29 Junho 2016
O Concílio pan-ortodoxo se revelou como um grande convite dirigido à Igreja inteira e a cada ser humano para fazer um êxodo a partir daquela que o arcebispo Anastasios da Albânia, no início dos trabalhos, definiu como "a maior heresia, a mãe das heresias: o egocentrismo, pessoal, coletivo, étnico, nacional e eclesial".
A opinião é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal Avvenire, 28-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Apesar das asperezas, no fim, prevaleceu de modo claro a vontade de buscar e perseguir a unidade até encontrá-la. Foi sempre o Patriarca Bartolomeu, no discurso final, que reconheceu isso com muita franqueza na frente de todos: "Houve dificuldades; nem tudo foi fácil e simples; houve asperezas, tensões, descontentamento, pessimismo sobre o resultado, mas, no fim, houve consenso, unidade de sentir, acordo, unanimidade. Todos juntos escrevemos a história!".
O Concílio, assim, pôde discutir e aprovar com unanimidade, com uma real participação de todos os bispos presentes, os documentos sobre os seis temas na pauta do dia e uma longa encíclica, que acrescenta a uma síntese do seu conteúdo um palavra evangélica de esperança dirigida ao mundo pelas difíceis situações que a humanidade está vivendo.
A partir dessa encíclica, depois, foi extraída uma mensagem sintética dirigida ao povo ortodoxo e a cada pessoa de boa vontade, lida solenemente no domingo, durante a liturgia eucarística conclusiva. Os Padres conciliares enfatizam nela que "a prioridade do Santo e Grande Concílio foi proclamar a unidade da Igreja Ortodoxa": não uma confederação de Igrejas autônomas, mas uma única Igreja.
O Concílio foi uma oportunidade para redescobrir essa verdade e quer ser "o primeiro passo" de um caminho conciliar que não deve terminar aqui: os Padres decidiram que concílios semelhantes serão convocados regularmente a partir de agora, "a cada sete ou dez anos".
A conciliaridade, de fato, é a dimensão própria da vida da Igreja e, por isso, deve voltar a se tornar a sua regra e não permanecer como um evento excepcional. Se, como afirmou o Concílio, "a Igreja não existe para si mesma", mas para o mundo, então a evangelização até os extremos confins da terra faz parte da sua razão de ser.
Mas, também nisso, o estilo do cristão exige um profundo respeito pela dignidade de todos: o diálogo continua sendo a via mestra também na busca do restabelecimento da unidade entre os cristãos e no conhecimento recíproco entre os fiéis das várias religiões. É o diálogo que "contribui de modo significativo para favorecer a confiança recíproca, a paz e a reconciliação".
Em suma, o Concílio da Igreja Ortodoxa dirigiu uma olhar amplo e pleno de misericórdia sobre o mundo, consciente de que ela nunca pode ficar fechada em si mesma, mas deve sempre caminhar ao lado dos homens e das mulheres de todos os tempos.
Nesse sentido, também vai a sintonia e a proximidade manifestadas aos patriarcas e bispos ortodoxos pelo Papa Francisco: não só através da presença como observadores do cardeal Koch e do bispo Brian Farrell, mas também com a constante recordação na oração, a ação de graças ao Senhor por esse evento do Espírito e o desejo de futuros passos de uma comunhão ainda mais ampla.
O Concílio se revelou como um grande convite dirigido à Igreja inteira e a cada ser humano para fazer um êxodo a partir daquela que o arcebispo Anastasios da Albânia, no início dos trabalhos, definiu como "a maior heresia, a mãe das heresias: o egocentrismo, pessoal, coletivo, étnico, nacional e eclesial".
Desviar o olhar de si e dirigi-lo para o Senhor da Igreja e do universo é o passo decisivo para nos redescobrirmos irmãos e irmãs em humanidade.
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A via conciliar. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU