10 anos de ObservaSinos
Há dez anos, em 2008, em um cenário de crise financeira mundial a partir da queda da bolsa de valores dos Estados Unidos, Dow Jones, que foi amplamente tematizada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, juntamente com outras questões a ela relacionadas, foram realizados os primeiros movimentos de criação do Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos. O interesse de analisar temas de fronteira, com destaque para o Trabalho, ensejou a realização deste debate pelo IHU em um evento dirigido ao público do Vale do Sinos intitulado “Conversas sobre o mundo do trabalho e da vida dos trabalhadores”.
Trabalhadores, políticos e pesquisadores dos 14 municípios do Vale do Rio dos Sinos se reuniram para apresentar dados com as temáticas: trabalho formal e informal, mulheres no mercado de trabalho, educação, pessoas com deficiência (PCDs), desenvolvimento regional, entre outros. A preocupação era como a crise econômica repercutiria no emprego da região.
Nessa época o Observatório ainda não havia sido criado e, conforme a coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia, foram os participantes que indicaram a necessidade de um espaço para aprender a utilizar as bases de dados. “Eles indicaram a importância do acesso e análise às bases de dados, em vista de melhor subsidiar a análise e intervenção nas realidades”, conta.
Após a demanda dos trabalhadores no ano anterior, o IHU promoveu o Fórum de formação dos indicadores do Vale do Sinos. O evento também reuniu trabalhadores, gestores governamentais, lideranças e pesquisadores que debateram sobre as diferentes bases de dados públicas das esferas mundial, nacional e estadual. Ao final do ano e do fórum percebeu-se a importância de contar com um espaço para reunir e publicizar os dados dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre e do Vale do Rio dos Sinos.
Com a ideia inicial de ser um programa do IHU voltado para o mundo do trabalho, o ObservaSinos completou seu décimo ano de atuação reunindo e promovendo a análise sobre as diferentes realidades dos 14 municípios do Vale do Rio dos Sinos, contextualizados pelos 34 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre. Uma das ações para comemorar o seu trabalho de sistematização, análise e publicização de dados sobre as realidades do Vale do Sinos foi o “Especial do trabalho Vale do Sinos”. A série histórica do ObservaSinos abordou grandes temas sobre o trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil.
Confira os principais pontos da série histórica do ObservaSinos.
Especial do trabalho no Vale do Sinos
Uma das primeiras constatações do Especial do trabalho no Vale do Sinos foi o aumento da participação das mulheres, que cresceu em mais de 40%, passando de 113.366 em 2003 para 159.544 em 2016. Apesar da maior inclusão das mulheres no mercado de trabalho, a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda persiste. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, a desigualdade foi de 28,62%, representando uma diferença de R$ 1.224,70.
Infográfico: Homens e mulheres com vínculo ativo no mercado formal do Vale do Sinos (2003-2016)
Além da desigualdade salarial, até outubro de 2018, o Vale do Sinos registrou uma média diária de 12 casos de mulheres vítimas de ameaça, 6 de lesão corporal e 1 de estupro. Ao todo, já foram registrados 5.774 casos de violência contra a mulher.
Em relação à geração, constatou-se que os jovens representavam 39,7% dos empregados em 2003; já em 2016 esse percentual passou para 30,4%. A participação daqueles que estão na faixa etária acima de 50 anos dobrou. Em 2003 era de 8,7%, passando a ser de 17,21% no ano de 2016.
Infográfico: Numero de trabalhadores do Vale do Sinos por faixa etária (2003-2016)
Deve-se destacar que não é apenas o mercado de trabalho que apresenta um maior envelhecimento. Além do estado gaúcho, o Brasil e o Vale do Sinos também apresentam envelhecimento da sociedade como um todo. A região do Vale do Sinos recebe destaque por duas tendências demográficas: a observável diminuição da população de crianças e adolescentes e o movimento ascendente da população idosa nos primeiros anos deste milênio.
Frente ao cenário de maior desemprego de jovens, 50,3% dos homicídios no Vale do Sinos envolveram essa faixa etária em 2016. Para os dados até 04 de setembro deste ano, o Rio Grande do Sul contabilizou 1.307 jovens acolhidos em unidades socioeducativas, sendo 25,7% com idade entre 12-16 anos, 32,7% com 17 anos e 41,7% entre 18-20 anos.
Preocupados com o futuro das juventudes, o ObservaSinos, professores da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha e pesquisadores da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos e da Universidade La Salle - UnilaSalle reuniram-se para organizar uma integração de trabalho entre as três instituições. A parceria vem da necessidade de investigar e prospectar os processos de educação profissional em cenários de transformação do mundo do trabalho na contemporaneidade.
Os dados da Rais ainda mostraram que mais de 65% dos trabalhadores não haviam completado o ensino médio em 2003. Em 2016, a realidade mudou, já que mais de 61% tinham ensino médio completo, superior incompleto e superior completo. Apesar da maior escolaridade do eleitorado da região nos últimos anos, o Vale do Sinos possui 48,53% do eleitorado com ensino fundamental incompleto. Esse corte de grau de instrução possui o maior número de eleitores e se torna uma característica comum entre os municípios do Vale do Sinos.
Infográfico: Grau de instrução dos trabalhadores no Vale do Sinos (2003-2016)
Pelo lado da renda, a participação de trabalhadores ganhando na base da pirâmide também melhorou. Entretanto, esse aumento foi apenas entre aqueles que ganhavam entre 0,5 e 1,5 salários mínimos. Em 2003 representavam 12% dos trabalhadores, passando a representar 30% no ano de 2016.
Infográfico: Número de trabalhadores por faixas de salário mínimo no Vale do Sinos (2003-2016)
Os dados concernentes à escolaridade por cor, raça e etnia no Vale do Sinos mostram que o ensino médio completo apresenta uma das maiores percentagens entre branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Apesar de estarem próximos no nível de escolaridade, os pretos continuam sendo os que apresentam a menor média salarial na região (R$ 1.750,29), seguido dos pardos R$ 1.905,54, amarelos R$ 2.029,75 e brancos R$ 2.267,94.
Em 2003, esses trabalhadores estavam em ocupações relacionadas à produção de calçados. Já no ano de 2016, a profissão que teve mais trabalhadores foi a de vendedor do comércio varejista. A maioria das profissões que cresceram na região estão ligadas ao comércio e serviços, como armazenista, assistente administrativo e técnico de enfermagem. As profissões que perderam espaço estão ligadas à indústria de calçados, como preparador de calçados, acabador de calçados e trabalhador polivalente da confecção de calçados.
Os setores que tiveram maiores acidentes de trabalho foram justamente ligados ao comércio e serviços. As atividades de atendimento hospitalar foram as que tiveram maior ocorrência, (12,9%) e comércio varejista de mercadorias em geral teve 6,2% dos acidentes. Os acidentes de trabalho foram, em sua maioria, decorrentes de três tipos de lesões: corte, laceração, ferida contusa e punctura (25%); fratura (21%), contusão e esmagamento (20%).
Em 2003 no Vale do Sinos, foram registrados 5.237 acidentes de trabalho, 18 em cada mil trabalhadores sofreram um acidente de trabalho no ano. Em 2016, a taxa de acidentes foi de 15 a cada mil trabalhadores, totalizando 5.346 acidentes de trabalho na região. Ou seja, foram em média 14 acidentes de trabalho por dia no ano de 2016.
Infográfico: Quantidade de acidentes de trabalho no Vale do Sinos (2003-2016)
Na região, 91,8% dos estabelecimentos de trabalho possuem 19 empregados ou menos, tendo em vista que são ligados a comércio e serviços. Os dois setores representaram 73% dos estabelecimentos em 2016, sendo que o primeiro aumentou em 37% entre 2003 e 2016 e o segundo, em 50,1% no mesmo período. Quando isso ocorre, a empresa não é obrigada a ter Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, representação dos trabalhadores que tem o compromisso na prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho.
Outra questão que poderá afetar a saúde e segurança do trabalhador foi o fim da parceria de Cuba com o Mais Médicos no Brasil. Só em 28 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre eram 180 médicos de Cuba. Novo Hamburgo, que ajudou a eleger Jair Bolsonaro, dando 75,5% dos votos válidos, será o mais afetado pelo fim da parceria, pois contava com 21 médicos cubanos, número maior que o de Porto Alegre, que possuía 15 profissionais do país.
O Ministério da Saúde ainda divulgou em dezembro de 2018 um novo levantamento dos municípios brasileiros que estão em situação de alerta ou risco para o surto para doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. O ObservaSinos constatou que, na Região do Sinos, seis municípios estão em situação de alerta de surto de dengue, zika e chikungunya, enquanto outros seis estão em situação muito baixa ou inexistente.
2018 - O ano dos 10 anos do ObservaSinos
(Arte: Lucas Schardong)
Em 2019
Para 2019, o ObservaSinos está planejando seminário, oficinas e ciclo de estudos e debates com destaque para saúde, educação, segurança, meio ambiente, trabalho, proteção social e renda. As temáticas escolhidas têm relação com a Campanha da Fraternidade de 2019, cujo tema propõe o debate sobre as Políticas Públicas e tem como inspiração “serás libertado pelo direito e pela justiça”.
Destacam-se também o IX Seminário Observatórios, promovido pela Rede de Observatórios Sociais, que terá por objetivo analisar esses grandes sete temas a partir do novo governo empossado em 2019; as oficinas, que devem tematizar diferentes articulações como o acesso à base de dados, permitindo o controle das políticas públicas; e a Ecofeira Unisinos, a qual continuará no campus Unisinos São Leopoldo, e suas atividades culturais, mantendo-se como um espaço que busca proporcionar uma alimentação saudável junto à comercialização justa e ao consumo consciente.
Assim como foi feito em 2018, o ObservaSinos pretende ampliar a participação nos cursos de Economia, Jornalismo e Serviço Social, só que também nos cursos do campus da Unisinos Porto Alegre. A partir da parceria com os três cursos, foi possível ampliar o Especial do trabalho para Porto Alegre. A parceria com os cursos ainda possibilitou a publicação de dois artigos no site do ObservaSinos: “Faixas salariais e mercado de trabalho no Rio Grande do Sul” e “Disparidades salariais entre homens e mulheres no mercado de trabalho gaúcho”.
A programação de 2019 do ObservaSinos estará disponível em breve aqui.
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- Menor aprendiz no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016
- Cor, raça e etnia no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2006-2016
- Saúde e segurança do trabalhador. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016
- Ocupações e estabelecimentos no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016
- Escolaridade e renda no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016
- Geração e gênero no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016
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