Por: Jonas | 29 Abril 2016
Jornalistas do jornal La Nación do Paraguai se manifestaram, ontem, em frente às instalações do jornal, por causa da decisão da empresa em suspender as publicações de uma série de matérias sobre padres argentinos acusados de pedofilia e que receberam proteção eclesiástica da Igreja do Paraguai.
A reportagem é de Ruiz Olazar, publicada pelo jornal Clarín, 26-04-2016. A tradução é do Cepat.
Ao mesmo tempo, o jornalista Pablo Noé, o coautor da investigação, divulgou uma carta aberta, dirigida ao Papa Francisco, na qual ressalta: “Espero, Papa Francisco, que esta denúncia chegue em suas mãos e que se tomem providências. Nestas situações, não importam as questões supérfluas, nem as meias verdades. A única coisa que se pode fazer para banir tais práticas é seguir o caminho que você lançou, que peloo exemplo nos incentiva a continuar lutando contra a obscuridade na qual muita gente deseja manter a Igreja”.
Em outra parte da carta ao Papa, Noé diz: “Pela influência histórica, pela preponderância que você tem como líder mundial, pela necessidade de que os modelos a seguir sejam contundentes, rogo-lhe humildemente que possa dar uma olhada no trabalho de investigação publicado neste jornal. Estou convencido de que servirá como um esforço maior para fazer deste um mundo melhor, que é a mensagem que mais me impactou de seu pontificado”.
O protesto dos comunicadores ocorreu ontem, no Dia do Jornalista (no Paraguai). Trabalhadores da imprensa de outros meios de comunicação se juntaram à mobilização com cartazes e faixas como “Não à censura”, “Não à censura da Igreja obscura”, “Punição aos pedófilos”. O jornalista havia divulgado parcialmente a investigação. Na publicação era descrita o caso do sacerdote argentino Carlos Ibáñez Morino, denunciado em Bell Ville, Córdoba, por abuso sexual contra ao menos 10 jovens, em 1992.
Ibáñez Morino foi suspenso de suas funções pelo bispo de Córdoba, mas continuou exercendo como sacerdote no Paraguai até semanas atrás, quando seu caso foi ventilado por La Nación.
Tinha passado um tempo na prisão Tacumbú de Assunção, em 1995, mas sua extradição à Argentina foi rejeitada “por defeitos de forma”, segundo fontes judiciais.
O Sindicato de Jornalistas denunciou que o núncio apostólico (representante do Vaticano), dom Eliseo Ariotti, interferiu na direção do jornal para suspender as publicações “por ser inconvenientes” para a Igreja. A direção do jornal esclareceu, em seu momento, que não houve censura, “porque a série de notas sobre os sacerdotes que exerceram seu ministério em nosso país foi publicada e teve a reação esperada por parte das autoridades eclesiásticas”.
Hoje, Dom Ariotti se defendeu em declarações a jornalistas: “Contesto categoricamente que acobertamos (ao sacerdote) e que censuramos (a publicação)”, afirmou.
Disse que no domingo passado se dirigiu à direção do jornal La Nación para solicitar um direito de resposta porque o jornal publicou que a Nunciatura, sob sua responsabilidade, sabia do caso dos padres com antecedentes há mais de um ano, sendo que a informação lhe havia chegado recentemente, em fins de dezembro, disse Ariotti. “Pedi só a retificação disso e o jornal concordou. Publicou-se o esclarecimento e concordei”, expressou.
Esclareceu que nunca pediu a censura do trabalho de investigação e anunciou que a representação do Vaticano emitirá um esclarecimento nas próximas horas.
Com a repercussão do caso, o arcebispo de Assunção, dom Edmundo Valenzuela, pediu perdão aos fiéis católicos por ter permitido que um sacerdote argentino acusado de abuso contra menores continuasse exercendo o sacerdócio no Paraguai, com autorização falsa.
“Pedimos desculpas porque somos muito inocentes. No Paraguai confiamos muito nas pessoas, mais ainda quando são estrangeiras. É preciso aprender a ser mais perspicazes”, disse Valenzuela.
O jornalista Aldo Benítez, um dos autores da investigação, disse ao jornal Clarín que “dirigentes do jornal nos informaram que as publicações iriam parar por um tempo. Não disseram o motivo”.
“Após o tema se tornar público, pois as pessoas esperavam ler mais, outros meios de comunicação se manifestaram, porque que era evidente o que havia acontecido. Era uma série que se interrompeu. Para nós, prometeram que isto continuará”, disse Benítez.
O jornalista relatou que esteve em Bell Ville, cidade de Córdoba onde o padre Ibáñez exerceu seu ministério e onde foram reunidas a maioria das informações.
O jornal La Nación do Paraguai publicou uma foto extraída das filmagens da missa central, concelebrada pelo Papa Francisco, durante sua visita ao Paraguai, no último mês de julho. Na foto aparece Ibañez entre outros padres.
O arcebispo de Assunção reiterou que “existe tolerância zero” para estes casos dentro da Igreja.
Benítez recordou que, há pouco tempo, o sacerdote argentino Carlos Urrutigoity foi expulso da diocese de Ciudad del Este por antecedentes de abuso sexual contra menores nos Estados Unidos.
Em Ciudad del Este também viveu outro polêmico religioso argentino, o sacerdote Aldo Omar Vara, acusado de homicídio e torturas por seu papel durante a ditadura civil-militar argentina. Vara faleceu nessa cidade fronteiriça, no dia 5 de junho de 2014.
A investigação foi a primeira sobre casos de pedofilia no interior da Igreja, no Paraguai.
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Jornalista paraguaio escreve a Francisco sobre padres argentinos acusados de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU