Por: Jonas | 17 Abril 2015
A ONU e organizações de direitos humanos denunciaram, ontem, a possível morte de 400 norte-africanos, em um naufrágio na costa da Líbia, como uma das maiores tragédias de imigrantes da última década, com duras críticas a União Europeia (UE) por ter eliminado as missões de resgate no mar Mediterrâneo.
A reportagem é publicada por Página/12, 16-04-2015. A tradução é do Cepat.
A catástrofe, ocorrida no último domingo, na costa da Líbia, e recém-divulgada ontem em toda sua dimensão, faz parte de um fenômeno mais amplo, cuja dimensão é difícil de avaliar, segundo os organismos de ajuda, já que muitos dos imigrantes que fogem da pobreza ou da guerra nunca terminam sua viagem. Anistia Internacional, Human Rights Watch e Save The Children condenaram a “intolerável passividade” da União Europeia diante destas repetidas tragédias e, junto ao organismo da ONU para os refugiados, advertiram para que volte a colocar em funcionamento um sistema de salvamento de imigrantes nas costas do continente.
A Guarda Costeira italiana informou, ontem, que não encontrou mais sobreviventes do naufrágio do barco na costa da Líbia, mas que as operações de busca continuavam. Um porta-voz da Guarda Costeira, o comandante Filippo Marini, disse aos jornalistas que 145 imigrantes foram resgatados e nove cadáveres foram encontrados, no entanto, não descartou a possibilidade de mais perdas de vidas, pois o tipo de embarcação que afundou geralmente transporta muito mais pessoas.
Marini disse que o resgate foi realizado durante cinco dias – de sexta-feira passada até ontem -, nos quais se verificou um dramático aumento destes incidentes, sendo que 10.000 pessoas foram salvas de morrer afogadas no mar, em mais de 50 barcos, um número recorde para um período tão curto, destacou.
Aparentemente, o barco afundou a 80 milhas da costa da Líbia, e os sobreviventes relataram a Save The Children que junto a eles navegavam mais 400 pessoas, segundo informou a organização. A partir do depoimento dos resgatados é possível saber um pouco mais que seu barco naufragou 24 horas após partir da Líbia com destino a Itália e que entre as vítimas havia “muitos jovens, provavelmente menores”, disse Save The Children, sem precisar o número de desaparecidos.
A situação geográfica da Itália, próxima da costa africana, permite a chegada de um elevado número de imigrantes, que agora aumentam com a chegada do bom tempo. Ao país mediterrâneo chegam muitos refugiados que fogem de seus países em conflito, especialmente da Líbia, atolada no caos desde a queda, há quatro anos, de Muamar Khadafi.
No entanto, não procedem apenas da África, mas também, em um nível sem precedentes, de países do Oriente Médio, como Síria e Iraque, segundo mencionou recentemente o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) em Roma. O Acnur também advertiu, então, acerca de um esperado número de emigrantes do Iêmen para África, em razão do crescente conflito nesse outro país árabe do Oriente Médio.
Caso seja confirmado, o número de 400 desaparecidos superaria o de 366 pessoas que morreram, no último dia 3 de outubro, após afundar uma barcaça na costa da ilha italiana de Lampedusa, segundo depoimentos de sobreviventes. Foi justamente este fato que levou o governo italiano a colocar em marcha o dispositivo Mare Nostrum que, durante um ano, permitiu o resgate de 100.250 pessoas e a prisão de 728 traficantes, segundo o Ministério do Interior. No entanto, a UE deixou de financiar o operativo Mare Nostrum, em dezembro passado, em prol de patrulhas de vigilância que são realizadas por sua agência fronteiriça Frontex.
“A atual negligência dos governos europeus para com a crise no Mediterrâneo contribuiu para um aumento de mais de 50 vezes nas mortes de imigrantes e refugiados, desde o começo de 2015”, disse a Anistia Internacional em um comunicado.
“Quantas pessoas mais precisarão morrer até que os governos europeus reconheçam que não é suficiente confiar em um quadro insuficiente de recursos para as operações de busca e resgate?”, acrescentou a Anistia Internacional em seu comunicado.
O chefe do Acnur, António Guterres, manifestou-se “consternado” com a notícia e solicitou, mais uma vez, que a UE amplie e melhore seu sistema de salvamento de imigrantes na costa do continente. “Lamentavelmente, Mare Nostrum não foi substituído por um mecanismo com uma capacidade equivalente para resgatar pessoas”, acrescentou Guterres.
Outro porta-voz da Guarda Costeira italiana disse que, antes do último naufrágio, neste ano, morreram mais de 500 pessoas procurando cruzar para Europa, muitos delas refugiadas da Síria, Iraque e Afeganistão. Até o momento, neste ano, o número de mortos no mar Mediterrâneo é de 900, segundo o Acnur, comparado com apenas 17 no mesmo período do ano passado.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Tragédia na costa da Líbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU