Na termodinâmica do pensamento, vivemos hoje a era do fascismo cósmico. Entrevista especial com Marco Antonio Valentim

Para o professor e pesquisador, uma das grandes perplexidades de nosso tempo é que a forma de vida mais hegemônica conhecida é eminentemente destrutiva de suas próprias condições de existência

Foto: Wikimedia Commons

Por: Baleia Comunicação | 18 Junho 2024

Nós, ocidentais e ocidentalizados, acostumamo-nos a pensar nossos modos de compreensão sobre o mundo apartados do próprio mundo, como se houvesse uma separação radical entre as coisas. Alguns povos, como os nativos, por exemplo, tendem a compreender essa relação de maneira mais holística e, há décadas, nos alertam sobre os perigos de nossa obsessão capitalista.

“O fato de nós, o ‘povo da mercadoria’ [nos termos de Davi Kopenawa], não reconhecermos e sobretudo negarmos ativamente esse vínculo primordial entre mente e ambiente consiste no motivo principal da ‘queda do céu’. Visto que a atual destruição do clima se deve à máxima aceleração entrópica das atividades produtivas em todas as áreas da existência humana – é o que chamamos de Antropoceno –, faz todo sentido questionar que tipo de atitude existencial e forma de pensamento contribui para desintegrar ou regenerar a Terra viva”, provoca Marco Antonio Valentim, em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Ainda que seja leviano afirmar que a filosofia moderna seja responsável pela derrocada planetária de que somos testemunhas, afinal não existe filosofia moderna no singular, a filosofia transcendental ocupa um papel importante na separação radical entre o “epistemológico ou ontológico, entre mente e ambiente, performando assim, espiritualmente, a ‘impossível’ antinatureza”, explica Valentim.

Mais do que isso, o mundo que vivemos se tornou incompreensível por meio das racionalidades modernas “porque os desafios políticos da contemporaneidade escapam de todo às categorias tradicionais da filosofia política moderna, como Estado, direito, poder, democracia etc. Porque o complexo de desejos que anima esse mundo transtornado em que vivemos é de outra natureza que o desejo que inspirou o ideal moderno de normatividade. Porque já não faz absolutamente nenhum sentido, nem sequer pragmático, supor que a natureza é conforme os fins da racionalidade humana”, afirma o entrevistado.


Marco Antonio Valentim (Foto: Arquivo Pessoal)

Marco Antonio Valentim é professor Titular do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná. Membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFPR. Bacharel em Filosofia pela UFPR (2000). Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Doutor em Filosofia pela UFRJ (2007). Estágios pós-doutorais no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional do Rio de Janeiro (2012-2013) e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2017-2018). Autor de "Extramundanidade e sobrenatureza: ensaios de ontologia infundamental" (Cultura e Barbárie, 2018), acaba de lançar Antropoceno e termodinâmica do pensamento. Introdução à entropologia (Cultura e Barbárie, 2024). Pesquisador do SPECIES - Núcleo de Antropologia Especulativa/UFPR. Membro do GT Ontologias Contemporâneas/ANPOF.  

A entrevista foi publicada originalmente pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, 18-06-2024.

Confira a entrevista.

IHU – Eu gostaria de introduzir o tema para leitores não iniciados no debate filosófico de fundo que sustenta a construção de seu mais recente livro, intitulado Antropoceno e termodinâmica do pensamento. Neste sentido, cabe a pergunta: que tipo de pensamento esquenta e qual outro esfria o mundo?

Marco Antonio Valentim – Sim, a pergunta cabe inteiramente porque o ponto de partida da investigação que tentei empreender reside na constatação de que há uma relação imanente entre mente e ambiente. Disposições e atividades mentais estão intrinsecamente ligadas a configurações e processos ambientais. Sua dependência recíproca perfaz a estrutura do cosmos. Isso vale não apenas no caso da relação entre seres humanos e ecossistemas, mas também no caso de quaisquer seres, humanos ou não, com respeito aos ecossistemas a que pertencem como partes agentes. Essa constatação é uma das principais “palavras dadas” por Davi Kopenawa em A queda do céu. Todo e qualquer ato de pensamento conspira, em maior ou menor grau, para a sustentação ou derrocada do ambiente cósmico delimitado por céu e terra.

O fato de nós, o “povo da mercadoria”, não reconhecermos e sobretudo negarmos ativamente esse vínculo primordial entre mente e ambiente consiste no motivo principal da “queda do céu”. Visto que a atual destruição do clima se deve à máxima aceleração entrópica das atividades produtivas em todas as áreas da existência humana – é o que chamamos de Antropoceno –, faz todo sentido questionar que tipo de atitude existencial e forma de pensamento contribui para desintegrar ou regenerar a Terra viva.

A resposta é tão complexa quanto a diversidade das culturas, de temperatura sempre variável, mas o mínimo que se pode dizer é que pensar e agir, particular ou coletivamente, como se a humanidade constituísse uma ordem emancipada do conjunto da vida, como se a natureza pudesse ser simplesmente reduzida a estoque e esgoto para o “clube da humanidade”, segundo diz Ailton Krenak, conduz inevitavelmente à destruição ambiental em escala planetária. O antropocentrismo é, sem dúvida, a cosmologia do Antropoceno. Essa cosmologia se efetiva por meio do uso massivo de combustíveis fósseis pela civilização industrial e digital assim como, e não menos, mediante o desempenho livre e autônomo da vontade universal do indivíduo. Devido ao seu isolamento sistemático, somente possível por meio de uma ruptura antrópica do metabolismo cósmico, o pensamento que conspira para a conflagração da Terra é gélido. Assim são, cosmologicamente, a razão pura e a lógica do capital.

Capa do livro Antropoceno e termodinâmica do pensamento (Foto: Cristina Guerini | IHU)

IHU – Recolocando a questão em termos mais acadêmicos, o que são antropia e entropia e qual a relação entre os conceitos?

Marco Antonio Valentim – De maneira bastante concisa, antropia é a ação humana tomada em seu impacto ambiental, e entropia, o processo de desordem interna de um sistema natural. Pensar a relação entre antropia e entropia significa determinar o potencial ambientalmente destrutivo da humanidade. Em perspectiva filosófica, o Antropoceno resulta de uma composição catastrófica de antropia e entropia: em escala cósmica, a antropia tornou-se desastrosamente entrópica, a ponto de colocar em risco a dinâmica da vida na Terra. No limite, um planeta completamente “antropizado” pela predação econômica constitui um sistema físico morto, cuja entropia chegou ao máximo devido à dissipação de toda energia metabólica, viva.

IHU – Como a questão da termodinâmica do pensamento implica consequências políticas de fundo e que hoje, ao que parece, se tornaram incontornáveis?

Marco Antonio Valentim – Penso que a relação entre termodinâmica e política acontece em vários níveis, não só no das consequências, mas também no das causas e, mais importante, no nível dos processos. O fenômeno de que procurei tratar ocorre neste último nível, o da formação de complexos político-termodinâmicos ou termopolíticos. Nisso, segui uma pista valiosa oferecida pelo filósofo canadense Brian Massumi, que interpreta as sociedades como sistemas termodinâmicos movidos por diferentes “atratores”.

Há, por exemplo, o atratorfascista”, pelo qual uma sociedade evolui como sistema fechado a exportar desordem para o exterior (sua ordem expansiva implica e se alimenta de desordem externa crescente) e, assim, no sentido de sua morte térmica; e o atrator “anárquico”, pelo qual uma sociedade evolui como sistema aberto capaz de transformar-se em função do ambiente externo (sua ordem “autoevasiva” se comunica com e depende da oscilação externa entre ordem e desordem), adiando, com isso, indefinidamente o equilíbrio térmico mortal.

Nessa ideia, há um eco da célebre distinção antropológica proposta por [Claude] Lévi-Strauss entre “sociedades quentes”, destinadas a explodir, e “sociedades frias”, feitas para durar. Portanto, se o desenvolvimento do enorme complexo de sociedades que chamamos de mundo moderno está intrinsecamente associado à catástrofe socioambiental planetária, isso não acontece por acaso, como se a tal consequência nefasta pudesse ter sido evitada. Não há salvação para esse mundo, porque ele se constituiu desde logo e funciona até hoje como “máquina de desintegração cósmica” (a expressão é de Lévi-Strauss) que opera por expansão ilimitada, assimilação compulsória e aniquilação da exterioridade. O mundo moderno é insustentável ecológica e cosmologicamente – e politicamente, pois não há política senão a partir de fundamentos e condições ambientais. As sociedades humanas são (também) sistemas termodinâmicos cosmicamente situados.

IHU – O que significa a existência de diferentes mundos em um mesmo ambiente cósmico e como isso aponta para alternativas diante do novo regime climático global?

Marco Antonio Valentim – Não aprecio a noção de “novo regime climático global”. Ela parece dissimular, no fundo, um estado de exceção universal. O clima não é regimental, nem a Terra, uma totalidade global. Quando se emprega essa noção, pressupõe-se que os acontecimentos extraordinários e catastróficos que temos vivido podem ser subsumidos a uma única escala, que se torna normativa. Mas tais acontecimentos são multiescalares, envolvendo uma complexidade exorbitante de fatores de natureza e magnitude diversa.

Quem defende a existência de um “regime climático global” costuma menosprezar modos de vida e agência ambiental, apesar de sua incontestável eficácia cósmica, como insuficientes dentro da escala normativa. Como se alguma solução ecumênica pudesse advir da ONU ou, sobretudo, da União Europeia – o que, sabemos, jamais sucederá. Enquanto isso, comunidades indígenas que contam, no máximo, com algumas centenas de pessoas são diretamente responsáveis pela conservação de um complexo ambiental gigantesco como a Amazônia, entre outros ecossistemas mundo afora. Não há comparação em termos de efetividade socioambiental entre o que os povos indígenas conseguem e o que estados e corporações julgam poder. Nenhuma governança global será capaz de evitar o pior. A saída terá de ser necessariamente ancestral, pois o Antropoceno é nada menos que uma idade da Terra.

IHU – De um ponto de vista imanente, o que são forças cosmogênicas e quem são os agentes cosmocidas na atual configuração da Terra?

Marco Antonio Valentim – Eu ousaria pensar que a cosmogenesia, ou seja, a capacidade e o fato de participar ativamente, como agente, da generatividade do ambiente cósmico, é um predicado necessário a todo existente. Quando a agência de um existente se torna paradoxalmente contrária às suas condições ambientais de existência, ela se torna “cosmocida” (a expressão é de Jean-Christophe Goddard). Tratando-se de existentes humanos, a lista é bastante numerosa, porém definível, incluindo corporações e estados, sociedades e indivíduos, culturas e tradições, epistemologia e espiritualidades, etc. Muito perspicazmente, Davi Kopenawa restringe a lista a uma única entidade principal, completamente estrangeira aos povos da floresta: o “povo da mercadoria”.

Em suas palavras, essa designação tem uma profundidade semântica abissal, indo muitíssimo além da sociologia econômica. Trata-se de uma forma excepcionalmente monstruosa, sobretudo “canibal”, de existência, “imagem”. Seria pouco dizer que se trata de uma política estética, pois Kopenawa demonstra, mais além, uma percepção cosmológica ancestral, relativa à chamada “história profunda” da espécie humana (na acepção mais ampla possível).

Segundo Antonio Bispo dos Santos, o cosmocídio é a consequência ambiental de uma disposição espiritual: a “cosmofobia”, “a grande doença da humanidade”. Mais uma vez, o alcance de uma percepção como essa é tremendamente ancestral. E, não obstante, como ambos dão a entender, a excepcionalidade cosmocida é incrivelmente recente, tendo poucos séculos de idade. Agora, como pode uma forma de vida ser eminentemente destrutiva de suas próprias condições de existência? Talvez a pergunta seja ingênua, mas ela me deixa perplexo.

Só para dar um exemplo: em De rerum natura, o poema cosmológico de Lucrécio (séc. I AEC), por mais que aí possamos enxergar sinais dessa forma existencial, ela jamais é afirmada por meio de algum testemunho, sendo tão ou mais impossível, segundo a “natureza das coisas”, quanto o “nada”. Menciono o poema de Lucrécio porque é uma obra de cosmologia antiga em que o problema da desintegração entrópica do cosmos é pensado e imaginado com enorme profundidade, quase obsessivamente. É o enigma da antinatureza. O que tornou possível algo como o Antropoceno? Como é possível, cosmologicamente, a efetividade do capital?

IHU – Em que sentido a filosofia moderna contribuiu para a destruição material da Terra?

Marco Antonio Valentim – Creio ter respondido parcialmente essa questão mais acima. Embora ela seja muitíssimo complexa, pois a filosofia moderna é muitas coisas, abrangendo formas de pensamento diversas e inconciliavelmente divergentes, gostaria de dizer por ora uma coisa a mais. Em termos espirituais de expressão filosófica, uma filosofia moderna que contribuiu e contribui grandemente para o atual cosmocídio é aquela baseada no pensamento e na atitude transcendentais. A filosofia transcendental pressupõe fundamentalmente e conta com a possibilidade da separação, seja em nível lógico, seja em nível epistemológico ou ontológico, entre mente e ambiente, performando assim, espiritualmente, a “impossível” antinatureza. Penso que nunca e em nenhuma outra parte a filosofia moderna pretendeu uma alienação mais radical da humanidade frente à natureza.

IHU – Em linhas gerais, o que caracteriza a diferença entre um pensamento domesticado (a rigor, o pensamento filosófico) e um pensamento selvagem (dos povos nativos)?

Marco Antonio Valentim – Para responder, eu só poderia remeter à leitura de O pensamento selvagem, de Lévi-Strauss, autor dessa distinção, como diria ele, de grande rendimento antropológico e filosófico. Contudo, é preciso ressaltar que a distinção lévi-straussiana é entre formas de pensamento, e não entre povos pensantes. O pensamento domesticado e o pensamento selvagem são modos e estruturas de pensamento que, segundo o antropólogo, ocorrem em toda sociedade humana de que se tem notícia. Por isso mesmo, pensamento selvagem não é algo diverso da filosofia, pois a diferença entre domesticado e selvagem é interna ao próprio discurso filosófico, uma tensão permanente constitutiva desse discurso.

Tanto é assim que o próprio Lévi-Strauss emprega por diversas vezes a expressão “filosofia selvagem”, seja para qualificar concepções extramodernas (em O pensamento selvagem) ou para caracterizar concepções modernas (como a de [Henri] Bergson, em Totemismo hoje). Acredito que toda pessoa que filosofa sabe muito bem, seja qual for a sua atitude a respeito, o que significa seguir a linha reta do pensamento domesticado ou arriscar-se na curva selvagem do pensamento. É uma experiência filosófica íntima.

IHU – Ampliando a questão posta anteriormente, o que implica estarmos diante de um pensamento que, ao contrário da perspectiva moderna produtora de abismos entre o que é da ordem da cultura e o que é da natureza, funda-se no contágio mútuo entre objeto e sujeito?

Marco Antonio Valentim – Significa estar diante de uma “alteridade cultural radical”, como diz [Eduardo] Viveiros de Castro. Coisa que não deveria, ao contrário do que sucede, espantar quem trabalha com filosofia, pois o diálogo extemporâneo com outras tradições de pensamento inclusive “canônicas” – por exemplo, a filosofia greco-romana, alexandrina e até renascentista – comporta a lida com diversas formas de alteridade espiritual radical. Ao separar a cultura da natureza, o pensamento moderno fechou as portas a essas formas de alteridade, sejam de que tempo e espaço forem. Pois essa lida pressupõe uma ideia de conhecimento como “reciprocidade de perspectivas” (Lévi-Strauss), em que o suposto objeto é um outro “sujeito”.

Colocando-se as coisas em termos assim gerais, não se trata de uma prerrogativa exclusiva de povos indígenas, no sentido que costumamos dar ao termo. Quem estranha, em filosofia, se ver confrontado com uma espécie de pensamento cuja inteligibilidade depende de uma transformação da sua própria maneira de pensar, rechaça, a meu ver, a própria filosofia. Nosso ofício implica lidar, o mais profunda e intensamente possível, com “outras mentes”, inclusive não humanas. Não concebo a possibilidade da filosofia sem a disposição para um exercício constante de metamorfose espiritual, isto é, como os gregos chamavam, de metempsicose.

IHU – Por que o mundo atual se tornou incompreensível pela racionalidade moderna?

Marco Antonio Valentim – Porque a catástrofe socioambiental colocou definitivamente em xeque a partição moderna entre natureza e cultura. Porque proliferam no mundo formas de pensamento que não se ajustam à estrutura de faculdades da mentalidade moderna e, muito menos, à própria condição anímica de sujeito. Porque os desafios políticos da contemporaneidade escapam de todo às categorias tradicionais da filosofia política moderna, como Estado, direito, poder, democracia etc. Porque o complexo de desejos que anima esse mundo transtornado em que vivemos é de outra natureza que o desejo que inspirou o ideal moderno de normatividade.

Porque já não faz absolutamente nenhum sentido, nem sequer pragmático, supor que a natureza é conforme os fins da racionalidade humana. (Nem mesmo o mundo que constituiu a partir desse mesmo princípio se mostra hoje em conformidade com ele.) Porque, como dizem [Deborah] Danowski e Viveiros de Castro em Há mundo por vir?, “o mundo vai deixando de ser kantiano”. Porque estamos todos diante de uma tarefa, ao que tudo indica, impossível para nós, segundo Luiz Marques em Capitalismo e colapso ambiental, a de fazer com que a humanidade, em suas mais diversas configurações, possa voltar a caber na biosfera sem que isso implique a sua destruição cataclísmica. Porque, enfim, a História, tão celebrada pelo pensamento moderno majoritário, simplesmente acabou, e da pior maneira possível.

IHU – O que é o fascismo cósmico?

Marco Antonio Valentim – Como o ponto é extremamente polêmico, essa resposta eu deixo a quem ler o livro e julgar que a proposição possa ter relevância. Limito-me aqui a repetir o que escrevi: “O Antropoceno é o tempo do fascismo cósmico”.

IHU – É possível fazer a desintegração entrópica do mundo humano e, por consequência, promover a regeneração cósmica da Terra viva?

Marco Antonio Valentim – A desintegração entrópica do mundo humano não é exatamente uma tarefa. É um processo que está aí, infiltrando-se em todas as dimensões da nossa existência e pensamento. Não há como, nem seria desejável, recuperar a “civilização” junto com a “barbárie” que ela tem por condição de sustentação. Já foi… Por isso, digo no livro que esse processo é o seu “objeto”, sem que isso se confunda com o seu objetivo.

Por sua vez, o objetivo principal do livro é conspirar filosoficamente, mesmo que em medida mínima, para a regeneração da Terra viva, esta sim uma tarefa incontornável e de absoluta urgência. Os meios para tanto precisam ainda ser encontrados, mas me arrisco a supor que, em parte, já estão dados em todas as atividades humanas. Essa é uma obra de todos, em sua existência mais cotidiana, local, microcósmica. Pois o microcosmo, como ensina a melhor tradição hermética, modifica e constitui o macrocosmo pelo qual é concernido. Necessitamos recuperar nossas capacidades mágicas e infundir magia em tudo o que fazemos, a fim de assegurar a continuidade do ambiente cósmico ao qual devemos todas as nossas condições de existência e pensamento.

IHU – Deseja acrescentar algo?

Marco Antonio Valentim – Uma prece: por mais difícil que seja a cada vez, que jamais cedamos à “paixão de abolição” que a todos nos acossa.

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