05 Junho 2015
O segundo volume da PNS 2013 (Pesquisa Nacional de Saúde), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na manhã desta terça-feira (2), mostra que 15,5 milhões de brasileiros com mais de 18 anos (10,6% da população) já se sentiram discriminados na rede de saúde (pública ou privada).
A reportagem é de Hanrrikson de Andrade, publicada pelo Portal UOL, 02-06-2015.
A maioria disse ter sido tratada de forma diferenciada por motivos de natureza econômica: 53,9% em função da falta de dinheiro e 52,5% em razão da classe social. Esse é o caso da universitária Kelly Mantovani, 21, que perdeu o pai no último dia 20 de maio --ele ficou internado durante 18 dias por causa de um câncer no intestino, em São Paulo, mas não resistiu à doença.
Segundo ela, a unidade de saúde não cuidou devidamente do paciente, pois o seu plano de saúde era "mais simples". "A gente tinha que ficar cobrando os exames e fiscalizando para que ele tomasse os remédios. Eles trataram com pouco caso só porque o nosso plano de saúde é mais simples. A internação dele só foi confirmada depois que a gente pressionou e ameaçou levar para a imprensa."
Já a jornalista Narayhana Pereira, 24, relatou ao UOL ter sentido na pele a atitude discriminatória de uma médica de um posto de saúde. "Eu estava com o ouvido muito inflamado e, como a dor era insuportável, procurei um posto de saúde. Mas a médica nem esperou eu falar nada. Ela disse que eu, assim como várias outras pessoas que procuram o posto, só estava ali para pegar um atestado médico. Ela achou que eu tinha faltado no trabalho", contou.
Narayhana exigiu ser atendida por um outro profissional, que lhe receitou um remédio para diminuir a dor. Na mesma semana, ela procurou um hospital particular e iniciou um tratamento que durou cerca de 40 dias. "Eu poderia ter perdido uma parte da audição porque a médica agiu de forma inexplicável. Sinceramente, eu não sei porque ela fez isso. Ela falou que me daria uma injeção e pronto, pois eu só estava ali por causa de um atestado", declarou.
De acordo com a metodologia utilizada pelo IBGE, os entrevistados poderiam assinalar mais de um motivo para justificar a razão pela qual se sentiram discriminados. Pouco mais de 13% afirmaram que haviam sido vítimas de preconceito racial, e 8,1% responderam religião ou crença. Apenas 1,7% relatou que foi vítima de homofobia.
O IBGE explicou ainda que as estatísticas da Pesquisa Nacional de Saúde não são comparáveis com outras publicações do instituto, pois a pesquisa tem um "desenho próprio" (fatores que não haviam sido abordados antes). Dessa forma, não seria possível estabelecer séries históricas cruzando as informações com o suplemento de saúde da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios).
Os entrevistadores do IBGE estiveram em pouco mais de 80 mil domicílios. O Brasil possui, segundo o IBGE, cerca de 65 milhões de residências.
O primeiro volume da PNS, divulgado em dezembro do ano passado, continha capítulos como a percepção do estado de saúde, as doenças crônicas não transmissíveis e o estilo de vida. Na ocasião, o UOL mostrou que quase metade dos brasileiros é sedentária, 15% fumam e 28% veem muita TV. A hipertensão e os problemas na coluna eram as principais doenças dos brasileiros.
Intervalo de confiança
Por ser uma pesquisa por amostra, as variáveis divulgadas pela PNS estão dentro de um intervalo numérico, que é o chamado "erro amostral". Não há uma margem de erro específica para toda a amostra.
Para cada caso, é calculado o intervalo de confiança. "Isso quer dizer que, em 95% das vezes que eu pegar uma amostra e calcular o indicador, ele estará dentro daquele intervalo. (...) Quanto menor o intervalo de confiança, melhor é", explicou Maria Lúcia Vieira, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Diferentemente das pesquisas eleitorais, que têm apenas um indicador em destaque (a intenção de votos de determinado candidato), a PNS tem vários indicadores e o valor de cada um deles oscila dentro do seu intervalo específico.
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Pobreza é causa da maioria dos casos de discriminação na saúde, diz IBGE - Instituto Humanitas Unisinos - IHU