O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, tem como um dos seus propósitos o fortalecimento da cidadania pela população nos diferentes territórios, municípios e região. Para tanto, o ObservaSinos utiliza-se das estratégias de informação das realidades, a partir de dados e indicadores apresentados em bases públicas. Realiza também atividades de formação dirigidas à população, a pesquisadores, gestores, conselheiros, lideranças, em vista de contribuir com a análise crítica e propositiva das realidades e das políticas públicas, que se constituem em mediações para a cidadania.
Este campo de atuação exige competências teórico-metodológicas para que os processos participativos possam ser geradores da in-formação para a cidadania, e a partir disso, serem replicados.
Foto: Átila Alexius
Esta não é tarefa fácil e exige aprofundamentos. Uma das referências importantes para este trabalho está nas METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS, que se transformou em objeto de estudos pela equipe do Observa, juntamente com a equipe da Vigilância socioassistencial de Canoas e um grupo de professores e alunos pesquisadores com atuação naquele município. Até o momento foram realizados dois Seminários de estudos, que ocorreram nos dias 16 e 30 de junho na Unisinos.
Inspiração que vem da prática
Uma das práticas que justificou ainda mais significativamente a viabilização destes seminários vem do trabalho de sistematização do Diagnóstico Socioterritorial e do Mapa Falado em implementação desde o ano de 2014 no município de Canoas, realizado em parceria pela Diretoria da Vigilância Socioassistencial da Secretaria do Desenvolvimento Social do município e pelo ObservaSinos, juntamente com outros apoiadores. A sistematização do diagnóstico dos territórios e quadrantes poderia se encerrar com a exposição dos dados e das respectivas inferências sobre as realidades. Contudo, vislumbrou-se como fundamental apresentar, debater e apontar perspectivas com a população que vive estas realidades. Para tanto, está em realização o Mapa Falado, que é um instrumento promotor desta participação. Analisar os processos e resultados deste trabalho se constituiu em objetivo do Seminário de Estudos.
Referências e autores
As metodologias participativas têm sido tema de estudos e pesquisas de diferentes áreas de conhecimento. Importante destacar que na Unisinos o Grupo de pesquisa “Mediações Pedagógicas e Cidadania”, liderado pelo Prof. Danilo Streck, tem referenciado e apoiado o trabalho do ObservaSinos. A partir dele o Diagnóstico e o Mapa Falado se constituíram em comunicação no III Seminário Internacional de Investigação-ação participativa, que aconteceu em junho de 2015 em Bogotá, na Colômbia. Sua contribuição também se deu na indicação de um dos textos de estudo dos seminários: “Reconstruindo um processo participativo na produção do conhecimento: Uma concepção e uma prática”, da pesquisadora e assistente social Maria Ozanira da Silva e Silva. O outro texto tem como referência os estudos realizados pelos Observatórios sobre participação, que é tema do V Seminário, a ser realizado em setembro próximo: “Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social”, do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
Os seminários de estudos
Os Seminários tiveram a participação de 15 pessoas, sendo acadêmicos do curso de Serviço Social da Unisinos, membros da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Canoas e da equipe do ObservaSinos/IHU. Os debates foram realizados a partir dos dois textos de referências, cujos destaques foram: No texto de Maria Ozanira da Silva e Silva, foram abordadas a efetividade das políticas públicas e a comprovação dos benefícios que estas políticas geram com recursos públicos. A partir disso, questionou-se a diminuição do escopo estatal e como a diminuição de recursos públicos afeta essas políticas. Outro ponto questionado foi a estrutura burocrática imposta aos gestores públicos e os impactos causados pelas políticas não só à população-foco, mas também aos próprios gestores.
Maria Ozanira também aborda o conceito do 'saber é poder' para afirmar que a informação é um instrumento de poder político à população. Além disso, ela pontua que a pesquisa é um processo contínuo, constituído por etapas e que nestas há uma construção coletiva do saber. Destaca-se também a necessidade da inserção e o comprometimento ético do pesquisador com os problemas sociais e a articulação e superação da dicotomia sujeito-objeto e teoria-prática.
Por fim, os últimos apontamentos neste texto se dão quanto ao critério do mérito, que é visto, em muitos casos, como aspecto exclusivo da participação popular. É destacada também a relação dos profissionais da academia com o ambiente em que atuam.
O texto de Boaventura de Sousa Santos contribuiu com um olhar sociológico para o debate das metodologias participativas. No início, discutem-se as diferenças entre monoculturas e ecologias e entre fronteiras e limites. Questiona-se o enfrentamento entre movimentos sociais e partidos políticos, que costumam não dialogar.
A sociologia da emergência também é discutida, visando o que emerge dos processos sociológicos. O texto afirma que é importante reconhecer a visão da comunidade e dialogar com esta a fim de promover um melhor ambiente de estudo. Outro aspecto estudado é a sociologia das ausências, em que se destaca o que está presente no ambiente, mas que não é reconhecido pela população.
A diferença entre a análise micro e a macro também foi tema do texto, que abordou a análise de um mesmo objeto em dois momentos. Discutiram-se os saberes do local, que foram relacionados ao Mapa falado, e a importância do reconhecimento da cultura de cada localidade.
O III Seminário de Estudos está previsto para ocorrer no dia 14 de agosto, onde serão aprofundadas as metodologias sobre PESQUISA-AÇÃO, levando-se em conta as referências debatidas no III Seminário do IAP.
Neste dia, estará presente o Prof. Danilo para que indique referências para este estudo, assim como para participar do seminário para contribuir na exposição destas referencialidades. Além disso, será feita uma síntese dos conteúdos vistos e debatidos nos dois textos estudados para que sirva de referência aos próximos encaminhamentos dos Seminários.
Relato sistematizado por: Átila Alexius, Marilene Maia e Matheus Nienow