22 Abril 2016
Durante a estada parisiense, Inácio de Loyola, e com ele Diego Laínez, aprenderam o valor pedagógico das celebrações acadêmicas e, em particular, das representações teatrais, que eram uma forma útil de exercício para os alunos.
Publicamos aqui um trecho do livro Diego Laínez (1512-1565) and his Generalate (Roma: Institutum Historicum Societatis Iesu, 2015).
O trecho refere-se a uma parte do artigo Il teatro dei Gesuiti dal 1548 al 1565, de Mirella Saulini, professora da Università di Roma “La Sapienza”. O artigo foi publicado no jornal L'Osservatore Romano, 14-01-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A semana de festividades que se seguiu à eleição do primeiro sucessor de Inácio de Loyola, Diego Laínez, foi concluída por "uma apropriada representação teatral".
Não podia ser diferente: há alguns anos, de fato, nos colégios da Companhia de Jesus, eram compostas, em sua maioria pelos mestres de retórica, e recitadas pelos alunos obras teatrais; a ocasião para a encenação eram tanto os momentos significativos do calendário escolar, quanto eventos que, como o citado, merecessem uma celebração particular.
Nascera assim o teatro dos jesuítas, que se distingue dos das diversas ordens religiosas, tanto pela sua estruturação e organização, quanto pela riqueza do repertório. Ao longo do tempo, à prática cênica, somaram-se problemas e discussões de poética que completam o valor cultural da produção e a inserem, de pleno direito, na história do teatro, não apenas do sacro: a produção, de fato, recolheu tanto a herança das representações sacras medievais, quanto a do drama clássico, antecipando, ao mesmo tempo, a espetacularidade do teatro barroco.
A tragédia Ecerinis (1314), de Albertino Mussato, marcou o início do teatro neolatino que permaneceu vivo por um longo tempo na Europa, mesmo nos países protestantes. Ele buscava os seus próprios sujeitos no Antigo Testamento, mas também no mito e na história. Também deve ser lembrado que, na França e em toda a Europa, amadureceu, no fim do século XV e início do século XVI, uma significativa experiência de teatro universitário.
E, no dia 2 de fevereiro de 1528, Inácio de Loyola chegou à França, em Paris, encontrando lá os primeiros companheiros e obtendo, em 1535, ano em que partiu da cidade, o título de mestre em Artes. Os dramas recitados nos colégios universitários mostravam exemplos de constância e coragem, queriam inspirar o desgosto pelos vícios e solidificar a fé, tinham um valor edificante que o teatro dos jesuítas assumiria.
Durante a estada parisiense, Inácio, e com ele Laínez, também aprenderam o valor pedagógico das celebrações acadêmicas e, em particular, das representações teatrais, que eram uma forma útil de exercício para os alunos.
Na chegada à Itália, os primeiros jesuítas aplicaram a lição parisiense: por exemplo, em 1552, em Ferrara, na abertura do ano escolar, recitaram-se poemas e orações; passou-se, depois, a formas mais elaboradas, e os diálogos foram intermediados por versos musicados; em 1556, em Bolonha, realizaram-se representações sacras por ocasião do Natal e da Páscoa.
Em 1554, no Colégio Romano, os oito dias de disputas acadêmicas inaugurais se concluíram provavelmente com um poema dialógico de Andrea Frusius, "De scientiarum honestate ac utilitate dialogus". No mesmo colégio, no dia 5 de novembro de 1564, iniciou com um diálogo a primeira premiação dos estudantes merecedores das classes de gramática, humanidade e retórica.
Poemas, orações e diálogos faziam parte do programa didático e formativo, e em ocasiões solenes se tornavam ato público; eles representaram a primeiríssima fase do teatro dos jesuítas, mas, já em 1555, em mais de um colégio, representavam-se dramas de assunto edificante.
Seria preciso chegar ao fim do século XVI e às primeiras décadas do século XVII, os séculos do máximo esplendor, para que o desenvolvimento desse teatro se consolidasse, graças também ao surgimento de autores de grande destaque.
Os historiadores já demonstraram amplamente que a Companhia não nasceu como ordem ensinante e que apenas as circunstâncias, não menos importante a necessidade de formar os membros da própria ordem, levaram Inácio na nova direção. Pode-se dizer que o caminho do teatro dos jesuítas anda de mãos dadas com a ampliação da rede dos seus colégios e que o número destes aumentou rapidamente em todo o mundo.
Assim se difundiu a atividade teatral, componente significativo da didática. Precisamente por causa do ser intrínseco ao "curriculum studiorum", seria a própria "Ratio atque institutio studiorum Societatis Iesu" a determinar estabelecer o seu estatuto, considerando-a como meio apto a estimular o empenho dos alunos.
A "Ratio" também lhe reconhece um modesto valor propagandístico, já que "as crianças podem mostrar no teatro alguns exemplos do próprio estudo, ação e memória".
A pessoa que se pretende formar nas escolas deve unir à fé e à integridade moral uma sólida cultura; o programa "incluía teologia e os casos de consciência que não eram disciplinas próprias de um currículo humanístico. O ensino dessas disciplinas [humanísticas] e línguas [latim, grego, hebraico], em meados do século XVI, era inseparável de uma espécie de fé no poder formativo do programa educativo dos quais eram expressão. O programa jesuítico era uma espécie dentro do gênero".
Mas o aluno, nem sempre destinado à vida eclesiástica, devia entrar no mundo possuindo os instrumentos necessários, em primeiro lugar o uso atento da palavra; daí a importância atribuída à retórica.
O teatro é um exercício escolar apto a satisfazer esse propósito, a mostrar ao público, para a glória do colégio, como esse propósito foi alcançado e a elevar espiritualmente – a partir do momento em que se escolhe um assunto sacro e honesto – o aluno ator ainda antes que o espectador.
O núcleo de significado do teatro dos jesuítas está claro desde o início e permanecerá inalterado ao longo do tempo: os eventos levados ao palco são manifestações do choque entre o Bem e o Mal, as duas forças que se combatem na alma da pessoa e no mundo como dois exércitos em guerra: seus comandantes são Deus e Satanás, o Cristo e o Anticristo.
No palco, a ação premia o Bem, para que seja demonstrada a necessidade de segui-lo para conquistar a vida eterna e para que alunos e público aprendam a praticá-lo.
É preciso dizer que a metáfora dos dois exércitos não é nova; da Carta de São Paulo aos Efésios até a meditação inaciana das duas bandeiras no quarto dia da segunda semana dos Exercícios Espirituais, ela pode ser considerada como um "topos" da literatura ascética.
Essa não é a única conexão que foi identificada entre a obra de Santo Inácio e o teatro: da "compositio loci" à subdivisão das contemplações que levam o exercitante a ver e a ouvir as pessoas em uma espécie de teatro sacro interior, até a teatrabilidade de exercícios individuais, muito no texto inaciano remete à cena teatral.
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O teatro pedagógico dos jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU