30 Setembro 2013
Os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!". O Senhor respondeu: "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: 'Arranque-se daí, e plante-se no mar’. E ela obedeceria a vocês".
"Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: 'Venha depressa para a mesa’? Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: 'Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber’? Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado? Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: "Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer’".
(Correspondente ao 27º Domingo do Tempo comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O evangelho de hoje inicia com uma petição dos/as discípulos/as à Jesus: "Aumenta a nossa fé!".
A fé no Segundo Testamento significa adesão a Jesus e sua proposta de vida. Os/as discípulos/as são conscientes de suas limitações e pequenez diante do caminho apresentado por seu Mestre.
Mas sabem a quem se dirigir. Não desistem em seu seguimento e trabalho senão que reconhecendo sua situação acodem humildemente a Jesus.
Esta atitude dos primeiros/as seguidores de Jesus é para nós uma exortação a viver assim, em relação com Ele, abrindo nossa pobreza a sua ação fecunda. No dia 4 de outubro celebramos a memória de São Francisco. Ele tinha entendido que, para ser feliz, para sentir a misericórdia de Deus era muito melhor não ter nada.
Lucas não narra se Jesus responde a petição dos/as discípulos/as, antes bem o evangelista parece aproveitar a situação para explicar a eficácia da fé, capaz de fazer possível o humanamente impossível.
Lembremos que desde o inicio do evangelho Lucas apresenta que, para Deus nada é impossível (1,37), mas assim como precisou do sim, da fé de Maria para que seu projeto se encarna-se, precisa do sim, da fé dos cristãos/ãs para que ele continue fazendo-se realidade ao longo de todos os tempos.
Paremos então, e olhemos para Maria, esta jovem mulher camponesa que se dispõe totalmente nas mãos de Deus, porque acredita em seu Amor criador. Junto com ela e com os discípulos/as de Jesus peçamos para ele: "Aumenta a nossa fé!".
O segundo parágrafo do evangelho parece não ter relação com o anterior. Talvez o elo condutor encontra-se na pequenez do ser humano na obra criadora de Deus.
Na parábola de hoje se descrevem alguns costumes da época, que lamentavelmente não tem muita diferença com situações atuais, mas o sentido da parábola não é justificar a diferença social, senão situar nosso serviço ao Reino como um estilo de vida natural.
A missão dos cristãos/ãs é colaborar com a obra, com o trabalho de Deus (Jo 5, 17). Desta maneira o evangelho nos exorta a não apropriar-nos do que fazemos, dos frutos que podem nascer de nosso serviço.
É um convite a uma vida humilde e serviçal, conscientes de que se bem colocarmos o todo de nos mesmos/as na missão realizada, tudo depende de Deus.
Lamentavelmente, rapidamente esquecemos nossa condição, e nos cremos autores e donos de uma vida gerada que não nos pertence. E em lugar de cantar o Magnificat, cantamos nossos "êxitos", proclamamos nossos nomes e impomos nossas idéias.
Mas este tipo de comportamento não é exclusividade dos homens ou mulheres de fé. Os desastres de nossos dias vêm daquilo que Spinosa, filosofo do século XVII, vira tão bem: o homem se crê "um imperador num império".
É então pertinente a proposta do evangelho, que encontra o melhor modelo na pessoa de Jesus. Ele é o primeiro em tomar a condição de servo, transgredindo os costumes da época, porque sendo o Mestre, o Senhor, se cinge a cintura com uma toalha e serve a mesa dos seus discípulos/as, a mesa da comunhão, da vida em abundância.
Reconhecer-nos como servos é seguir os passos de Jesus, gastando nossa vida no amor e no cuidado aos outros/as, ao mundo. Podemos nos perguntar até quando? Ou talvez pensar que já fizemos bastante, agora que outros/as sejam os servidores.
Nas palavras que Lucas coloca nos lábios de Jesus na cruz: "Pai em tuas mãos entrego meu espírito" (23, 46), vemos que ele não guardou nada para si, foi servo até a morte e morte na cruz!
Por isso seguindo a exortação da carta aos Hebreus: "deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se agarra em nós. Corramos com perseverança na corrida, mantendo os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé" (Hb12,1-2).
Através desta poesia peçamos ao Senhor que nos conceda experimentar o valioso que somos diante seus olhos.
Que farás tu, meu Deus, se eu perecer ?
Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
comigo perdes tu o teu sentido.
Depois de mim não terás um lugar
onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
as sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
teu olhar que em minhas pálpebras,
como num travesseiro,
ardentemente recebo,
virá me procurar por largo tempo
e se deitará, na hora do crepúsculo,
no duro chão de pedra.
Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
MONLOUBOU, Louis. Leer y predicar el evangelio de Lucas. Santander: Sal Terrae, 1982.
MONTEBELLO, Pierre. Bergsonismo, uma filosofia do futuro, do tempo, da transformação. Revista IHU ON-LINE. São Leopoldo, nº 237, 24 set. 2007. Disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1338&secao=237
SICRE, José Luis.O Quadrante. A Busca. São Paulo: Ed. Paulinas, 1999.
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DOMINGO 6 DE OUTUBRO Evangelho de Lucas 17, 5-10 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU