31 Março 2014
Água e alimento são deixados para migrantes mexicanos no deserto do Arizona em 2012. O cardeal O’Malley e bispos da região de fronteira dos EUA com o México irão celebrar uma missa na localidade de Nagoles, no Arizona no dia 1º de abril para lembrar os cerca de 6 mil migrantes que morreram no deserto americano desde 1998.
Foto: Jim West - CNS
No Arizona, o cardeal Seán O’Malley e os bispos que atuam na região de fronteira entre os EUA e o México irão se juntar a membros da Comissão de Imigração da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA na próxima semana para lembrar as mortes dos migrantes ocorridas no deserto do país e rezar pela reforma da imigração.
A reportagem é de Christopher S. Pineo, publicada por The Pilot, 28-03-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Dom Gerald Kicanas, de Tucson, no estado do Arizona, irá receber a delegação que vai se encontrar em Nogoles, também no Arizona, entre os dias 30 de março e 1º de abril para excursionar pela região da fronteira dos EUA com o México. O Encontro terminará com uma missa celebrada às 9h, no dia 1º de abril, em memória aos cerca de 6 mil migrantes que morreram no deserto americano desde 1998.
A viagem segue o exemplo do Papa Francisco, quem – em sua primeira viagem fora de Roma – foi à ilha italiana de Lampedusa para lembrar os migrantes africanos que morreram tentando chegar à Europa.
Durante esta viagem, o papa falou sobre a “globalização da indiferença” para com os migrantes e lamentou a “cultura do descartável”, que descarta seres humanos na busca pela riqueza.
O cardeal O’Malley falou sobre sua próxima viagem durante seu discurso na Liga Anti-Difamação da Nation of Immigrants Community Seder [iniciativa americana que busca realizar diálogos interculturais e interétnicos], no último dia 23 de março em Boston.
“Nas próximas semanas irei me juntar a uma delegação da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA para uma missa e outros eventos na fronteira com o México, para aumentar a conscientização sobre situação de tantas pessoas que buscam migrar”, disse O’Malley.
No evento realizado pela Liga Anti-Difamação, o cardeal falou dos obstáculos que imigrantes sem documentos enfrentam como sendo uma ameaça à vida humana, e recordou os comentários do Papa Francisco feitos durante sua visita à Lampedusa.
“Tal como o Santo Padre solenemente observou, muitas vezes estes obstáculos tiram a vida de homens e mulheres que buscam por liberdade e uma vida melhor”, falou.
“A cada ano 30 mil crianças desacompanhadas cruzam a fronteira em direção a nosso país. Neste momento há quase 40 mil imigrantes detidos, encarcerados a um custo de 2 bilhões aos contribuintes americanos”, acrescentou.
O cardeal disse que cerca de 400 corpos são encontrados na região desértica de fronteira todo ano, ao passo que as dificuldades de se chegar aos EUA crescem e as pessoas assumem riscos maiores para entrar.
O cardeal disse que aprendeu sobre as dificuldades enfrentadas pela comunidade de imigrantes principalmente durante seu ministério de 20 anos em Washington, onde trabalhou com refugiados sem documentação.
“Esta experiência me ensinou muito sobre a situação dos imigrantes que vieram para este país”, contou o cardeal.
Ele falou igualmente sobre a ligação histórica entre a Igreja Católica nos EUA e as populações imigrantes.
“Imigração é um assunto que atravessa a história dos Estados Unidos e a história do catolicismo neste país.
O crescimento da Igreja aqui durante os últimos dois séculos foi impulsionado pela imigração vinda da Irlanda, Itália, Alemanha e Europa Oriental, já que os recém-chegados voltavam-se às suas paróquias em busca de proteção, assistência e aconselhamento”, disse ele.
Na Conferência dos Bispos Católicos dos EUA alguns membros também disseram que a questão da imigração tem relação com o valor dos seres humanos, sua dignidade e o valor de suas vidas.
Dom Eusebio Elizondo, bispo auxiliar de Seattle e presidente da Comissão de Imigração, também relacionou a viagem dos bispos com a visita do papa a Lampedusa.
“A fronteira dos EUA com o México é a nossa Lampedusa”, declarou Dom Elizondo. “Os migrantes neste hemisfério tentam conseguir seus objetivos, mas muitas vezes morrem na tentativa”.
“O que falhamos neste debate é não ter presente o aspecto humano da imigração – aquele de que a imigração é, em primeiro lugar, feita de seres humanos, e não de questões econômicas ou sociais”, falou. “Os que morreram – e os que são deportados todos os dias – têm o mesmo valor e a mesma dignidade dada por Deus a todas as pessoas, embora ignoremos seus sofrimentos e suas mortes”.
“Mostramos nossa própria indiferença quando minimizamos ou ignoramos este sofrimento e morte, como se estas pessoas não valessem a nossa atenção. Isso nos degrada como país”, continuou Dom Elizondo.
“Esperamos que, ao enfatizar o impacto severo que este sistema tem sobre nossos irmãos, os nossos representantes eleitos se ponham a realizar a reforma”.
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Cardeal O’Malley e bispos americanos celebram missa na fronteira dos EUA e México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU