papa provado, mas estou verdadeiramente feliz por tê-lo visto pessoalmente. Ele me agradeceu muito pela proximidade nestas horas nada fáceis. E eu continuarei rezando por ele e pela Igreja".
Os leitores podem se imaginar no Palácio Arquiepiscopal. Martini morou nele, e, nestes dias, ele foi declarado, pela presença do pontífice, extraterritorial. O encontro ocorreu longe do apartamento do cardeal e foi muito reservado. Não há fotos, nem notícias particulares. A discrição e o respeito pelo atual arcebispo guiou todos os momentos. Martini, por outro lado, como jesuíta, fez um voto especial de obediência ao papa, e certamente não são as dificuldades de locomoção ou outras coisas que irão detê-lo quando é chamado.
O que dizem à margem do acontecimento? É possível acrescentar que há momentos impossíveis de esquecer. As coisas e as pessoas seguirão em frente, os cenários mudarão, mas algumas emoções não serão apagadas pelos dias, nem atenuadas. As palavras que o cardeal Martini e o papa se trocaram com os seus olhares e com as poucas palavras fazem parte delas. Alguém, algum dia, se lembrará delas, apesar de que não houvesse testemunhas particulares, apesar da falta de câmeras, fotógrafos, repórteres, conexões com a rede e aquilo que é possível imaginar.
Dois homens, um diante do outro. Que se abraçam com as suas ideias e as suas infinitas esperanças. E a fé que compartilham. Em um momento difícil, muito difícil.
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''Estou contente por este encontro'', afirma Martini a Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU