Medo olímpico

Mais Lidos

  • Porque o Cardeal Burke não é o Cardeal Ottaviani. O próprio Papa confirma e esclarece

    LER MAIS
  • “Tudo mudou no dia 7 de outubro, para o Papa governar sozinho a Igreja é um limite”. Entrevista com Massimo Faggioli

    LER MAIS
  • O coração ajuda a ver. Artigo de José Tolentino Mendonça

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

28 Julho 2016

Às vésperas dos Jogos, o Rio vive no terror do Terror. Mas este não é o aspecto mais negativo da situação.

“Apesar dos cuidados e da cooperação internacional entre agências de inteligência, o sentimento de medo apossou-se da maioria dos cariocas que estão, como revelam levantamentos, descontentes com a escolha de sua capital como sede dos Jogos. Para se ter uma ideia do pavor reinante, nesta semana, no bairro do Leblon, uma mala com roupas sujas e velhas deixada na calçada causou grande agitação, parou o trânsito e fez muitas pessoas deixarem às pressas as suas residências, por temor da explosão de uma bomba”, atesta Wálter Maierovitch, jurista e professor, foi desembargador no TJ-SP, em artigo publicado por CartaCapital, 28-07-2016.

Eis o artigo.

Nos Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique, um comando terrorista pertencente ao grupo conhecido por Setembro Negro, ingressou na Vila Olímpica, sequestrou atletas judeus e exigiu, para liberá-los, a imediata soltura de 200 palestinos presos em cárceres israelenses. Não houve tempo para refletir sobre a proposta de troca, a polícia alemã reagiu rapidamente e morreram 11 atletas israelenses, um policial germânico e cinco terroristas palestinos.

Com a aproximação dos Jogos Olímpicos, um clima de medo paira sobre a Cidade Maravilhosa. Não convém esquecer que o terrorismo ao tempo de Munique era outro: o atual é bem pior. Para começar, o Setembro Negro era uma organização laica, de ideologia socialista e inimigo único.

Hoje, o terrorismo preocupante é o de matriz religiosa fundamentalista wahabita, que se autoproclama Estado Islâmico do Iraque e do Levante e ficou internacionalmente conhecido pelos acrônimos EI ou Daesh. Seus inimigos são os que não professam a sua fé e impedem a formação de um califado voltado a purificar os infiéis: no Iraque e na Síria promove atentados para matar xiitas e sunitas não wahabitas.

O Estado Islâmico repete a comum atitude das organizações terroristas transnacionais, ou seja, privilegia ações simbólicas pela difusão planetária do medo. Como ressaltou Ayman al-Zawahiri, quando era o segundo na hierarquia alqaedista, em certos lugares e ocasiões o ataque confere mídia espontânea. A propósito de ataques seletivos e simbólicos, a Al-Qaeda selecionou as Torres Gêmeas de Nova York e o Pentágono, enquanto o Estado Islâmico, na sua última ação, em 14 de julho, voltou a atacar a França, em Nice, quando do aniversário da Tomada da Bastilha, em 1789.

Os especialistas europeus na matéria alertam que no Ocidente as células do terror, para se implantar e desenvolver, ou, por vezes, permanecer dormentes à espera de ocasião propícia, necessitam infiltrar-se e esconder-se em comunidades ou guetos formados por imigrantes de mesma origem.

Em comunidades islâmicas da Bélgica formou-se a célula terrorista ligada ao EI que, em 2015, se deslocou para atacar em Paris e Saint Denis. Da sul-americana Tríplice Fronteira, em 1992 e 1994, e a aproveitar a presença da numerosa comunidade árabe, partiu o grupo terrorista responsável pelos ataques em Buenos Aires à embaixada de Israel e da associação judaica de assistência Amia.

No Rio não existe uma comunidade islâmica fanatizada e permeável à acomodação de uma célula do EI. Ao contrário, existe uma perfeita e salutar integração dos imigrantes e seus descendentes. Por isso as autoridades nacionais apontam como baixa a possibilidade de ações terroristas durante a Rio 2016. O problema a enfrentar diz respeito ao ciberterror.

Um dos legados nefastos de Osama bin Laden foi difundir pelas redes sociais a chamada do “faça você mesmo a sua parte na luta armada contra o Ocidente, independente do apoio da Al-Qaeda”. Assim, informados pelas redes sociais, proliferaram os “lobos solitários”. No Brasil, as autoridades de polícia e de inteligência descobriram uma página de propaganda do grupo Ansar al Khilafah, que seria de brasileiros com perfil filo-EI.

A propaganda via ciberterror incentiva ações escoteiras. Por outro lado, são baixas as chances de envio ao Rio de brasileiros treinados nos campos de adestramento do EI, se é que eles existem. De todo modo, apesar dos cuidados e da cooperação internacional entre agências de inteligência, o sentimento de medo apossou-se da maioria dos cariocas que estão, como revelam levantamentos, descontentes com a escolha de sua capital como sede dos Jogos. Para se ter uma ideia do pavor reinante, nesta semana, no bairro do Leblon, uma mala com roupas sujas e velhas deixada na calçada causou grande agitação, parou o trânsito e fez muitas pessoas deixarem às pressas as suas residências, por temor da explosão de uma bomba.

A penúria do estado e a situação trágica nos hospitais públicos cariocas contribuem para o clima de pessimismo, abatimento e medo. Não bastasse isso, a violência cresce e está sendo abandonado, por falta de recursos materiais e humanos, o certeiro projeto idealizado pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Na sua execução, foram reprimidas as organizações criminosas, houve recuperação de territórios governados pela bandidagem e, também, a retomada do controle social pelo Estado. No momento, tudo está indo água abaixo.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Medo olímpico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU