Por: André | 05 Fevereiro 2015
Na missa de inauguração do pontificado de Francisco, no dia 19 de março de 2013, José María del Corral (foto) esteve na primeira fila, com seu guarda-pó branco de professor, ao lado de um carrinheiro e dos poderosos do mundo. Então não imaginava que o ex-arcebispo de Buenos Aires, com quem trabalhou durante anos para criar uma rede de Escolas de Vizinhos pudesse integrar os excluídos, o chamaria para lançar esse mesmo projeto, mas agora em escala global.
Fonte: http://bit.ly/1C0u3tO |
Del Corral é hoje o diretor-executivo mundial de Scholas Occurrentes, uma rede global de escolas que não para de crescer e que abriu, na segunda-feira, 02, o seu IV Congresso Mundial no Vaticano.
Trata-se do projeto mais importante de Francisco, “que está convencido de que o mundo está em crise e que a solução passa pela educação”, segundo destacou Del Corral ao jornal argentino La Nación.
Durante oito anos diretor do Colégio San Martín de Tours, Del Corral viajou ultimamente pelo mundo para apresentar Scholas, passando pelas Nações Unidas, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
“Este papa é a revolução”, disse. E revelou que Francisco fará o encerramento, nesta quinta-feira, 05, do IV Congresso Mundial de Scholas com uma videoconferência ao lado de crianças deficientes, algo sem precedentes.
A entrevista é de Elisabetta Piqué e publicada no La Nación, 03-02-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Scholas cresceu muitíssimo. Está vinculando 400 mil escolas dos cinco continentes. Como se explica essa expansão?
Sim, pior que os coelhos (risos). A multiplicação mostra a necessidade que havia de algo assim, já não somente na diocese, como quando o então ex-arcebispo de Buenos Aires lançou esta experiência educativa, mas no mundo inteiro. Por que se multiplicou tanto? Pela liderança multiplicadora que Francisco tem como pessoa, a partir do humano. E pela necessidade que havia, porque o sistema educativo estava esgotado e se aguardava por algo diferente.
Pode recordar a origem de Scholas nas Escolas de Vizinhos na Buenos Aires de Bergoglio?
As Escolas de Vizinhos significavam justamente pensar que a mudança passava pela educação, mas não fazendo mais do mesmo. Não era fazer mais “escolas gueto”, “escolas tupper”, escolas para dentro, mas, pelo contrário, juntar escolas. Juntar escolas públicas e privadas, de diferentes religiões, de diferentes níveis sociais, e que as crianças começassem a ser vizinhas, partilhando seus problemas reais – drogas, álcool, insegurança, violência –, não aqueles que constam nos projetos curriculares. E a partir desses problemas reais pesquisando, trabalhando, indo à rua, fazendo entrevistas, falando com os políticos, tirando conclusões e exigindo as mudanças. E bom, este fenômeno que ele [Bergoglio] viu também em Buenos Aires multiplicou-se muito rapidamente, porque a primeira experiência se deu com 70 crianças de quatro colégios paroquiais. Quatro anos depois, já havia 7.000 crianças fazendo o mesmo e foi se ampliando. Ele viu que essa necessidade não existia apenas em Buenos Aires.
Quando Bergoglio foi eleito Papa, imaginou que iria levá-lo ao Vaticano e dizer-lhe: “agora faze-o em escala global”?
Não. Mas imaginei duas coisas: que o mundo iria mudar pelo fato de ele ser o Papa e que minha vida mudaria. Lembro-me de que ao terminar sua primeira missa de inauguração, quando eu estava de guarda-pó branco, a imprensa de diversos lugares e argentina me perguntara se ele iria convocar um concílio, se mudaria dogmas... E eu disse que não acreditava que faria tudo isso, mas que faria uma revolução, porque ele é a revolução. Alguns teólogos me criticaram, mas creio que hoje ninguém no mundo pode negar que ele fez uma revolução.
Como Scholas Occurrentes se financia?
Nós não recebemos dinheiro do Vaticano. Cada projeto que se faz, como quando estava em Buenos Aires, é financiado pelos cooperadores, por pessoas que fazem doações, que ajudam todos os meses com uma cota, e fazemos eventos para angariar dinheiro, como foi o jogo inter-religioso pela paz que aconteceu em setembro passado no Estádio Olímpico de Roma.
A propósito, haverá outro jogo de futebol?
Sim, embora ainda não tenha data. Mas o resultado foi tão bonito que nos ofereceram a possibilidade de fazer jogos também em outras modalidades de esporte, desde o futebol, o rugby e o tênis até o pólo, em todo o mundo.
Como você vê o Papa Francisco?
A primeira coisa que me perguntou, quando olhou o mapa de Scholas, foi: “Mas, o Peru não tem escolas na Scholas?” Havia se dado conta de que o nosso mapa estava defasado, porque há escolas, mas não figuravam no mapa... Ou seja, não vejo que apenas está por dentro, compenetrado e lúcido, mas que está entusiasmadíssimo, porque esta pergunta que você se faz e que muita gente se faz, evidentemente, não tem outra resposta: isto é de Deus.
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“Ninguém pode negar que o Papa fez uma revolução”. Entrevista com o diretor-executivo de Scholas Ocurrentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU