11 Dezembro 2014
Como se pode pensar que, no tempo da globalização, as consequências dos dramas humanitários do Mediterrâneo não recairão também sobre nós? Esse dado nos impõe um maior empenho para a solução dos conflitos que estão na base da fuga e também um maior rigor em relação aos regimes que violam os direitos mais fundamentais.
A opinião é de Laura Boldrini, presidente da Câmara dos Deputados da Itália e ex-porta-voz do Alto Comissariado para os Refugiados da ONU (UNHCR). O artigo foi publicado no sítio do jornal La Stampa, 10-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
São dados assustadores, especialmente considerando que 2014 também foi o ano do Mare Nostrum, a operação de patrulha e socorro, com a qual a Itália salvou dezenas de milhares de vidas humanas no mar, decidindo, assim, dizer não ao cinismo, apesar da crise. Um esforço consistente que o nosso país enfrentou sozinho e do qual devemos nos orgulhar.
Infelizmente, são dados destinados a piorar, agora que, no fim do ano, o Mare Nostrum não existirá mais. Mas, como o Mediterrâneo será menos patrulhado, também teremos menos informações e menos contenção de desastres e naufrágios. E alguns vão aproveitar a ocasião para dizer que, sem o Mare Nostrum, não há mais mortes.
Esses dados demonstram uma única coisa: é cada vez mais urgente buscar alternativas para a travessia do Mediterrâneo, que se tornou uma verdadeira roleta russa. A grande parte das pessoas que chegam via mar são requerentes de asilo que fogem de guerras e perseguições. Elas vêm da Síria, onde, há três anos, está em curso uma guerra civil que já ceifou dezenas de milhares de vidas e forçou cerca de 10 milhões de pessoas a deixarem as próprias casas. Elas vêm da Eritreia, onde gerações inteiras de jovens fogem um regime opressivo.
Mas como se pode pensar que, no tempo da globalização, as consequências de tais dramas humanitários não recairão também sobre nós? Esse dado nos impõe um maior empenho para a solução dos conflitos que estão na base da fuga e também um maior rigor em relação aos regimes que violam os direitos mais fundamentais.
Além disso, se não quisermos que o Mediterrâneo se torne um verdadeiro cemitério, é importante dar às pessoas em necessidade de proteção uma alternativa em relação às ofertas dos traficantes prontos para explorar as suas necessidades. Já existem os procedimentos, é preciso apenas a vontade política dos países da União Europeia para colocá-los em prática.
Penso no reassentamento, o programa que permite que se faça o pedido de asilo junto aos organismos internacionais predispostos nos países de trânsito, como a Líbia e o Líbano.
Para quem for selecionado, dá-se a possibilidade de ser transferido legalmente e sem riscos para os países que oferecem a sua disponibilidade. E é nesse ponto que entra a vontade política.
Infelizmente, nos últimos anos, enquanto Estados Unidos, Canadá, Austrália ofereceram a centenas de milhares de refugiados essa oportunidade, os países da União Europeia certamente não brilharam: em 2013, os 28 países da União Europeia deram a disponibilidade para apenas 5.500 pessoas.
Se a vontade de salvar vidas humanas no mar não é só de fachada, esse número deve crescer significativamente.
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Foto: Corriere della Sera |
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Se vocês endireitarem seus caminhos e sua maneira de agir;
se começarem a praticar o direito cada um com seu próximo;
se não oprimirem o estrangeiro, o órfão e a viúva;
se não derramarem sangue inocente neste lugar
e não correrem atrás dos deuses estrangeiros que lhes trazem a desgraça:
então eu continuarei morando com vocês neste lugar,
nesta terra que eu dei aos seus antepassados há muito tempo e para sempre.
Vocês se iludem com palavras mentirosas que não trazem proveito nenhum.
Não é assim? Roubar, matar, cometer adultério,
jurar falso, queimar incenso a Baal,
seguir deuses estrangeiros que vocês nunca conheceram...
E depois vocês se apresentam diante de mim,
neste Templo, onde o meu nome é invocado, e dizem: ‘Estamos salvos!’,
para depois continuarem praticando essas abominações. (Jr 7, 1-10)
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Migrantes: que o Mediterrâneo não continue sendo um cemitério. Artigo de Laura Boldrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU