Por: Jonas | 15 Julho 2013
"Irmão Francisco, nós confiamos em seu amor à Igreja. Você pode nos ajudar com sua sabedoria e sua aposta em uma Igreja dos pobres e para os pobres, da mesma forma como temos procurado agir na nossa, nomeando um bispo definitivo, um homem de Deus e 'com cheiro de ovelha', e retirando a proibição do retorno de dom Gonzalo López Marañón à Igreja pela qual entregou 40 anos de sua vida”, manifestam-se as comunidades do Vicariato de Sucumbíos, no Equador, em carta dirigida ao papa Francisco, publicada no sítio Religión Digital, 12-07-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a carta.
Querido irmão papa Francisco, Bispo de Roma. Muito querido irmão mais velho na Fé, dirigimo-nos a você em nome das comunidades eclesiais e dos agentes de pastoral do Vicariato Apostólico de Sucumbíos – Missão Carmelita -, localizado na província de Sucumbíos, na região nordeste do Equador, na fronteira com Colômbia e Peru.
Saudações em Cristo Jesus Ressuscitado deste lugar da Amazônia Equatoriana, cheio de sol e de água, de verde e biodiversidade; emaranhado e enriquecido por nacionalidades nativas e povos migrantes de todo o Equador e da vizinha Colômbia; desta terra atingida pela falta de planejamento em sua colonização, iniciada há pouco mais de 40 anos, com situações como a presença de refugiados/as, a contaminação por petróleo, a violência, mas ao mesmo tempo com enormes fortalezas e com grandes e renovadas esperanças.
Queremos dizer-lhe que sentimos uma imensa alegria por ter um Bispo de Roma “vindo do fim do mundo”, nossa querida Argentina, o que significa uma mudança de perspectiva na Igreja universal; porque escolheu o nome de Francisco, muito inspirador neste momento eclesial; porque é um pastor simples de grande experiência, que sonha com “uma Igreja dos pobres e para os pobres”; porque realizou gestos de acolhida, proximidade e inclusão, com os quais nos identificamos plenamente. O mundo e nós esperamos muito de você para que a Igreja, mais do que olhar para si mesma, olhe para o mundo e para o projeto do Reino, do qual é servidora por mandato do Senhor. Por isso, temos rezado por você desde o início de sua eleição e especialmente no dia 19 de março, dia de sua posse.
Somos a Igreja que peregrina em Sucumbíos e queremos falar-lhe com o coração: a partir de nossa pequena experiência, que tem buscado, desde inícios dos anos 1970, fazer um caminho colocando em prática o que nos disse o Concílio Vaticano II, em sintonia com a Igreja Latino-Americana, de Medellín até Aparecida. Nosso caminhar missionário nos levou a criar e acompanhar pequenas comunidades eclesiais, em todos os rincões de nossa selva, partindo dos assentamentos de colonos/as e das comunidades indígenas. Nossa Igreja se esforça para encarnar o Evangelho na vida dos indígenas, afrodescendentes, camponeses/as e pessoas humildes das vilas nas cidades, respeitando e valorizando sua cultura, promovendo a formação e a participação local. É uma Igreja que promove e valoriza a participação dos leigos/as, mulheres, jovens e crianças. Uma Igreja que “caminha com os dois pés”: unindo fé e vida, evangelização e pastoral social, espiritualidade e compromisso transformador da vida e sociedade. É assim que temos caminhado como Povo de Deus, com o Evangelho de Jesus e sua paixão pelo Reino.
Como Igreja, reconhecemos, nós temos também muitas carências, fraquezas e erros neste caminho, pois levamos este tesouro em vasos de barro (2Co 4,7). E a partir dessa mesma experiência temos nos esforçado em não condenar ninguém (Jo, 3, 17; 8,15), acolhendo com carinho a todos/as nas comunidades, especialmente incluindo na caminhada da Igreja os pobres e simples; em solidariedade com os grupos mais vulneráveis, apoiando todos os esforços em favor de uma vida mais digna e feliz para todos/as.
Em outubro de 2010, recebemos um comunicado da Congregação para a Evangelização dos Povos, assinada por seu presidente, o cardeal Iván Dias. Neste comunicado, era solicitado que nosso bispo dom Gonzalo López Marañón, que esteve na direção da Igreja nos últimos 40 anos e que renunciou como o que é estipulado, saísse de imediato e, se possível, inclusive, que deixasse o país, e ao mesmo tempo encarregavam a administração da mesma aos Arautos do Evangelho. Momento em que se estipulava que “o novo Administrador Apostólico terá que organizar o Vicariato e implantar de maneira diferente todo o trabalho pastoral”, coisa que buscaram cumprir rapidamente, tentando desmontar toda a estrutura na qual havia sido concretizada o modelo de Igreja que permitiu uma participação ativa e comprometida dos leigos/as.
Esta situação gerou um conflito, não apenas de tipo religioso, mas social, pelo nexo tão estreito que existia entre a Igreja e a construção de um tecido social baseado na solidariedade e na união, eixos fundamentais para a criação e desenvolvimento da província de Sucumbíos, o que colocou em risco a estabilidade desta província fronteiriça. Pela pressão existente, no dia 19 de maio de 2011, decidiu-se que os Arautos saíssem da província, mas o Vaticano também exigiu a expulsão dos padres carmelitas da província, local em que atuavam na direção da Igreja, como Missão Carmelita, desde 1937.
É por isso que para nós é muito difícil viver e entender o que estamos experimentando desde a saída violenta de nosso bispo, dom Gonzalo López, e dos padres carmelitas. “Ferirei ao pastor e as ovelhas se dispersarão” (Mt 26, 31), em consequência desta intervenção eclesial, junto a qual se somam determinados interesses econômicos e políticos locais, que não eram aceitos em nossas comunidades em razão dos valores contrários ao Evangelho e ao interesse comunitário que sempre defendemos. Esta situação produziu divisão, sofrimento e continua causando muita dor, confusão, escândalo e desânimo, não apenas no interior da Igreja, mas também na sociedade de Sucumbíos, com a fragilização do tecido social. No entanto, e apesar de muitas dificuldades, a legítima tradição eclesial de Sucumbíos continua viva, sofrida e esperançosa, mártir e sempre em transe de ressurreição.
Passaram quase três anos e continuamos à espera de nosso bispo definitivo. Esperamos que seja um pastor, que venha nos ajudar a curar as feridas e a nos reconciliar, a retomar criativamente o caminho em fidelidade a Jesus e seu Evangelho, às opções fundamentais do Vaticano II e ao Magistério Latino-Americano, fortalecendo nossa esperança para que nossa Igreja local volte a ser “Casa e Escola de Comunhão”, seguindo sonhando que “a libertação integral de homens e mulheres, a partir dos pobres, pela causa do Reino”- nossa utopia - é possível.
Irmão Francisco, nós confiamos em seu amor à Igreja. Você pode nos ajudar com sua sabedoria e sua aposta em uma Igreja dos pobres e para os pobres, da mesma forma como temos procurado agir na nossa, nomeando um bispo definitivo, um homem de Deus e “com cheiro de ovelha”, e retirando a proibição do retorno de dom Gonzalo López Marañón à Igreja pela qual entregou 40 anos de sua vida e que gostaria de continuar entregando-a até o final, pois acreditamos que é seu legítimo direito como cidadão equatoriano e bispo emérito de Sucumbíos.
Agradecemos a acolhida favorável que possa dar para nossas solicitações e estamos disponíveis em relação a qualquer requerimento de sua parte. Receba todo nosso carinho e gratidão, e nossa oração comprometida para que o Espírito do Senhor e a proteção de nossa mãe Maria estejam com você no exercício de seu importantíssimo ministério.
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Sucumbíos pede a Francisco o retorno do bispo Marañón - Instituto Humanitas Unisinos - IHU