Tribunal dos EUA condena ex-militar chileno pelo assassinato do cantor Víctor Jara em 1973

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29 Junho 2016

Veredito abre caminho para extradição de Pedro Pablo Barrientos Nuñez ao Chile; viúva e filhas do artista devem receber indenização de US$ 28 milhões

A Corte Federal de Orlando, na Flórida (EUA), condenou nesta segunda-feira (27/06) o ex-oficial do Exército chileno Pedro Pablo Barrientos Nuñez pela tortura e execução do cantor Víctor Jara em 1973, durante a ditadura militar no país sul-americano.

Segundo a decisão, a viúva e a filha de Jara deverão receber uma indenização de US$ 28 milhões, cerca de R$ 92 milhões.

O veredito contra Nuñez, de 67 anos, foi divulgado após um julgamento que durou duas semanas.

A informação é publicada por Opera Mundi, 28-06-2016.

A decisão abre caminho para a extradição do ex-militar ao Chile, onde ele enfrenta acusações de assassinato relacionadas à sua atuação no regime ditatorial (1973-1990) imposto por Augusto Pinochet.

Joan Jara (centro), viúva de Víctor Jara, e suas filhas Amanda Jara e Manuela Bunster comemoram com equipe legal após veredito
 Foto: Agência Efe

De acordo com a acusação, Nuñez assassinou Jara a tiros em 16 de setembro de 1973 no Estádio Chile, em Santiago, que serviu como um centro de detenção em massa e de tortura no início do regime de Pinochet.

Nuñez fugiu do Chile em 1989 para os Estados Unidos, onde conseguiu a cidadania após se casar com uma mulher norte-americana.

Em 2012, uma ordem de captura internacional foi emitida para o ex-oficial e outros oito militares acusados pela morte de Jara. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, porém, não respondeu a um pedido chileno sobre a extradição de Nuñez ao país.

Segundo Kathy Roberts, diretora legal do CJA (Centro de Justiça de Responsabilidade), uma organização baseada na Califórnia e que representa a família de Jara, a condenação de Nuñez é um "passo no caminho à justiça".

“[A decisão] é um passo no caminho à justiça para nossos clientes e para Víctor, e também para muitas outras famílias que perderam alguém no Estádio Chile tantos anos atrás”, disse.


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“Apresentamos evidências que começaram a jogar luz no que aconteceu lá [no estádio], e esperamos que o processo continue no Chile e esperamos que os Estados Unidos extraditem Nuñez para enfrentar a justiça no país onde ele cometeu aqueles crimes”, complementou a representante do CJA.

De acordo com a viúva de Jara, Joan Jara Turner, a condenação “é o começo de justiça para todas aquelas pessoas, aqueles familiares no Chile que estão esperando para saber o destino dos seus amados, que estão esperando por anos e anos, como nós, buscando justiça [e] conhecimento”.

"Ele fugiu. Ele tem se escondido por tanto tempo, é hora de ele enfrentar aquilo [crimes] no Chile", disse a filha do cantor, Amanda Turner Jara.

Nuñez não fez nenhum comentário após o julgamento. Segundo seu advogado, Luis Calderon, o veredito deixou seu cliente “desapontado”.

“Vamos explorar todas as opções a respeito de apelação”, disse o advogado, que alegou ao júri que Nuñez vive uma situação financeira precária.

Além de cantor, Víctor Jara era diretor de teatro e professor na UTE (Universidade Técnica do Estado), a atual Universidade de Santiago.

Ele tinha 40 anos quando foi preso em 12 de setembro, um dia após o golpe que destituiu o então presidente Salvador Allende. Ele foi torturado e morto nas dependências do Estádio Chile. Seu corpo foi encontrado nos arredores do estádio, mutilado e com 44 tiros.

Centenas de alunos, trabalhadores e professores da UTE foram presos no estádio, que em 2003 foi renomeado Estádio Víctor Jara em homenagem ao artista. Estima-se que três mil pessoas morreram e pelo menos 28 mil foram torturadas durante os 17 anos de ditadura chilena.