28 Julho 2016
"Quando eu li sobre o sacerdote Jacques Hamel degolado pelos terroristas, como cristão, pensei em gritar o meu sentimento de impotência. E de fazer uma pergunta para Deus: como pode um homem matar outro homem, idoso, inerme, daquele modo? Quem fez isso é um vil, e ponto final", diz o padre Laurent Mazas, francês, doutor em filosofia, ajudando de estudo do Pontifício Conselho da Cultura e diretor executivo do Átrio dos Gentios.
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Padre, por que a França e por que a Igreja?
O terrorismo é um fenômeno complexo. Às vezes, encontramo-nos diante de jovens convertidos que especulam sobre os aspectos religiosos para dar sentido a uma existência vazia. Outras vezes, perigosos delinquentes exploram a filiação ao Isis para justificar os massacres.
A faca, o sacerdote, o altar. O simbolismo é poderoso.
Mataram crianças, jovens, idosos, mulheres, católicos e islâmicos. Não há um sentido. É tudo confuso e casual, mas não é casual que isso aconteça na França. O meu Estado está pagando pelas políticas de integração equivocadas, pelo desemprego dos jovens, pelos guetos tolerados por décadas, pela ausência de educação, pela recusa da autoridade, por uma falsa bondade exagerada.
Como a Igreja deverá reagir?
O problema diz respeito a toda a comunidade europeia, não apenas aos católicos. Um continente está sob ataque. O diálogo entre as religiões existe. Justamente nessa igreja de Hamel são realizadas inúmeras atividades de fraternidade. O diálogo não é suficiente.
Do que se precisa?
É necessário um redespertar da sociedade. Há muita desigualdade. Os jovens se jogam entre as garras do Isis porque sofrem os erros da sociedade. A meu ver, o componente cultural é menor. Eu não tenho medo do Islã, a convivência não é difícil de se alcançar, e os islâmicos não pretendem conquistar a Europa cristã. A origem do mal está na pobreza. Dou um exemplo. Eu vivi na África. Não podemos suportar um abismo entre os riquíssimos da Europa e uma zona do mundo, enorme, que vive na miséria, e pensar em descontar a raiva naqueles povos. E me refiro a políticas europeias anteriores aos desastres no Iraque, na Síria e no Afeganistão.
Hollande repete que a França está em guerra.
Ele tem razão, todos os dias se morre. O governo deve proteger a França com todos os meios, porque a minha França está em guerra.
O senhor tem medo de que o terrorismo atinja o Vaticano?
Eu temo um atentado, não sou um tolo otimista. Todos devem temer. Eu rezo pelo Papa Francisco, pela Itália, pela humanidade. Eventos trágicos que nos pareciam impossíveis, agora, são prováveis. Por muito tempo, fingimos não ver além das nossas fronteiras e não nos preocupamos com as matanças cotidianas que ocorrem na Síria ou no Iraque. Eu não desejo que ninguém viva com a ansiedade de se encontrar no momento errado, como é o fato de sobreviver, e não de viver, em Bagdá ou Cabul.
O senhor vai votar nas eleições presidenciais na França?
Claro, como sempre. E imagino que você vai me perguntar sobre o avanço da direita de Marine Le Pen...
Exatamente.
A Frente Nacional tem diante de si um espaço infinito para ganhar.
Hollande decepcionou?
Veja as pesquisas. Para os franceses, ele mais do que decepcionou.
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Uma mistura explosiva entre falsa bondade de Estado e fanatismo. Entrevista com Laurent Mazas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU