Um encontro especial entre o papa teólogo e o cardeal biblista e pastor

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03 Junho 2012

Ele havia pedido há semanas e foi agraciado. O cardeal jesuíta Carlo Maria Martini, apesar da doença que torna difíceis os seus deslocamentos e o impede há muito tempo de participar de encontros públicos, quis igualmente levar a sua saudação a Bento XVI, que, em várias ocasiões, o havia lembrado nos discursos sobre a sua transferência ambrosiana.

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 02-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Uma prova de consideração por parte do papa, já que, em geral, limitam-se as saudações ao último arcebispo emérito da diocese visitada, e não também ao seu antecessor. Quem anunciou o encontro foi o seu coirmão jesuíta padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé. A visita do arcebispo emérito de Milão, em meio à tempestade "Vatileaks", parece ser particularmente significativa. Antes como cardeais, depois como papáveis e também nos últimos sete anos, Ratzinger e Martini frequentemente haviam se encontrado em posições divergentes.

Da liberalização da missa em latim às modalidades de reintegração dos lefebvrianos na Igreja: "São dois grandes personagens, completamente diferentes entre si", comenta o escritor católico, Antonio Socci. "Mais uma vez, Bento XVI desmente assim o ridículo rótulo de panzercardinal, e, na simplicidade, o seu modo de agir chama a atenção pela mansidão e pela abertura de coração". Acrescenta Socci: "O fato de que o pontífice ponha acima de tudo a estima pela pessoa havia tido uma clara demonstração com a audiência concedida em Castel Gandolfo ao teólogo do dissenso Hans Küng".

Da mesma forma, especifica Socci, "Ratzinger aprecia Martini como biblista e, mais de uma vez, publicamente, referiu-se ao seu ministério na Igreja ambrosiana. É uma estima recíproca, muito forte, nada formal. O face a face entre o papa e Martini limpa o terreno de preconceitos, inclinações, esquemas de correntes. É o encontro entre dois verdadeiros homens da Igreja".

O vis-à-vis, de forma privada, irá ocorrer na Cúria ambrosiana. O cardeal Martini havia expressado o desejo de encontrar o papa, apesar das precárias condições de saúde. "Ele está bem", explica Dom Erminio De Scalzi, bispo auxiliar de Milão. "Mas tem algumas dificuldades para falar e lhe cansa um pouco caminhar".

Uma outra chave de leitura para o encontro é oferecida pelo historiador do cristianismo Alberto Melloni. "Mesmo na diferença mais profunda de posições entre os dois, há uma proximidade intelectual que vai muito além das representações estereotipadas do conservador e do progressista", observa. "Eles foram os grandes intelectuais do Colégio Cardinalício de Karol Wojtyla. O fato de que, com todo o peso da doença, Martini quis expressar proximidade e afeto ao pontífice é um gesto coerente com a estatura dos dois personagens".

Porém, as suas "candidaturas" em 2005 eram contrapostas. "É verdade que, no início do último conclave, Ratzinger e Martini estavam em competição", destaca Melloni. "Mas, depois, foi Martini que levou para Ratzinger os últimos votos necessários. Portanto, ele foi um grande eleitor dele".

O encontro no arquiepiscopado é um sinal importante, concorda o vaticanista Salvatore Izzo. "Bento XVI sempre demonstrou estima e consideração pelo cardeal Martini, que aprecia como biblista e como pastor", afirma. "É uma estima expressa muitas vezes até nos discursos de improviso, como por exemplo naquele aos seminaristas de Roma. Martini e Ratzinger são coetâneos, são colegas como professores universitários e compartilham uma leitura do Jesus histórico identificado com o Jesus da fé. Eu considero como marginais as divergências que, no entanto, possam existir entre homens desse calibre. E, além disso, Joseph Ratzinger é uma pessoa boa e nunca se ouviu ele pronunciar juízos negativos sobre ninguém".