25 Janeiro 2012
Depois da "revolução verde" para multiplicar a produção agrícola, eis uma nova emergência para o planeta. Os cientistas apontam para soluções insólitas, como a carne artificial, que já está em um estágio avançado.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 24-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que comemos hoje? Uma sopa de algas, um belo prato de insetos fritos ou um hambúrguer artificial? Essas podem ser as delícias oferecidas pelos cardápios por volta do ano 2050, se quisermos saciar os 9,5 bilhões de terrestres que existirão em torno dessa data.
Estudos das Nações Unidas indicam que, nos próximos 40 anos, seria necessário duplicar a produção mundial de alimentos para alimentar os 2,5 bilhões de terrestres a mais que se somarão aos 7 bilhões existentes hoje. Mas duplicar os alimentos produzidos é mais fácil de dizer do que de fazer: um bilhão de pessoas já sofrem de fome crônica, há pouco terras virgens para expandir novas culturas agrícolas ou de criação, os oceanos estão se esvaziando de peixes, e até corremos o risco de ficar sem água, que os ecologistas definem como "o novo petróleo", o recurso natural pelo qual se combaterão as guerras do futuro próximo.
E então? Há 50 anos ou mais, quando a população terrestre era metade da atual, mas começava um prodigioso crescimento demográfico, a resposta dos especialistas foi a chamada "revolução verde": um radical aumento de fertilizantes e de sementes híbridas para multiplicar a produção agrícola. Funcionou, porque, desde então, a Terra produziu duas vezes mais alimentos, mas ao preço de consumir três vezes mais de água e recursos do subsolo.
Cientistas da ONU dizem que não seria possível usar o mesmo método daqui até meados do século XXI. Para saciar o planeta em 2050, segundo uma ampla variedade de relatórios sobre o assunto citados pelo jornal The Observer, de Londres, é preciso um "repensamento geral" do problema. Será preciso mudar em busca de soluções insólitas.
Uma delas são as algas: simples organismos unicelulares que crescem rapidamente, mesmo em condições difíceis e podem ser usadas para uma enorme variedade de usos. Alimento para animais. Fertilizantes naturais. Até combustível: existe um programa chamado Algae Oil (pretróleo de algas), para explorar as potencialidades energéticas destas ervas. E um outro uso é o de alimento para seres humanos. Não é preciso esperar pelo mundo de 2050: isso já acontece, as algas são um alimento habitual do menu da China e do Japão. No reino animal, elas são comidas por criaturas de todos os tamanhos e características, dos camarões às baleias: por que nós, ocidentais, também não poderíamos comê-las? "Elas são a base de toda a vida", adverte o professor Mark Edwards, da Arizona State University.
Outra solução são os insetos. Gafanhotos, grilos, aranhas, vermes: digamos a verdade, não dão água na boca. Porém, cerca de 1.400 espécies de insetos são comidos na África, Ásia e América Latina. Há muitos que contêm proteínas, alta quantidade de cálcio, baixo conteúdo calórico. E, como as algas, os insetos têm uma vantagem a mais: são pequenos. Sua produção, mesmo em grande escala, não requer muito espaço. E não polui a atmosfera. A União Europeia concedeu recentemente um financiamento de 3 milhões de euros para todo país membro da União Europeia que incentiva o uso de insetos na cozinha. Portanto, preparemo-nos para o dia do gafanhoto (no fogão).
Há soluções que não chamam tanto a atenção, mas cujo sucesso ainda é incerto. A carne artificial: experiências para produzir hambúrgueres e frangos em laboratório estão em um estágio avançado e prometem resultados dentro de dois anos. Como não é possível aumentar os criadouros de carne natural (as vacas já ocupam um quarto de todas as terras cultiváveis e criam uma quantidade letal de gases nocivos), só resta esse caminho. Os "desertos verdes": enormes estufas nas áreas mais áridas do planeta, o Sahara Forest Project deve começar em 2015, a Grande Muralha Verde Africana (uma floresta de 15 quilômetros de largura e de 8 mil quilômetros do Atlântico até o Oceano Índico), no ano seguinte.
Por fim, os alimentos geneticamente modificados: especialistas chineses experimentam um "superarroz verde", mais fácil de crescer e nutriente, e há quem estude bananas com vitaminas extra, peixes que crescem mais rapidamente, vacas resistentes às infecções.
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Algas, insetos e carne artificial à mesa em 2050 contra a fome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU