15 Julho 2015
Foi "a viagem radical de um papa radical", sintetiza, em uma só frase, Jean-Marie Guénois no seu comentário publicado no jornal francês Le Figaro do dia 13 de julho. Guénois concentra a sua análise na radicalidade da mensagem do papa, um aspecto "que resume o sentido profundo dos 22 discursos proferidos diante de milhões de pessoas" e na imagem mais forte, lançada no domingo, antes de subir novamente no avião para Roma: a escolha fundamental entre as duas bandeiras, a do demônio e a de Cristo. Uma imagem cara à tradição inaciana, traduzida em linguagem contemporânea, aproximando-a das camisetas de dois times diferentes, perpetuamente em luta entre si. Com quem queremos jogar o jogo da vida? Por quem vamos torcer?
A reportagem é do jornal L'Osservatore Romano, 14-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um slogan eficaz e sintético também é escolhido por Juan G. Bedoya no seu comentário – publicado no jornal El País do dia 12 de julho – dedicado a um pontífice que se revela no tempo "cada vez mais católico e menos romano". Em seis dias, continua Bedoya, viajando através dos três países mais pobres do continente latino-americano, Francisco inverteu completamente a imagem de uma Igreja Romana seguida por cada vez menos fiéis na América Latina.
O catolicismo – diz Bedoya – não perde espaço tanto para a aguerrida concorrência de outras confissões religiosas, mas especialmente por estar enfraquecido pelas suas incoerências internas, pelo exemplo negativo de pastores que se esqueceram da pobreza evangélica e se concedem um padrão de vida principesco, e – o que é ainda mais grave – pela mais ou menos explícita colusão com governos que difundem e consolidam, em vez de combater, a miséria e a injustiça social. Francisco abordou o assunto "com cândida dureza perante uma multidão de paraguaios: 'Vou abençoá-los sem cobrar'", continuou o jornalista espanhol.
Durante a viagem, escreve ainda Bedoya, Bergoglio nunca citou a teologia da libertação, mas mostrou compartilhar as suas reivindicações de justiça, porque a defesa dos pobres – como repete em todas as ocasiões, há dois anos – sempre foi uma batalha cristã.
Uma mensagem central e atual também "na vinha devastada" da Igreja europeia, curvada pela crise econômica e por uma crise de identidade ainda mais profunda.
O papa começa a enfrentar temas espinhosos, afirma o editorial não assinado, publicado pelo mesmo jornal no dia seguinte, 13 de julho: o primeiro papa latino-americano da história visitou três nações com a maior presença indígena, Equador, Bolívia e Paraguai, país, este último, onde convive um quase total bilinguismo entre a língua dos conquistadores, o castelhano, e o idioma indígena, o guarani. Com a viagem recém-terminada, conclui o editorial, pode-se dizer que Francisco começou uma nova "conquista da América", radicalmente diferente daquela militar do passado.
Ainda na primeira página, o International New York Times – na edição do dia 13 de julho – enfatiza que, durante a viagem, o papa renovou a sua vigorosa crítica ao capitalismo: uma crítica, aliás, várias vezes formulada durante o pontificado.
No artigo, escrito por Jim Yardley e Binyamin Appelbaum, nota-se que Francisco, ao dirigir duras acusações aos excessos do capitalismo e à desenfreada ambição de acumular dinheiro, usa uma linguagem muito forte, falando de "esterco do diabo".
A vontade desordenada de acumular riquezas nada mais é do que uma "sutil ditadura" que escraviza. E assim, voltando à sua terra natal, o papa – continua o comentário do International New York Times – pretendeu colocar mais uma vez a ênfase nas desigualdades determinadas pelo capitalismo, reconhecendo nele a causa subterrânea da injustiça global e a primeira causa das mudanças climáticas.
O jornal The Guardian, na edição de segunda-feira, 13, também ressalta como a voz do papa se levantou mais uma vez em defesa dos indigentes. Foi significativa, a esse respeito, a sua visita, no domingo, 12, a Bañado Norte, uma região muito pobre de Assunção, durante a qual ele reiterou um conceito-chave do seu magistério: os pobres nunca devem ser deixado à margem da sociedade.
Além disso, como escreve Gian Guido Vecchi no Corriere della Sera, também no dia 13 de julho, "é no bairro que se entendem a fundo as palavras repetidas por Francisco nesses dias".
No site do jornal Tygodnik Powszechny, de Cracóvia, por fim, o padre franciscano Kasper Kaprón define a viagem recém-concluída como um dos momentos mais importantes do pontificado. E acrescenta que se sente particularmente impressionado com as palavras de Francisco quando identifica na hospitalidade a palavra central da espiritualidade cristã.
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Uma Igreja cada vez mais "católica" e menos "romana": a viagem do papa vista pela imprensa internacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU